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Adolescência e padrões estéticos em Sorria

Sorria é uma história em quadrinhos autobiográfica de autoria de Reina Telgemeier. A obra conta a história da adolescência da autora com um enfoque curioso: os dentes. Desde o título e capa da obra, até o recorte temporal da trama são balizados pela história dental da personagem, trazendo à tona logo de cara um tema que ocupa espaço de destaque na vida de todas nós, especialmente na adolescência — o famigerado padrão estético.

A obra não problematiza a questão dos padrões estéticos, mas deixa claro em toda a sua extensão como isso afeta nossas vidas em uma fase tão conturbada da nossa formação. Tudo o que Reina quer, assim como a maioria de nós — mesmo depois de adultas — é ser aceita, se encaixar. Entretanto, desde o começo fica claro que não vai ser tão fácil.

Conhecemos Reina aos onze anos de idade, quando ela se prepara para colocar aparelho nos dentes. Logo depois, complicando ainda mais a questão, ela sofre um acidente que faz com que ela perca os dois dentes da frente. Começa então uma saga de anos de procedimentos dolorosos para consertar os estragos e recuperar o sorriso. Nós acompanhamos o tratamento como uma linha temporal, marcando a evolução da personagem rumo à vida adulta.

O livro mostra claramente como a aparência afeta nosso relacionamento com os outros e com nós mesmos, influenciando nossa confiança e nosso senso de valor pessoal.

Sorria - Reina Telgemeier

Outra questão muito abordada no livro é amizade tóxica entre mulheres. A competição entre nós é estimulada desde muito cedo, em busca de um prêmio de aceitação e validação social. Isso é evidente desde o começo no círculo de amizades de Reina, especialmente na forma como as outras criticam e ressaltam elementos na aparência da personagem com as quais ela já tem algum incômodo.

Ainda que demore anos, é um ponto muito positivo do livro mostrar como Reina se afasta desse ambiente nocivo, tomando consciência de que ela merece se sentir bem consigo mesma e de que ela não se resume à aparência — existem muitas coisas boas nela, e muitas pessoas dispostas a reconhecer essas coisas.

Em Sorria também nos deparamos como uma representação de como somos condicionadas desde muito novas a buscar a aprovação masculina e a moldar nossos gostos e comportamentos nesse sentido. Achei extremamente positiva a forma como a história aborda esse ponto, mas não se deixa desviar, mantendo o foco no crescimento e amadurecimento da Reina enquanto pessoa e da relação mais importante que ela vai ter na vida: a relação consigo mesma.

Com ilustrações adoráveis e coloridas que remetem ao público-alvo do livro (infantojuvenil), Sorria traz ao mesmo tempo um ar nostálgico que permite que nós, de mais idade, nos identifiquemos e nos entreguemos genuinamente à leitura — com o bônus da bagagem de vida que possibilita uma análise mais aprofundada e distanciada das questões pelas quais todas nós já passamos, em algum grau.

O exemplar foi cedido para resenha pela editora Devir.


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1 comentário

  1. Oi paloma,
    É um livro bem fofo mesmo, vou trabalhar essa narrativa com os alunos do 6° ano.
    Lendo seus comentários tive algumas ideias para trabalhar em sala. Obrigada,
    Bjs

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