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A Mãe da Noiva, com Brooke Shields: romance e comédia em equilíbrio

Aposta da Netflix para a comédia romântica em 2024, A Mãe da Noiva, com Brooke Shields e Benjamin Bratt nos papéis principais, é uma grata surpresa no catálogo do streaming e, sem deixar o clichê de lado, cumpre à perfeição todos os requisitos do gênero.

Lana Winston (Shields), uma médica e pesquisadora renomada, é surpreendida pela filha, Emma (Miranda Cosgrove), ao saber que está noiva de um rapaz que sequer conhecia. Para além das expectativas frustradas em relação ao futuro da filha, que parece querer trilhar o próprio caminho sozinha, a surpresa maior é descobrir que o noivo, RJ (Sean Teale), é o filho de um antigo amor, Will (Bratt).

Assim, da noite para o dia, enquanto lidam com todas as questões de um casamento rápido e super planejado de Emma, uma influenciadora em ascensão, Lana e Will são obrigados pela ocasião a colocar em perspectiva tudo o que parecia ter ficado no passado, quando ainda estavam na faculdade. Mal entendidos, sentimentos mal resolvidos e algum rancor fazem parte do pacote para ambos, porém, eles concordam em deixar seus sentimentos de lado em nome do fato de estarem para se tornar família.

Segunda obra de Brooke Shields em parceria com a Netflix, marcada pelo papel no questionável em A Lagoa Azul (1980), A Mãe da Noiva coloca a atriz em um lugar de muito mais conforto ao retratar uma personagem de sua própria idade, lidando com questionamentos e dúvidas proporcionais, embora a presença de um romance do passado dê a ela alguma inquietude e imaturidade compreensíveis.

Mais carismática do que a própria filha, o que pode ser proposital para deixar clara sua experiência em relação a outra, Lana tem receios de dar um passo para o futuro com um homem mais novo (Chad Michael Murray), bem como de mergulhar de vez em um passado que, mais e mais, vai se revelando dolorido e repleto de percalços: Will foi alguém que a marcou e a machucou na mesma medida, de forma que retornar às suas promessas parece irresponsável e impensável. Dirigido por Mark Waters, responsável por Meninas Malvadas (2023), Sexta-Feira Muito Louca (2003) e E Se Fosse Verdade (2005), a produção imprime um clima muito parecido com Mamma Mia (2008) ao abordar o relacionamento de um casal na casa dos cinquenta anos em detrimento do que seria o óbvio e eternamente retratado: o casal pronto a jurar amor eterno em um local paradisíaco.

Sem a trilha-sonora do ABBA, A Mãe da Noiva é efetivo ao contar com o reencontro de um carismático grupo de amigos que, claramente, precisava de um tempo em um lugar perfeito, tomando alguns drinks, passando os dias em roupa de praia, longe da preocupação das responsabilidades, o que torna a perspectiva do filme muito mais “fresca”, quando comparado a outros do gênero. Encabeçados pela ótima Rachel Harris, de Suits e Lúcifer, eles dão leveza à produção e demonstram como há diversão mais despreocupada para uma geração que já viveu muito — e, principalmente, fez tudo o que podia antes da época das redes sociais. Menos preocupados e mais confiantes, na medida do possível, “os adultos” se mostram um núcleo interessantíssimo de ser dissecado, assim como o casal principal que, como na primeira vez, sofre do mesmo tipo de desencontro que os separou no passado. Dessa vez, no entanto, eles estão prontos para remediar o que ficou para trás e dar o passo seguinte, embora a maturidade de saber que podem errar nessa tentativa seja o mais charmoso entre Lana e Will. Há tranquilidade no saber, ainda que haja insegurança, o que pode parecer paradoxal à primeira vista, embora este, talvez, seja o segredo de tudo.

Um clichê inofensivo, divertido, que carrega algo diferente a ser visto e refletido, especialmente pelo roteiro bem alinhavado e perfeitamente equilibrado entre romance e comédia, além do elenco totalmente à vontade encabeçado por Brooke Shields — que, não à toa, aproveita a alta do gênero para se firmar ante uma nova geração e um novo formato de “cinema” —, A Mãe da Noiva, definitivamente, é um exemplo a ser seguido por outras comédias românticas atuais.