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A Sociedade Supersecreta de Bruxas Rebeldes: magia e found family

Mika Moon é uma bruxa e, como tal, precisa seguir três regras primordiais: esconder sua magia, viver sem chamar atenção e se manter distante de outras bruxas para que a união de tantos poderes não cause um acidente mágico. Como parte da Sociedade Supersecreta de Bruxas — nome que ela mesma deu ao grupo de bruxas do qual faz parte —, Mika precisa se manter dentro da linha de maneira a não causar perturbações com sua magia, mas ela sempre teve o anseio de fazer parte de algo, de pertencer.

Ela e as demais bruxas da Sociedade Supersecreta só se encontram por pouco tempo, e nunca no mesmo lugar por mais de duas vezes, para evitar que sua existência seja descoberta por pessoas comuns. As bruxas são proibidas de compartilhar sua magia com o mundo, e essa é apenas uma das várias regras impostas por Primrose, a bruxa mais velha do grupo. Como órfã, Mika está acostumada a viver sozinha, mas isso não significa dizer que ela goste de sua solidão. Portanto, para tentar diminuir o aperto que sente no peito por não poder compartilhar a vida e a magia com outras pessoas, Mika Moon decide criar uma persona para as redes sociais, compartilhando vídeos dela mesma, como uma bruxa de mentira, fazendo vídeo e poções.

“Você merece mais do que está se permitindo ter.”

A ideia de Mika era a de se esconder em plena vista, mas no interior da Inglaterra, um ator aposentado descobre sua identidade e envia um apelo: será que Mika poderia se tornar tutora de três bruxinhas que vivem com ele, por favor, e o ajudar a controlar seus poderes? Em um primeiro momento, Mika não acredita totalmente na mensagem que recebe, mas a magia que a cerca dá um empurrãozinho e a faz decidir que não há problema em pelo menos verificar a situação. E é assim que Mika Moon acaba colocando todos os seus pertences em seu carro, o Vassoura Voadora, junto de sua golden retriever, Circe (e um lago de carpas, e uma estufa repleta de plantas), e parte para a Casa de Lugar Nenhum, onde as bruxinhas vivem, para uma jornada que mudará sua vida por completo quando decide ajudar as meninas, o que significa quebrar as três regras que a guiaram por toda a vida.

E assim tem início A Sociedade Supersecreta de Bruxas Rebeldes, livro escrito por Sangu Mandanna, publicado pela Galera Record com tradução de Mel Lopes. Com uma escrita ensolarada e espirituosa, a autora constrói uma narrativa que, de fato, parece um abraço quentinho, nos levando pela jornada de Mika Moon e das três bruxinhas em busca de pertencimento, entendimento da própria identidade e da cura. A autora faz com que conforto e aconchego transbordem pelas páginas como se fosse mágica, arrancando sorrisos e risadas verdadeiras durante a leitura. A história que Sangu Mandanna constrói é repleta de amor, carinho e gentileza, salpicada de bom humor e bons momentos, emocionando sem se tornar piegas, mostrando como basta um pouquinho de amparo e cuidado para mudar vidas inteiras.

Sociedade Supersecreta de Bruxas Rebeldes

E é isso o que acontece com Mika Moon quando ela chega na Casa de Lugar Nenhum. Se a princípio sua função era a de ensinar as três bruxinhas — Altamira, Rosetta e Terracota — a compreenderem a dádiva de seus poderes, protegendo-as de si mesmas e do descontrole de sua magia, logo o contrário também acontece e Mika começa a aceitar que ela também foi feita para muito mais do que viver sozinha, em reclusão por ser quem é. Com muita gentileza e humor, percorremos a jornada de Mika enquanto ela ensina as bruxinhas e se relaciona com os demais moradores da Casa de Lugar Nenhum, abrindo seu coração para uma nova experiência.

Não espere por grandes reviravoltas em A Sociedade Supersecreta de Bruxas Rebeldes, esse não é nem de longe o foco do livro. A trama aqui funciona porque é uma história sem grandes pretensões de chocar e é construída aos poucos, com uma bruxa solitária que encontra um lar e uma família quando menos espera. Enquanto protagonista, Mika Moon é a definição de raio-de-sol, visto que, para ela, sempre é possível encontrar o lado bom da vida — diferente de Jamie, o bibliotecário meio rabugento que protege as bruxinhas e a Casa de Lugar Nenhum com unhas e dentes. Há motivos para Jamie se comportar dessa maneira, desconfiado da personalidade ensolarada de Mika, mas, aos poucos, ele se deixa envolver por ela, construindo uma amizade pautada em pequenas implicâncias que logo se transformará em algo mais. O foco do livro não é o amor romântico, mas a maneira como Sangu Mandanna constrói cada aspecto da narrativa transforma tudo de forma leve e fluída.

“Nem sempre basta ir atrás do nosso lugar no mundo (…). Às vezes precisamos criá-lo.”

Ainda que A Sociedade Supersecreta de Bruxas Rebeldes seja fofíssimo do início ao fim, ele não deixa de ser um livro adulto. A temática fofa e de found family vai te deixar com o coração quentinho, e a sensação agradável perdura mesmo depois da leitura da última página. Todos os personagens d’A Casa de Lugar Nenhum são adoráveis e fazem parte dessa família encontrada com muito amor, trazendo características únicas para esse caldeirão mágico. Para além de Mika Moon, é claro que o destaque fica para as três bruxinhas: Sangu Mandanna as escreve de maneira verossímil, com comportamentos e falas tipicamente infantis, detalhes que quem convive com crianças pequenas poderia esperar ouvir em uma conversa rotineira. Altamira, Rosetta e Terracota são crianças e agem como tal, com seus comentários e brincadeiras tipicamente infantis. As bruxinhas, assim como Mika, são personagens não brancas, nascidas em diferentes locais do mundo, e autora insere esses detalhes em sua narrativa ao falar sobre pertencimento e a busca por sua própria identidade, o que é sempre adorável de acompanhar.

A magia salpica a narrativa em todas as páginas, mostrando que, quem sabe, Mika Moon não seja a única bruxa escondida em plena vista. Sangu Mandanna tem o dom de acalentar com suas palavras, construindo uma trama repleta de amor, bondade e magia que te deixará com o coração cheio de carinho.

“É um salto de fé amas as pessoas e se permitir ser amado. É fechar os olhos, pular de um penhasco e acreditar que vai voar em vez de cair.”

O exemplar foi cedido como cortesia pela Editora Galera Record.


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