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Em defesa de Gabriella Montez

Sempre olhei para Gabriella Montez, interpretada por Vanessa Hudgens, com admiração. Ali estava uma jovem mulher que sabia quem era. Talvez não o tempo, ou desde o início da trilogia High School Musical, mas que sabia em que lugar gostaria de chegar na vida. Ao ser transferida, novamente, de escola, Gabriella decide se reinventar, mostrando uma nova versão de si mesma para seus colegas. Gabriella é uma mulher inteligente, como eu queria ser, e tinha os looks que gostaria de usar na vida, mesmo os vestidos ligeiramente bregas do primeiro filme.

Mesmo assim, para além do guarda-roupas de gosto duvidoso, eu a admirava por sua inteligência e pelo impacto que causou quando chegou na nova escola. Eu sempre fui uma estudante na média, nem tão ruim e nem tão boa, conseguia passar de ano. Mas eu olhava, e ainda olho, para a Gabriella como alguém que eu queria muito ter sido. Ou alguém que ainda posso ser. Uma inspiração para tentar ser tão cativante como a personagem foi nos três filmes de High School Musical. Como disse Troy Bolton (Zac Efron) no discurso da formatura dos Wildcats:

“It’s a place where one person, if it’s the right person, changes us all.”

“Um lugar em que uma pessoa, se for a pessoa certa, muda a todos nós.”

Gabriella chegou no East High, e encontrou uma escola como qualquer outra já apresentada nos filmes da Disney, com suas panelinhas e grupos divididos. Mas Gabriella não queria ser rotulada ou entrar em determinado grupo para se encaixar. Na nova escola, a protagonista viu a chance de se reinventar, não ser apenas uma coisa — e foi esse sentimento que acabou mexendo com as dinâmicas do East High, sendo a música “Stick to the Status Quo” inteirinha sobre as pessoas se manterem nos grupos dos quais sempre pertenceram e não se misturarem. Ao chegar na escola, com sua pequena revolução, Gabriella deu a oportunidade que Troy precisava pra descobrir que não era somente um jogador de basquete, o que foi o gancho perfeito para Zeke (Chris Warren) assumir que gostava de cozinhar, que puxou Martha (KayCee Stroh), uma típica nerd, assumir que ama dançar. E assim todo o East High foi mudando, ainda que algumas pessoas fossem resistentes à mudança e à ideia de que todo mundo poderia ser o que quisesse ser.

As pessoas que subestimam o poder de Gabriella, ou o roteiro de High School Musical, não parecem entender que toda a trama é justamente sobre sua chegada na escola e a mudança que opera nos colegas ao redor — seja na forma como enxergam a si mesmos ou a ela. Ao querer experimentar cantar numa audição, Gabriella também desafiou alguém que monopolizava o teatro da escola, Sharpay (Ashley Tisdale). Muitos haters da Gabriella argumentam que a personagem roubou o trabalho de uma vida toda quando se saiu melhor do que Sharpay nas audições, mas não é bem assim. Sharpay fazia o teatro da escola ser sempre sobre ela, e não soube aguentar quando teve uma competição de verdade. Isso me faz pensar que na vida de audições para a Broadway que ela tanto ama, a personagem não suportaria ter que competir com qualquer outro artista. Mas isso não é sobre Sharpay, ou sobre a rivalidade que existe entre os fãs da Sharpay e os fãs de Gabriella. Sharpay é uma ótima personagem, ainda mais quando as pessoas entendem como o arco dela funciona. Ela não é uma vítima. Ela é a antagonista, simples assim, que até recebe arcos de redenção do roteiro, mas sempre acaba voltando a ser como era antes.

E mesmo com Sharpay sempre tentando ser superior a Gabriella, buscando atingi-la de todos os jeitos, Gabriella nunca se deixou levar pela atitude de Sharpay, sempre se mostrando educada e aberta ao diálogo. A única vez em que Gabriella se incomodou de fato com algo que Sharpay fez, foi quando as atitudes dela afetaram os Wildcats, principalmente o Ryan (Lucas Grabeel). É somente nesse momento, pelos amigos e não por Troy, que Gabriella se levanta contra Sharpay — não pelo namorado, pois ambos estão seguros e cientes do que sentem um pelo outro, mas pelos amigos.

Para mim, Gabriella é um símbolo de mudança que, ao chegar o East High, sabia quem queria ser, quais eram seus ideais e princípios, sempre lutando por eles e por seus amigos. É como se a personagem trouxesse consigo o espírito de mudança e união, colocando esportistas, nerds e artistas para trabalharem juntos, sentindo-se confortáveis o suficiente para cumprimentarem uns aos outros nos corredores do colégio. Gabriella representa a força da jovem mulher que sabe quem quer ser e que, depois de encontrar seu caminho, não se importa mais com o que os outros possam pensar dela. Após tantas mudanças de colégio, tentando se encaixar, ela se encontra e sabe onde pertence. Não é isso que todos nós queremos? Pertencer a algo, algum lugar, a alguém?

A personalidade de Gabriella é incompreendida por quem não gosta da personagem. A força dela está justamente em ser sutil, em não passar por cima de ninguém,  não procurar chamar a atenção mesmo que a receba de todos mesmo assim. Ela é inteligente e sabe que é inteligente, cativante e uma amiga fiel. Do jeito dela, acredito que Gabriella consegue representar muitas meninas por aí que não estão sob os holofotes, mas estão ali no cantinho da festa com um livro na mão, muito tímidas inicialmente, mas que se revelam maravilhosas para quem chegar mais perto e souber apreciar a presença. Outra coisa que vejo muito em Gabriella, e gosto de pensar que em mim também, é o quanto ela é uma sonhadora romântica. Mesmo com os pés no chão, em seus solos muito mal apreciados pela maioria, sempre existem referências que demonstram a romântica sem causa que Gabi é.

Em High School Musical 3: Ano da Formatura, por exemplo, ela tem uma pequena crise de identidade, onde quer que tudo pare porque o relógio está correndo muito rápido; ela quer seguir seu caminho, quer que Troy faça o mesmo mas, ao menos uma vez, quer fazer algo que ninguém espera dela. Não queria correr para seu futuro, queria viver o aqui e agora. Ela quer, por um momento, estar com quem ama e curtir o finalzinho do ensino médio mesmo sabendo que tinha passado para um curso de verão na faculdade dos sonhos dela (e da mãe), Stanford. Para muitos seria uma escolha um tanto quanto fora dos “padrões empoderados”, dividindo opiniões a nível Rachel ficando em Nova York no episódio final de Friends. Por fim, ela foi para a faculdade que sempre quis, e quem mudou os planos para ficar pertinho do amor da vida dele foi Troy, que escolheu o basquete e o teatro, e também a pessoa que inspira o coração dele.

Sempre quis encontrar meu lugar igual a Gabriella encontrou nos Wildcats. Não digo exatamente no East High, porque o ensino médio acaba. Falo do pertencimento ao grupo. Gosto de imaginar que eles formaram aquela família de amigos que mesmo distantes, se mantêm ali no coração, continuam conectados. E eu sempre quis amigos assim. Como já mencionei, acredito que Gabriella é a alma de todo o grupo e me entristece que as pessoas não entendam isso. Só dela ter que se ausentar para o curso de verão na faculdade, já deixou os Wildcats (Troy que o diga) tristinhos, e quando ela volta no grande dia da peça todos vão a cumprimentar.

Gabriella não chegou ao East High para atrapalhar a carreira de vida de alguém, ela se encontrou naquela escola. Seguiu o caminho que escolheu para ela, e também encontrou no meio desse caminho, amigos e um amor que no coração de quem torceu por #Troyella, teve um final feliz e uma vida feliz juntos mesmo depois que as cortinas se fecharam.