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Como Sobreviver à Realeza: clichês e romance na Escócia

Daisy Winters é uma adolescente de dezesseis anos completamente normal. Vive em uma pequena cidade da Califórnia com seus pais, trabalha meio período no mercadinho da cidade com sua melhor amiga, Isabel, e tem uma viagem planejada para as férias de verão que envolve encontrar sua autora favorita em uma tarde de autógrafos. Mas Daisy também tem uma irmã mais velha, Ellie, prestes a se casar com o herdeiro do trono da Escócia — algo que foge completamente da normalidade e colocará Daisy diretamente no meio dos nobres e aristocratas escoceses, algo com o qual ela preferiria não ter que lidar durante o verão. 

Essa é a premissa de Como Sobreviver à Realeza, primeiro livro de Rachel Hawkins de sua série Royals. Com tradução de Isadora Sinay e lançado no Brasil pela Editora Alt, o livro é uma comédia romântica adolescente com os melhores clichês do gênero: um casal que se odeia a princípio mas se vê obrigado a conviver em prol de um bem maior, momentos de tensão com chuvas torrenciais que prende o relutante casal em um local desolado e bailes repletos de vestidos bonitos e corações acelerados. Como Sobreviver à Realeza não é, de fato, um livro com um enredo inovador mas funciona devido à narrativa cativante de Rachel Hawkins e a maneira como a autora abraça todos esses clichês sem medo algum. 

“Como vamos saber do que gostamos a não ser tentando as coisas?”

Estou longe de ser o público alvo da autora, mas isso não me impediu de acompanhar com interesse a trama envolvendo Daisy, a família real escocesa, garotos bonitos e toda a confusão que vem no pacote quando se fala de comédia romântica. A leitura de Como Sobreviver à Realeza é rápida, leve e fez do meu dia melhor em um momento em que tudo o que eu precisava era me desligar da realidade pouco amigável dos noticiários. Foi divertido “ir” para a Escócia com seus rapazes de kilt, as Terras Altas e os castelos reais — mesmo as incongruências da trama não são capazes de atrapalhar seu desenvolvimento de maneira geral, visto que o que cativa a audiência é Daisy, a protagonista. 

Embora ela também seja um estereótipo ambulante — a estadunidense super descolada que não mede as palavras e bate de frente com todo o rigor dos aristocratas escoceses —, Daisy é divertida, sarcástica, não leva desaforo para casa e é praticamente um ímã para situações constrangedoras das quais ela não pediu para participar. É devido a esse comportamento autêntico e um pouco sem noção que Daisy precisa ir para a Escócia ser monitorada de perto pelo palácio a fim de que ela não cause nenhum problema para a família real ao aparecer nos tabloides em momentos poucos lisonjeiros, causando escândalos e comprometendo o noivado de Ellie com Alex, o herdeiro do trono.

Como Sobreviver à Realeza

É assim que Daisy vai parar na Escócia para uma temporada de controle de danos, mas tudo o que a adolescente consegue é chamar ainda mais atenção para si mesma, principalmente quando os tabloides estampam em suas capas fotos dela saindo de uma boate na companhia de Sebastian, príncipe e irmão mais novo de Alex. Como se não bastasse precisar lidar com um príncipe incrivelmente bonito e bom de lábia, mas sem nenhum limite, Daisy também convive com os amigos de Sebastian, conhecidos na imprensa de fofoca como os Rebeldes Reais — um grupo de rapazes bonitos, estilosos, ricos e, claro, parte da aristocracia — e com muito potencial para colocá-la em situações ainda mais complicadas. Some-se a isso uma rainha nada contente, outros nobres muito esnobes e o imã de Daisy para atrair confusões que está formado o enredo de Como Sobreviver à Realeza. 

Durante a leitura das poucos mais de 300 páginas, a sensação era de que eu estava mergulhada em um filme da Sessão da Tarde — e não escrevo isso para depreciar o livro, muito pelo contrário. A leveza das comédias românticas está toda ali, os clichês que colocam o “casal que não quer ser um casal” em situações limite, também, e eu não poderia ter ficado mais contente com a leitura. Como Sobreviver à Realeza não tem a pretensão de reinventar a roda, mas tem seu próprio charme e magnetismo. Às vezes tudo o que precisamos é de um romance bonitinho em que você praticamente prevê os próximos passos dos personagens — e tudo bem. Claro que eu teria gostado ainda mais da narrativa se Rachel Hawkins tivesse apostado em uma maior diversidade para seus personagens, visto que os protagonistas são hétero e cis (e brancos) e somente dois coadjuvantes são queer, mas ela parece se redimir na sequência de Como Sobreviver à Realeza com o livro Sua Alteza Real, também lançado pela Alt. 

“Pensei que tivesse me acostumado com a beleza dele mais cedo, mas aparentemente esse tipo de beleza te dá na cara toda vez que você olha.”

De maneira geral, o livro é bem sucedido no que se propõe a ser e rende bons momentos de diversão para quem busca uma leitura leve, despretensiosa e com os velhos clichês que tanto amamos nas comédias românticas. Um casal que se odeia? Temos. Conversa profunda e sincera em frente à lareira sendo interrompida exatamente quando um beijo aconteceria? Temos também. Minha crítica ao livro se dá mais especificamente pela velocidade com que os acontecimentos surgem e logo são esquecidos, e pela pouca diversidade. Gostaria também que a autora tivesse aprofundado mais alguns personagens e relacionamentos, principalmente quando se trata de Daisy e Ellie. Não me entenda errado, eu adoro um romance clichê, mas o que adoro tanto quanto é um bom relacionamento entre irmãs — e Como Sobreviver à Realeza não me dá muito disso. 

Daisy, afinal, só se meteu em todas essas confusões na Escócia porque Ellie, sua irmã mais velha, se casará com o herdeiro do trono. Ellie — Eleanor, agora que é noiva de Alex e uma figura da família real escocesa precisa ser chamada a altura — nasceu para ser uma princesa, nas palavras de Daisy, e é a epítome da perfeição em muitos momentos e completamente diferente da irmã sete anos mais nova que ama cultura pop e pintar o cabelo das cores mais diferentes possíveis. Teria sido interessante se Rachel Hawkins tivesse dado mais atenção ao relacionamento entre elas, desenrolando o que sentem uma pela outra para além de toda a tensão do casamento, dos príncipes e aristocratas de narizes empinados. O breve momento em que passam juntas, sendo verdadeiras uma com a outra, é doce e sincero, e teria sido ótimo ver mais disso no livro.

“Um pequeno momento de sintonia que é estranhamente bom, dado que vem de um cara que eu ainda não tenho certeza se é ou não um saquinho de chá amaldiçoado por uma feiticeira e condenado a viver como um menino de verdade.”

Como Sobreviver à Realeza é um livro leve, divertido e perfeito para aqueles dias em que você só quer se ocupar com uma boa comédia romântica. Os clichês estão todos lá, do enemies to lovers (de inimigos a amantes, em tradução livre) ao namoro falso, dos bailes até as grandiosas demonstrações de amor. E tudo bem.

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Globo Livros.


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