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Glória e Ruína: a revolução das mulheres de Viridia

Glória e Ruína é o ato final da duologia idealizada pela autora Tracy Banghart e que teve início em Graça e Fúria. Lançado pela Companhia das Letras, por meio do selo Seguinte, a história nos leva em um mergulho na vida de Serina e Nomi, residentes do reino de Viridia, onde mulheres são oprimidas e privadas de simples ação, como o direito de leitura.

Em Graça e Fúria, vimos Serina subverter sua personalidade de Graça do superior e se despir dos preconceitos que anos de ensinamentos manipulados por um sistema patriarcal a fizeram acreditar, enquanto Nomi aprendia mais do que nunca a necessidade de lutar por aquilo que acredita.

Glória e Ruína tem seu início imediatamente após o final do primeiro livro, fazendo o leitor engatar novamente no frenesi do cliffhanger construído pela autora. Asa matou seu pai e tentou acabar com a vida de Malachi, enviando ele e Nomi para Monte Ruína, onde achou que eles encontrariam seus últimos momentos de vida. No entanto, enquanto isso, Serina e as outras prisioneiras orquestraram uma revolução, subjugando os guardas e tomando controle do local. O reencontro das irmãs é emocionante e não demora muito para as duas montarem um plano que ajudará a libertar não só aquelas em Monte Ruína, mas todas as mulheres de Viridia.

Com um ritmo acelerado, o desenrolar das tramas do livro surpreendem a cada página e Banghart consegue construir uma história memorável, cheia de discussões relevantes para a nossa época, além de nos dar personagens nas quais se inspirar e que são ótimos exemplos de resiliência feminina. Com isso, a autora se consolida como uma peça importante da literatura jovem-adulta, deixando uma história instigante, bem escrita e que trabalha muito bem o feminismo em um cenário quase que distópico, mas que se assemelha muito com nossa atualidade, para milhares de leitores.

“Ela ouviu as vozes altas e as respostas raivosas dos homens e desejou poder falar também. Queria encher o mundo inteiro com seus gritos.”

As peças principais de Glória e Ruína são Serina e Nomi. Assim como no primeiro livro, a história se alterna com capítulos das duas e ver a etapa final do desenvolvimento delas é algo muito satisfatório, tudo graças a habilidade da autora em nos apresentar duas mulheres fortes, corajosas, que sentem muito e ainda assim são inteiramente capazes de tomar decisões difíceis, salvar a si mesmas e liderar uma revolução.

O arco de personagem de Serina pode ser apontado como um dos melhores pontos da duologia. A Serina que conhecemos no início de Graça e Fúria já não era a mesma que encontramos no final do mesmo livro, e em Glória e Ruína sua evolução continua ainda maior. Assim que abre os olhos para o mundo além de todas as mentiras que lhe foram contadas e percebe a força que existe na união feminina, na sororidade e na liberdade de ser si mesma, ela se torna uma guerreira que não pestaneja diante das dificuldades e das decisões que precisa tomar em prol do sucesso da revolução de Viridia. Quando penso em Serina, penso em Sansa Stark e em uns dos quotes mais icônicos da personagem de George R. R. Martin: “Minha pele transformou-se em porcelana, em marfim, em aço”.

Banghart também tem sucesso em nos mostrar as marcas profundas que anos de opressão e violência podem deixar e, apesar de rápidos e breves, os momentos em que presenciamos isso nas prisioneiras de Monte Ruína são uma das melhores partes do livro. Toda a discussão em torno do que é necessário para fazer uma revolução e dos sacrifícios de princípios que isso requer também mostram o quão pesarosas, porém necessárias são algumas ações para que a liberdade e a construção de um novo sistema se tornam reais.

Por fim, mesmo que o final de Glória e Ruína caia em alguns clichês, a presença masculina no livro, representada pelo soldado Val e por Malachi, mostra uma boa posição dos homens dentro a revolução. Ambos estão sempre presentes, mas nunca subjugando as vontades, opiniões e decisões de Serina e Nomi. Ao contrário, sempre apoiam e se oferecem para fazer o necessário para auxiliar, mesmo que isso signifique renunciar ao mais alto cargo de poder para que uma nova era, agora com mais igualdade e presença feminina, possa nascer em Viridia.

No geral, a duologia idealizada por Tracy Banghart cumpre seu papel e se torna uma excelente indicação de leitura para jovens no geral, especialmente para meninas que podem cada vez mais ler livros em que mulheres são protagonistas de suas próprias histórias e salvam o dia — mesmo que essa evolução ainda ocorra a passos lentos.

“Resista. Sempre.”

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a editora Companhia das Letras.


** A arte do topo do texto é de autoria da nossa colaboradora Carol Nazatto. Para ver mais, clique aqui!

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