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Love Kills: o mito do vampiro por Danilo Beyruth

Vampiros não são novidade quando falamos de cultura pop. Seja em livros, filmes ou séries de televisão, eles caminham entre nós há décadas — e isso não parece ter data para acabar. Ainda bem. Dentre tantas histórias, contos e mitos, o do vampiro é um dos meus favoritos —  dos clássicos como Drácula, de Bram Stoker, aos mais modernos de Anne Rice e os adolescentes de The Vampire Diaries, os assustadores de Noturno e The Strain, livro e série de Guillermo Del Toro, e os brasileiros de André Vianco, eu não me faço de rogada e consumo todas as histórias com o afã de um vampiro que está sem beber sangue fresco há muito tempo. E foi isso que fiz quando Love Kills, a graphic novel de Danilo Beyruth, chegou em em minhas mãos.

Publicada pela DarkSide Books em mais uma edição impecável de capa dura, Love Kills bebe (sangue) na fonte das tramas vampirescas, mas se reinventa por meio dos traços seguros de Beyruth. Em uma São Paulo preto e branca, o quadrinista constrói uma trama que evoca histórias clássicas do gênero mas sem deixar de trazer o novo de sua própria versão. Aqui acompanhamos a história de Helena, uma vampira solitária com séculos de vida que encontrou em São Paulo um lugar em que pode se esconder do seu passado. Mas o que ela não sabe —  ou, pelo menos, tenta ignorar —  é que o passado sempre encontra uma maneira de acertar as contas com seus devedores.

Ao sair à noite para caçar e se alimentar, Helena sente a presença de outro vampiro em seu território, o que a deixa com seus sentidos em alerta. Nessa mesma noite ela também se depara com Marcus, um humano comum que será crucial em seu destino nos próximos dias. O vampiro com que Helena se deparou não está sozinho e retorna com seu grupo para enfrentá-la, o que a deixa em uma situação difícil se não fosse pela inesperada intervenção de Marcus. A partir de então, Love Kills começa a entregar fragmentos da trama, os motivos pelos quais os vampiros estão atrás de Helena e o segredo do passado que ela esconde. Marcus, a parte humana envolvida nessa história por mero acaso, é levado para um universo que reúne o bizarro e o tétrico enquanto tenta entender no que se meteu.

“Nascer e morrer são só momentos num ciclo contínuo. De certa forma, são vocês os verdadeiros imortais.”

Em pouco mais de 240 páginas, Danilo Beyruth constrói uma narrativa que prende o leitor do início ao fim. Modernizando o mito do vampiro por meio de seus personagens, colocando-os em uma grande cidade brasileira, o autor é capaz de dar um tom próprio a um conto conhecido. Seu traço marcante e dinâmico preenche as páginas e cria cada cena de maneira única, fazendo com que o leitor mergulhe na história procurando desvendar os mistérios que envolvem Helena e sua origem. As primeiras páginas de Love Kills são responsáveis justamente por nos apresentar sua protagonista sem enfeitar seus sentimentos ou suas necessidades: ela é uma vampira, uma predadora, precisa de sangue e fará o que for preciso para consegui-lo.

Com sua protagonista, Love Kills entrega uma personagem repleta de nuances, mas de poucas palavras. Misteriosa e solitária, Helena demora a entregar sua história e motivações, mas aos poucos vamos compreendendo as nuances que formam a personagem. Em um primeiro momento ela não parece se importar com Marcus ou o que quer que aconteça a ele, arremessado para o meio de uma batalha que não é sua, mas logo vemos que por trás da armadura, Helena se preocupa, a sua maneira, com outras pessoas além dela mesma. Não são muitas pessoas, é verdade, o que apenas ressignifica a importância de cada uma delas em sua vida imortal. Mesmo Marcus, um humano que caiu de paraquedas em uma situação inimaginável para um homem que só tentou defender uma mulher aparentemente indefesa de um cenário ruim.

Mas não é só de dentes afiados e sangue que Love Kills é feita. Danilo Beyruth cria um suspense típico das melhores histórias de terror, pavimentando um senso de urgência que cresce com o passar das páginas e do desenvolvimento da história. Os vampiros que estão atrás de Helena certamente são uma ameaça imediata, mas ainda há algo pior à espreita que exigirá muito de sua protagonista. Nesse momento, e por meio dos desenhos cortantes de Beyruth, percebemos ainda mais as referências clássicas utilizadas pelo quadrinista: quando os vampiros entram em combate, seus corpos aparentemente humanos e comuns se transformam, suas feições deixam de ser belas e atraentes e eles se transmutam em algo feito para cortar e dilacerar. Essas cenas, inclusive, são algumas das minhas favoritas em Love Kills pois conseguem passar toda a dinâmica de uma luta corpo a corpo, com seus movimentos ágeis e precisos, assim como a urgência pela sobrevivência visto que apenas o mais apto sairá vivo do embate.

“Vejo um vazio… no meio dele, um único propósito. Ele está lá… procurando.”

A arte de Danilo Beyruth, é claro, não poderia deixar de ser o ponto focal de Love Kills. Embora a trama seja, de fato, interessante, não teria o mesmo impacto se não fosse o traço do quadrinista. Muito premiado por seu trabalho, Beyruth foi responsável por reformular o personagem Astronauta, de Maurício de Souza, em uma série de quadrinhos e já colaborou com a Marvel em Motoqueiro Fantasma e Guardiões da Galáxia. Love Kills é seu segundo trabalho autoral publicado na DarkSide Books —  anteriormente, ele publicou Samurai Shirô, uma graphic novel que aborda o universo dos samurais, a Yakuza e honra família no bairro da Liberdade, em São Paulo, e ilustrou a edição especial de A Noite dos Mortos Vivos, também publicada pela DarkSide Books.

Para os amantes das histórias de vampiros, Love Kills é como se fosse uma bolsa cheia do seu tipo sanguíneo favorito. Reúne pontos da mitologia clássica — vampiros dormindo na terra, por exemplo — , renova o conto ao colocar seus personagens em uma grande metrópole brasileira e ainda insere muitas pitadas de terror com a tensão que cresce página após página. Danilo Beyruth é um artista completo e ambientou sua história de maneira soberba, criando em Helena uma protagonista interessante e misteriosa na medida — ao mesmo tempo que a trama se fecha ao final do encadernado, a vontade que fica é de ver mais da vampira, essa mina tosca. Quem sabe um volume dois? A noite é eterna, afinal de contas.

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Editora DarkSide Books.


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