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Kara Sevda: precisamos de um final feliz

Com o primeiro episódio exibido em 2017, Kara Sevda conta a história de amor entre Kemal e Nihan. De classes sociais diferentes, Nihan (Neslihan Atagül), jovem rica que vive uma vida de alto padrão em Istambul, e Kemal (Burak Özçivit), um jovem universitário, filho de um barbeiro e dona de casa, se apaixonam à primeira vista e vivem uma breve história de amor. Ao longo dos episódios, acompanhamos os desencontros dos pombinhos e as tramoias do vilão Emir (Kaan Urgancıoğlu) para mantê-los separados.

Atenção: este texto contém spoilers

Atualmente disponível na plataforma de streaming HBO Max, a trama possui um clássico enredo melodramático que o aproxima das telenovelas. Ou seja, ao assistir a produção acabamos, inconscientemente ou não, esperando que a trama se comporte como uma novela. Então, imagine a frustração quando, no último capítulo, o mocinho não só morre, como há toda uma sequência de sofrimento da protagonista e a última cena é uma mesa de jantar com uma cadeira vazia. Anticlimático, não concorda?

É uma verdade universalmente conhecida que telenovelas contam histórias de amor — um amor que supera tudo: diferenças culturais, classes sociais e, até mesmo, a passagem do tempo. Quando falamos isso, logo pensamos nos casais protagonistas sempre dispostos a enfrentar tudo e todos em nome do amor. Mas há tramas em que o ponto central são outros tipos de amor: Manoel Carlos, por exemplo, tem toda uma teledramaturgia na qual o amor materno, na relação entre as Helenas e suas filhas, eram a força motriz dos enredos.

Além do amor, novelas têm um final feliz. Não importa o que aconteça, o amor vencerá, os mocinhos terão sua jornada recompensada, enquanto os vilões sofrerão as consequências de seus atos. Ao contrário da vida real, nas novelas todos os empecilhos para a felicidade dos personagens são solucionados e todos rumam para o “felizes para sempre”. Em outras palavras, um final feliz é um alento pois, embora saibamos que na vida real nem sempre as coisas terminam como desejamos, reforça a  ideia de que, mesmo em meio a dificuldades, o amor, a amizade e a união podem superar qualquer adversidade.

Claro que o nosso entendimento sobre “finais felizes” vem se modificando e personagens como a Ritinha (Isis Valverde), de A Força do Querer (2017) e Luz (Marina Ruy Barbosa), de O Sétimo Guardião (2019) rompem com o esperado e terminam as tramas sem estar em nenhum relacionamento amoroso. Mesmo assim, os finais das novelas costumam seguir a mesma fórmula: casamentos, reencontros, personagens se descobrindo grávidas e coadjuvantes simpáticos encontrando galãs no aeroporto. Assim, os finais felizes se tornaram um pacto, não tão secreto, entre os autores e o público.

A  quebra desse pacto em Kara Sevda gerou diversas reações entre os fãs. Alguns se sentiram frustrados e desapontados, enquanto outros acharam a conclusão coerente com a história que foi contada. O fato é que o final trágico contribuiu para que a novela se tornasse ainda mais memorável, seja positivamente ou não, pois mostrou que, na vida real, nem sempre as coisas terminam como gostaríamos. Mas, precisamos disso?

Rafaela Freitas é aspirante à comunicadora, noveleira assumida, apaixonada por cinema e cultura pop. Além disso, tem uma quedinha pelos clássicos da Sessão da Tarde e por produções com figurinos impecáveis.

Rafaele Chaves é um projeto de Historiadora, fã de narrativas novelescas, artesã e fanfiqueira. Acredita que o álbum Reputation foi injustiçado pelo Grammy.