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Corte de Espinhos e Rosas: será que Rhysand é mesmo tudo isso?

É inevitável imergir na saga Corte de Espinhos e Rosas, de Sarah J. Maas, e não acabar se apaixonando por Rhysand em algum momento. Em certo ponto das mais de duas décadas de minha experiência como leitora de romances, percebi que o padrão do mocinho salvador, na maioria das vezes, tem um toque sutilmente egoísta e abusivo (sim, Tamlin, estou olhando para você). Talvez por isso seja tão ridiculamente fácil se apaixonar por Rhys.

Atenção: este texto contém spoilers!

Os livros da saga ACOTAR são, sem dúvida, uma montanha russa de emoções. Confesso que no primeiro livro, eu, assim como Feyre, achava adoráveis os esforços de Tamlin para protegê-la, até que isso  começou a me incomodar. Do mesmo modo, não sentia nada por Rhysand além de raiva e desprezo até ele se mostrar mais sensível ao final do primeiro livro, e logo no começo do segundo, comecei a me afeiçoar pelo até então vilão. Durante Corte de Névoa e Fúria, me perguntava os motivos de estar invertendo os sentimentos de Espinhos e Rosas, e por quê aquilo parecia errado. A verdade é que nunca foi errado, apenas é difícil aceitar que um dia um dia você foi cega o suficiente para ter carinho por uma relação abusiva, mesmo que fictícia.

Ao longo do segundo livro, a autora dá ênfase ao ponto de vista de Rhysand, contando sua história, apresentando ao leitor o círculo íntimo do personagem e mostrando que Tamlin não é tão bonzinho quanto tenta parecer. Ao contrário do mocinho amoroso e protetor que se mostrava em Corte de Espinhos e Rosas, o Grão-Senhor da Corte Primaveril é egoísta e abusivo. E Rhysand… Ah, Rhysand. A reviravolta na história, desde o momento em que ele resgata Feyre de um casamento que tinha tudo para se tornar mais um trauma, mostrou que o que basta para ser o “mocinho” da história de alguém é ser apenas uma pessoa decente.

A autora não quis apresentá-lo como um príncipe encantado detentor de toda a educação do mundo, aquele personagem perfeito que estamos acostumados a ver em livros de fantasia/romance. É claro que Rhysand é lindo, carinhoso, um líder bondoso com sua corte e querido por todos, além de ter certos poderes que o diferenciam dos demais. Mas para além disso, é um personagem cheio de traumas, que fez muita coisa errada e assume os próprios erros, e jamais sacrificaria seus amigos em troca do que quer que fosse (não é preciso recorrer a medidas extremas quando você é esperto o suficiente para jogar o jogo do inimigo).

Sabemos que defender e proteger a personagem principal é um pré-requisito para ser um mocinho literário. Mas isso não quer dizer manter a mocinha em cárcere privado e a impedir de fazer o que gosta por medo de perdê-la. Afinal, quando você deixa a essência de alguém ir embora, você já está perdendo a pessoa que ela era quando a conheceu. Rhys não se importa se Feyre quer cavalgar mata adentro, ver qualquer pessoa que desejar, aprender a lutar e dominar os poderes que foi obrigada a ter para voltar à vida. Do contrário, ele a incentiva a ser ela mesma, a ser feliz, por que ele a ama genuinamente. A ama a ponto de aceitar perdê-la, se aquilo a faria mais feliz do que viver com ele. Mas isso não é o mínimo?

“Tudo que eu amo sempre teve a tendência de ser tomado de mim.”

Sim, é o mínimo, e ele sabe disso, e por isso fica tão irritado quando Tamlin sequer pensa em levar Feyre de volta para sua corte; por isso se preocupa quando ela volta para a Corte Primaveril, mesmo que temporariamente, apenas para ajudar nos planos da Corte Noturna. Não é estranho acharmos que fazer o mínimo é tão sensacional assim? Acabamos nos contentando com tão pouco que nossa idealização de amor romântico é apenas o básico, quando deveria ser algo tão grandioso.

Existe uma pressão social tão grande contra ser solteira depois dos vinte e poucos anos, que algumas pessoas se sentem praticamente obrigadas a conviverem com alguns Tamlins ao longo da vida. Acredito que com um pouco mais de autoconhecimento e noções mais profundas da sociedade, o mínimo que se aceitaria de um parceiro romântico, seria um Rhysand.

Bianca Smiderle Lemos é jornalista em formação, apaixonada por cultura pop e viciada em dar pitaco em tudo desde criança. Aquela totalmente de humanas que pode dar uma palestra sobre qualquer assunto, mas se assusta com um cálculo simples de matemática básica.


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2 comentários

  1. Eu quando li tinha 17, caí totalmente no papo do Tamlin. Eu via algumas coisas que me causavam estranhamento no comportamento dele, mas aí ele parecia tão bom, tão amoroso, que eu acabava ignorando essas coisas desagradáveis, acabava inconsciente e as vezes conscientemente relevando, justificando. Aí eu quebrei de vez a minha cara no segundo livro.
    Eu amava tamlin como a feyre, e odiava o Rhys.
    Mas depois, assim como a feyre, eu agonizei com os comportamentos dele. Não foi algo que surgiu do dia pra noite. Era algo que sempre esteve lá, uma podridão.
    E quanto mais eu conhecia do Rhys, mais perfeito eu achava ele e mais apaixonada eu ficava, mas muito do que o Rhys faz durante o livro, é o mínimo mesmo, o básico, condizente com alguém que diz te amar. O que o Rhys mostra é o básico que qualquer relação deveria ter. Respeito pelas vontades do outro. Respeito com liberdade do outro. Isso é amor, e é parte do que faz um relacionamento ser saudável.

  2. Pra mim, meus padrões de como um relacionamento deveria ser foram bastante elevados, não só isso, como também me ensinou que não merecemos menos do que alguém que seja um Rhys. Eu aprendi muito sobre o que eu mesma procuro em um relacionamento. Me tornei mais consciente do tipo de coisa que eu posso aceitar e não posso. Do tipo de coisa que busco em relacionamentos românticos.

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