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Fifth Harmony: give it to them, they’re worth it

No quesito música, meu gosto é bem instável. No sentido de quando não estou ouvindo bandas indies que ninguém conhece (ou, se conhecem, acham mais ou menos ou nem curtem), estou por aí cantando os pops virais (e só porque todo mundo conhece, não haveria eu de escapar). Sorte minha ter contatos antenados nas novidades musicais, que acompanham tudo em primeira mão, compartilham com o mundo suas descobertas e elas chegam até mim. Foi por meio dessa conexão maravilhosa que conheci Fifth Harmony, girl group formado por cinco integrantes — Ally, Camila, Dinah, Lauren e Normani — saído fresquinho da segunda temporada do X Factor.

Aproveito para confessar que não tenho o costume de acompanhar reality shows, e a parte deste texto relacionada à formação do grupo foi produto de uma grata pesquisa. Depois de algumas horas imersas em artigos de portais sobre música pop e vídeos do YouTube, descobri que em 2012 as cinco eram apenas meninas de origens diferentes que tinham o sonho de se tornarem cantoras. Essas cinco meninas se inscreveram no X Factor para mostrar seus talentos. Lá elas se conheceram e, percebendo que seriam mais promissoras juntas do que separadas, o girl group Fifth Harmony nasceu.

A cada apresentação o grupo impressionava de uma nova maneira, e apesar de não terem ganhado o primeiro lugar no programa, por meio dele elas começaram a alcançar a fama. As meninas assinaram um contrato com a gravadora de Simon Conwell e de L.A. Reid e estão firmes e fortes na indústria.

Depois de terem saído do X Factor com o terceiro lugar, em 2013 lançaram um EP com seis faixas, intitulado Better Together, o qual considero uma trilha sonora divertida para momentos aleatórios. Cinco músicas falam sobre relacionamentos, passando pela fase da conquista, do coração partido e da superação, não necessariamente nessa ordem; e uma, “Me and My Girls”, fala sobre nada menos do que amizade feminina. Elas fizeram uma versão acústica, uma versão em espanhol, e uma versão acústica em espanhol para esse EP, tamanho foi o sucesso inicial dele.

Mal sabíamos que coisa melhor estaria por vir. Reflection, o primeiro álbum de estúdio das meninas, foi lançado em 2015, contendo 14 faixas na versão deluxe. E é, também, o álbum que me fez curvar ao trabalho delas, reunindo um trabalho mais maduro, descontraído e menos pop do que o lançamento de estreia. As faixas falam um pouco de romance, um pouco de confiança e muito sobre empoderamento feminino. Sempre que a autoestima está lá embaixo, Reflection é um álbum perfeito para recorrer — testado e aprovado por essa que vos escreve.

Confesso que demorei um pouco para entender o single de estreia, “BO$$”, mas depois de escutar a música algumas vezes dá para distinguir os nomes de Michelle Obama e Oprah sendo repetidos várias vezes no refrão. Então tudo faz sentido: a música é praticamente uma ode sobre mulheres no poder, mulheres que são capazes de alcançar cargos de chefia e merecem respeito por seus méritos. O segundo single, “Sledgehammer”, é uma música que fala sobre amor, amor naquela fase intensa que altera os batimentos cardíacos. É uma música dançante, enérgica. “Worth It”, terceiro single e possivelmente a faixa mais popular do álbum, segue a mesma linha de muita autoconfiança de “BO$$”, e é uma música um tanto provocante que cruza a capacidade pessoal com o flerte.

Das outras músicas do álbum, faço menções honrosas a “Like Mariah”, uma música romântica, que homenageia a grande diva do R&B, Mariah Carey, com a alusão a “Always Be My Baby”, e “Brave Honest Beautiful”, que, na minha humilde opinião, é uma faixa obrigatória na playlist de todas as meninas. Isso porque nos dias em que você estiver duvidando de si em todos os sentidos, essa é a música que vai te colocar para cima com versos animados, lisonjeiros e incríveis, e vai lembrar que você pode dançar como a Beyoncé, rebolar como a Shakira, e tudo porque você é corajosa, você não tem medo e você é linda. Mas as demais faixas não ficam atrás, vale escutá-las para tirar as próprias conclusões.

Por último, mas não menos importante, tivemos uma breve visualização de como será o próximo álbum do Fifth Harmony, 7/27 (título que faz referência à formação da banda), com o single “Work From Home”, que já se tornou uma das minhas músicas favoritas da discografia inteira. No entanto, chamo a atenção especialmente para o amadurecimento gradual da imagem delas.

Desde “BO$$”, os clipes de Fifth Harmony escolheram transmitir o empoderamento das músicas por meio de coreografias elaboradas, figurinos marcantes e um toque de sensualidade, contando às vezes com a presença de modelos masculinos para complementar os temas das músicas. Lembro que uma vez ouvi comentários falando o quão inapropriado era o conceito do clipe considerando que elas são apenas adolescentes — um tipo de crítica que a gente pode prever considerando a visão machista que ainda predomina em grande parte das mentes.

No entanto, na minha concepção o grupo está amadurecendo a imagem de forma natural a cada lançamento, e somos nós que não estamos acostumados com isso. Afinal, nem todas as artistas que conhecemos utilizam conceitos igualitários tão nítidos em seus clipes. Em “Worth It”, um painel passa a mensagem nada subliminar que “Feminism is Sexy”, e em “Work From Home”, construtores gostosos foram usados da mesma maneira que as modelos são em clipes de homens, mas nem por isso cria-se um alarde.

Para o lançamento de “Better Together”, as meninas assumiram uma imagem bem divertida, com bastante combinação de cores vibrantes nas roupas, e um clima bem adolescente. Na transição da fase entre o EP e o álbum, as meninas deixaram de assumir a imagem de adolescentes e começaram a assumir a imagem de mulheres. Elas se mostraram muito mais confiantes e ousadas na hora de cantar e incorporar a mensagem das músicas.

Elas não economizam talento e rebolado nas coreografias, e, sinceramente, nem deveriam. Elas também não devem ter suas personalidades julgadas por causa das músicas que cantam ou dos clipes. Quem assistiu ao menos a uma entrevista ou as acompanha nas redes sociais sabe como todas tiveram uma ótima educação e sabem bem o que estão defendendo. É claro que, fora das câmeras, ainda são meninas e, como todas nós, têm seus sonhos e inseguranças e nem sempre sabemos o que estamos fazendo.

Pop é o meu gênero musical favorito, mas até algum tempo atrás eu achava que havia superado a fase de me entusiasmar com boy e girlbands. Ledo engano. Não só tenho descoberto grandes prazeres ouvindo os lançamentos recentes de artistas para quem eu torcia o nariz quando era adolescente, como tenho defendido a importância desse gênero tanto na indústria quanto nos nossos dias. Nós não precisamos escolher a forma mais erudita para transmitir a mensagem de algo que consideramos importante. A vida pode ser tão difícil que é essencial termos músicas que transmitam aquela vibe why so serious? para mostrar que não precisamos de total aprovação para cantar sobre algo que acreditamos.