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Demônios e velho oeste: porque você deve assistir Wynonna Earp

Uma das coisas de que mais gosto de fazer nessa vida (depois de ler, comer e dormir, não necessariamente nessa ordem) é assistir seriados. Sendo assim, estou sempre em busca de novos títulos que agucem minha curiosidade, me entretenham e que, por que não, tenham protagonistas femininas chutadoras de bundas. Em uma das minhas andanças pelo TVShow Time, procurando por algo que reunisse todas essas coisas e um pouquinho mais, encontrei Wynonna Earp — e eu não poderia ter sido mais feliz.

Wynonna Earp é uma série de terror/sobrenatural baseada nas histórias em quadrinhos de Beau Smith. A adaptação para TV é produzida e dirigida por Emily Andras — conhecida por Lost Girl e Killjoys — e conta com treze excelentes episódios em sua temporada de estreia que entrou no ar, nos Estados Unidos, no último mês de abril pelo canal Syfy. Agora que vocês já sabem os pormenores televisivos, acho de bom tom contar o enredo antes de me aventurar a dizer os motivos pelos quais você deve assistir a esse seriado.

Wynonna, interpretada por Melanie Scrofano, tem uma descendência que a torna singular: ela é tetraneta de umas das figuras mais conhecidas das histórias do Velho Oeste norte-americano, Wyatt Earp. Em sua história real, Wyatt — e seus companheiros Doc Holliday, Virgil Earp e Morgan Earp — transformaram-se praticamente em lendas por terem se envolvido em diversos grandes acontecimentos daquela época, desde sobreviverem a tiroteios impossíveis a serem xerifes implacáveis. De seu tetravô famoso Wynonna herdou uma história de família conturbada e uma arma especial capaz de eliminar demônios (não confundir com a Colt, dos Winchesters de Supernatural), a Peacemaker.

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Wynonna Earp (Melanie Scrofano)

Fugida de sua cidade natal, Purgatório, assim que atingiu a maioridade, Wynonna não planejava voltar tão cedo, mas um acontecimento maior do que ela — a morte de seu tio mais querido — a faz retornar. Com 27 anos recém completos e um passado que prefere esquecer, Wynonna se vê envolvida em uma série de eventos sobrenaturais quando retorna para Purgatório e, sem ter como correr mais uma vez de seu destino, aceita como sua a missão dos Earp e toma a Peacemaker nas mãos para eliminar os 77 demônios que pretendem destruir a linhagem de sua família e escapar de Purgatório para o mundo.

Os tais 77 demônios eram homens e foram mortos antigamente por Wyatt Earp com a Peacemaker e quando o herdeiro da vez completa 27 anos, eles retornam para atrapalhar o delicado equilíbrio de Purgatório. Antes de Wynonna, seu pai foi responsável por eliminar os 77 demônios, mas agora eles estão de volta e cabe à ela dar continuidade ao legado da família impedindo que as criaturas fiquem a solta no mundo. Claro que tem um pouco mais de história a ser escavada disso tudo mas quero evitar ao máximo os spoilers para que sua experiência ao assistir à série seja a melhor possível.

Felizmente Wynonna não precisa lidar com essa loucura toda sozinha e pode contar com a ajuda de sua irmã mais nova, Waverly Earp (Dominique Provost-Chalkley) que é nada menos do que incrível com uma espingarda, Agente Dolls (Shamier Anderson) que faz parte da Divisão de Pesquisas Paranormais do governo norte-americano, e um misterioso Doc Holliday (Tim Rozon) que retorna dos mortos junto com os demônios, mas não deixa claro, no início, de que lado da luta ele está. 

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Waverly Earp (Dominique Provost-Chalkley)

Mesmo que, em um primeiro momento, a história não pareça uma das mais inovadoras, o diferencial de toda a trama está, de fato, em sua protagonista e as relações que ela constrói. Wynonna usa uma jaqueta de couro estilosa e com franjas, carrega sua arma por aí, adora um uísque e, com sua língua ferina, é rápida nas respostas engraçadinhas e sarcásticas. Além de tudo isso, ela é realmente maravilhosa em seu trabalho mesmo que, de início, não esteja satisfeita ou confortável com essa posição de “a escolhida”. A Wynonna da série é descrita na internet como a adorável filha de Jessica Jones (Krysten Ritter) e Bo Dennis (Anna Silk), e afilhada de Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar) o que significa dizer, basicamente, que a mulher é maravilhosa e chuta bundas como ninguém.

O que me chamou a atenção quando li sobre a série — ademais todo o enredo demoníaco que adoro — é o fato de que uma mulher esteja protagonizando uma história de velho oeste sobrenatural. Ambos os gêneros, velho oeste e sobrenatural, são massivamente dominados por protagonistas masculinos, então é um sopro de frescor poder acompanhar Wynonna liderando uma série do tipo e sendo dona da própria trama. Nesse enredo Wynonna não é uma donzela em perigo ou o sacrifício exigido, ela é a heroína, ela é escolhida, e é ela quem toma todas as decisões importantes. Wynonna conduz a trama e jamais é conduzida por ela — e isso é muito bom de acompanhar.

Além de tudo isso, é muito fácil gostar de Wynonna e torcer por ela. Enquanto uma personagem completa e complexa, com uma história interessante para contar e motivações críveis, ela é uma personagem divertida, inteligente e feroz, que não se leva muito a sério e faz piadas e tiradas em momentos inesperados (como, por exemplo, quando está perseguindo um demônio em uma balada). E, o melhor, ela é feminista de uma maneira simples, de um jeito que não é didático ou forçado. Ela apenas é. Seu feminismo não está em um discurso, em uma maneira de ensinar a audiência ou apenas para se fazer valer da popularidade de um movimento que cresce mais a cada dia. Suas atitudes empoderadas só nos mostram que ela é um modelo feminista, mas sem se esforçar para ser. Ela é o que ela é — e isso é o suficiente, não há necessidade de didatismo como, por vezes, acontece em Supergirl.

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Wynonna Earp (Melanie Scrofano)

Enquanto coloca uma mulher como líder de uma caçada aos demônios, como protagonista de sua própria história, a série sai ganhando muitos pontos positivos. Em tempos difíceis para mulheres na televisão (o cancelamento de Agent Carter fica aí de lembrete) é sempre muito bom encontrar um seriado de qualidade que tenha mulheres empoderadas e no domínio dos próprios destinos. E quando digo isso não me refiro apenas à protagonista: Waverly, por exemplo, é tão forte e incrível quanto sua irmã mais velha e, embora pareça frágil e delicada, é plenamente capaz de se cuidar sozinha.

Waverly, inclusive, é a responsável por trazer Wynonna de volta para os laços familiares que ficaram desfeitos quando a protagonista fugiu de Purgatório. O relacionamento entre as duas irmãs é uma das melhores coisas da série: Wynonna é teimosa e reluta a assumir seu posto como herdeira dos Earp, mas se transforma em uma pessoa super protetora quando o assunto é Waverly mesmo que a ligação entre elas tenha se fragilizado devido a sua ausência. É bonito de ver uma relação entre irmãs, entre mulheres, que passa longe da rivalidade e intriga que a cultura pop, de maneira geral, tenta nos fazer aceitar como natural. O natural aqui, e o que vemos em Wynonna Earp, é o companheirismo e lealdade entre duas irmãs que se amam e fariam absolutamente tudo pela outra.

E se eu ainda não te convenci a assistir a essa série maravilhosa, vai mais uma tentativa: em Wynonna Earp há um equilíbrio entre cenas de humor, ação e o toque sobrenatural de uma maneira excelente. As mais sensíveis talvez não gostem de ver certas cenas um pouco macabras ou nojentas, mas garanto que nada é gratuito e tudo está bem amarrado à trama principal que conduz a história de Wynonna. A série não se leva muito a sério e mesmo os momentos absurdos para nós, que estamos assistindo, são tratados como absurdos pelos personagens dentro da história. Se eu tivesse que comparar Wynonna Earp com séries já consagradas, diria, sem medo de errar, que soa bastante como Supernatural em seus melhores momentos com pitadas de Buffy, a Caça-Vampiros: uma série que sabe rir de si mesma, que tem personagens femininas bem escritas e que amarra tudo isso com uma trama sobrenatural da melhor qualidade.

6 comentários

  1. Thay, eu já acompanho a série e vc realmente descreveu tudo e mais um pouco do que acho da série e se eu já não tivesse acompanhado, já iria baixar ou assistir no Netflix nesse momento! Adorei! 🙂

  2. Você se esqueceu da Nicole, que é outra mulher empoderada da série. E, na minha opinião, tão foda quanto as irmãs Earp. No mais, tomou o lugar de série favorita que pertencia à Lost Girl há anos..

  3. Nunca havia me apaixonado por uma série e seus personagens. Melhor série existente. A Wynonna é fodástica, Waverly um anjo, literalmente, Xerife Haught é a fiel escudeira. Toda a trama é maravilhosa e para terminar, não tem como não shippar #wayhaught.
    O mais perfeito casal lgbt…

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