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You know you love me: a carreira musical de Leighton Meester

O nome Leighton Meester soa familiar para os ouvidos daqueles que têm algum conhecimento de cultura pop dos últimos dez anos, afinal, ela é nada menos que a personagem Blair Waldorf da série Gossip Girl. Um ícone de estilo e uma personagem tão complexa que conseguiu em seis temporadas nos fazer viver uma relação intensa de amor e ódio. O que eu acho curioso é que muito pouco se fala sobre sua carreira musical. Pois além de atriz, Leighton tem um disco e alguns singles lançados por aí.

Sua voz ficou conhecida na participação que fez na música “Good Girls Go Bad” da banda Cobra Starship lançada em 2009. Ainda nesse ano ela assinou contrato com uma gravadora e chegou a produzir algumas músicas, mas o projeto de gravar um disco acabou não dando certo. Em 2014, porém, Leighton conseguiu lançar seu primeiro álbum, Heartstrings.

Fugindo do pop-balada que reina no hit de 2009, Heartstrings ainda é um disco pop, mas ao invés de uma noitada com as amigas, ele é muito mais a trilha sonora para uma tarde de frio e chá ou uma viagem de carro com o vento batendo nos cabelos e a vida parecendo que faz algum sentido, mesmo não fazendo nenhum. Segundo ela mesma, as referências aqui são Joni Mitchell, Fleetwood Mac, Tori Amos, algo muito diferente do que embalou suas primeiras produções. Embora tenha sido divertido, ela avalia as experiências musicais do passado como algo que não tinha muito a ver com o que ela queria fazer ou com quem ela era.

Hearstring nos faz parar um pouco e olhar para nós mesmas, refletindo sobre todos os caminhos que nossas vidas tomam. Tudo soa muito sincero no álbum, como se estivéssemos ouvindo nossa melhor amiga falar sobre seus medos, amores e alegrias. A música que abre o disco e dá título a ele começa dizendo:

“Doing fine all on my own (estou numa boa, sozinha)
‘Cause I know now this was right for me (pois agora sei, aquilo foi o melhor para mim)”

É uma música sobre relacionamento, mas já revela muito do que o disco como um todo vai mostrar: as histórias de uma mulher, contadas por ela mesma. Todas as composições são dela e talvez seja por isso que é possível perceber a existência de um tema comum, que passa por todas as músicas. Seja no amor ou nas suas próprias questões, o que temos aqui é alguém que está se descobrindo em todas as suas possibilidades.

A voz dela é uma delícia de escutar e as melodias são daquelas que esquentam nosso coração como um abraço e um chocolate quente. São músicas perfeitas para andar ouvindo pelas ruas, imaginando a trilha sonora de um filme. É um disco bom e redondo, tudo se encaixa e nenhuma música parece ter sido escolhida apenas para encher espaço.

O que mais me deixa feliz com o álbum é que, apesar de algumas letras pouco elaboradas e aparentemente banais, a forma como Leighton Meester canta sobre amor ou sobre suas aflições diz muito sobre como a gente se sente nessa transição de adolescência para a vida adulta. O disco foi lançando quando Leighton tinha 28 anos, ou seja, não é um disco sobre uma menina descobrindo as dores e delícias dos seus 22, mas algo um pouco mais profundo. Como ela diz em “Dreaming”:

“It never ends (isso nunca termina)
When my mind sends me into oblivion (quando minha mente me envia para o esquecimento)
The secret place that is laced (o lugar secreto que está atado)
With a dose of what could’ve been (com uma dose de que poderia ter sido)

Is this real life (isso é a vida real?)
Why can’t I decide (por que eu não posso decidir?)”

As músicas sobre amor são tão idealizadas quanto canções pop podem ser, mas não se trata de um amor sem defeitos, é como se aqui as relações fossem menos inocentes e mais reais. Ela sabe que os relacionamentos não são perfeitos, que existem problemas, e que a vida vai continuar seguindo com ou sem esse amor. O disco fecha com a música “Entitled” que resume bem esse movimento de aceitar o que não funciona para nós e seguir em frente, buscando nosso próprio bem.

“I liked it in the dark (eu gostei disso no escuro)
Feeling all around until I fell and stumbled (sentindo tudo em minha volta até que eu caí e tropecei)
But now I’ve got a spark (mas agora eu tenho uma faísca)
Gonna light a fire and watch it crumble (vou acender uma fogueira e vê-la desfazer-se)
I wasn’t free, always in cuffs (eu não estava sempre livre, sempre em uma algema)
No more asleep, now I woke up to (não mais dormindo… agora eu acordei também)

I’ve played in love, and it’s got to end (eu joguei, no amor, e isso tem que terminar)
I was in love but I won’t pretend (eu estava apaixonada, mas não vou fingir)
There’s something that I’ve been entitled to (isso é algo a que eu tenho direito)
Something that I’ll never find in you (algo que eu nunca vou encontrar em você)”

Hearstrings parece, ao mesmo tempo, tudo que Blair Waldorf foi e tudo o que ela não foi. Tem muito da personalidade romântica e sonhadora da personagem, mas foge de tanto drama e situações fora da realidade. É um disco que parece muito simples no melhor sentido. Ele não tenta ser nada além do que é e isso funciona muito bem. A voz da Leighton é tão agradável de ouvir que me pego voltando a essas músicas dia sim dia não. Tem aquilo que é uma das melhores características das nossas cantoras pop preferidas: você termina o disco querendo ser amiga dela, já se imaginando tomando um café e conversando horas a fio. Afinal, no fundo, o melhor da música é isso: funcionar como nossa melhor amiga nos momentos em que mais precisamos.

Laura Mollo é historiadora, feminista e completamente doida por cultura pop. Sonha em assistir Hamilton na Broadway e com a volta do One Direction.
No geral, tá por aí tentando segurar as barras dessa vida. Twitter | Newsletter