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CL: da Coreia do Sul para o mundo

Ainda que não seja muito conhecida do lado de cá do nosso planeta, CL é importantíssima dentro da evolução da música da Coreia do Sul. Cantora, rapper, dançarina e compositora, CL é uma artista sul-coreana pertencente ao k-pop (música popular coreana ou pop coreano), gênero que cresceu a ponto de se tornar uma enorme indústria absolutamente dominante na Ásia.

Lee Chae-rin, de 27 anos, tem uma trajetória pessoal que é, por si só, internacional. A cantora frequentou escolas em países como França, Japão, além da Coreia do Sul, e teve uma formação musical variada que inclui desde Madonna até o grupo de hip hop sul-coreano 1TYM. Lee estreou como cantora profissional em 2009 no grupo feminino 2NE1 que se tornou um dos nomes mais importantes do k-pop. Composto pelo quarteto: CL, Minzy, Sandara Park e Park Bom, o grupo possui dois bem sucedidos álbuns de estúdio e dois também bem recebidos EPs, além de lançamentos para o Japão, e foi fundamental para a expansão da cultura pop coreana, ou Hallyu, internacionalmente. Muitos fãs ocidentais de k-pop tiveram sua introdução ao gênero através do 2NE1.

Como uma das conquistas mais impressionantes do grupo em solo estrangeiro, o quarteto passou dois anos detendo o álbum de k-pop com a melhor posição na parada americana da Billboard 200: lançado em 2014, Crush chegou a 61ª posição. O grupo também se destacava pelo conceito, um tom rebelde que fugia do padrão do gênero para grupos femininos que muitas vezes apostam na fofura e doçura, algo conhecido como aegyo.

Essa atitude estava presente tanto no visual do 2NE1, com figurinos que com frequência dispensavam saias e vestidos, além de fazer uso de cores fortes e fechadas, como também nas letras de suas canções, com forte exaltação ao poder feminino. A exemplo é possível citar “I Am The Best” e aquelas músicas onde o grupo demonstra também as suas angústias e fraquezas, caso de “Lonely”.

“Querido, sinto muito, mesmo quando eu estou com você, eu sou solitária
Devo estar em falta quando se trata de amor
Por favor, perdoe essa pessoa horrível que eu sou
Sinto muito, esta é a minha e sua história
Não devo ser digna dessa coisa chamada amor
Mesmo quando eu estou ao seu lado
Querido, eu estou tão solitária”

Muito desse tom rebelde do 2NE1 se concentrava em CL: líder do grupo, ela era a cantora de referência e transferiu o tom rebelde adotado no grupo para seu trabalho solo, dentre eles o provavelmente mais atrevido é “Hello Bitches”, de 2015. O vídeo feito para a música contém momentos em que CL mostra o dedo do meio e rebola quase em cima da câmera, coisas nada comuns dentro do k-pop — muito menos vindas de uma mulher.

“Onde eu estou?
Maratona de compras em Tóquio
Acordo no meu jatinho particular, Tortilla toda manhã
Jogando cartas em Macau eu sou a melhor
Pare de ligar para o meu celular
Você não vai me achar no Kakaotalk
Diamantes na minha grade, alguém irá me parar? Quem?”

O conceito fora do padrão do 2NE1 e sobretudo de CL, não passaram ilesos de críticas que vão desde falar sobre a ousadia das canções e performances, até a estética das integrantes onde, novamente, CL entra em destaque. A indústria sul-coreana segue um estrito código de comportamento que já foi responsável pela censura televisiva de diversas canções e que segue sendo uma grande razão para que clipes com a ousadia de “Hello Bitches” ainda sejam raros, ou melhor, que ainda sejam considerados atrevidos.

Igualmente estrito é o padrão de beleza que afeta mais intensamente as garotas dos grupos de k-pop. Com critérios como olhos grandes e corpo magro ainda sendo fortes indicativos de beleza, CL tornou-se um alvo frequente de críticas ao longo da carreira, sobretudo em relação ao seu peso, por vezes interpretado como acima do esperado. Inclusive, com relação ao tema, recentemente a cantora foi atacada em sua conta oficial no Instagram e deu uma resposta incrível:

“Hater: Apenas pare! Foto de recordação? Quem? Não é você, apenas encontre um espelho e olhe para você! Você tem 78 kg, vadia gorda e grande mentirosa!
CL: Estou olhando no espelho agora e não vou mentir! Eu estou AMANDO o que vejo!!”

Após o prematuro fim do 2NE1, em 2016, CL procurou investir em uma ambiciosa carreira solo onde ela já não se limitasse à Coreia do Sul, ou à Ásia; ela queria chegar ao mercado mais influente do ocidente e do mundo: o estadunidense. Contra sua empreitada, no entanto, ainda está sua pouca experiência enquanto solista, destaque para três singles: “The Baddest Female”, “Hello Bitches” e “Lifted”, além de uma pequena colaboração com o também sul-coreano PSY, (conhecido pelo hit Gangnam Style), na canção “Daddy.

“Lifted”, produzida para ser a sua estreia no mercado americano em 2016, teve uma recepção morna nas paradas, resultado também de uma divulgação mal planejada pela sua agência de origem, a YG Entertainment. A produção também gerou questionamentos por uma suposta americanização de estilo, principalmente observada no clipe. O que eu vejo é a tentativa da cantora de tornar a produção mais internacional, traduzida na escolha por um single em inglês e as locações em Nova York, uma cidade que abriga milhões de pessoas de diferentes partes do mundo, onde CL adotou uma função de forasteira explorando aquele novo e diverso mundo.

No entanto, faltou incluir mais da Coreia ou da Ásia no trabalho. No vídeo, é possível perceber certa ênfase na diversidade étnica, mas em meio a um infindável número de figurantes e dançarinos, a única pessoa de traços orientais na produção parece ser a própria CL, algo identificado também em “Hello Bitches”.

A agência sul-coreana YG, que é uma das maiores agências de entretenimento do país, também é uma preocupação. A empresa acumulou uma fama negativa principalmente entre os fãs de k-pop que questionam sua habilidade de gerenciamento. Enquanto muitos artistas lançam novos materiais no mínimo a cada novo ano, é comum que os artistas da empresa fiquem por um longo tempo sem grande atividade. O último single lançado por CL, por exemplo, foi justamente “Lifted” em agosto de 2016 e o próprio 2NE1 passou seus dois últimos anos praticamente em hiato.

A seu favor existe um enorme talento musical demonstrado diversas vezes no 2NE1 e visto recentemente enquanto solista na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Inverno realizada na Coreia do Sul, onde CL foi uma das atrações e não decepcionou, visto que, além de uma grande vontade de se provar, a cantora quer fazer a diferença dentro de uma indústria onde a participação sul-coreana e asiática como um todo é mínima. Apesar da recente ascensão ocidental do k-pop, sobretudo no mercado norte-americano com nomes como PSY, e mesmo o 2NE1, e atualmente o grupo masculino BTS, que tem recebido destaque, a música asiática ainda está longe de ter o devido reconhecimento dentro do mainstream ocidental.

Colocando BTS como exemplo, o grupo teve um crescimento impressionante em 2017 a nível global tornando-se a personalidade da música mais comentada do ano no Twitter, além de ter conseguido emplacar um álbum, Love Yourself Her, no top 10 da Billboard 200, que é até o momento é o mais vendido do ano nos EUA em língua não inglesa. Ainda assim eles não escapam das comparações: “o One Direction coreano”, “o CNCO coreano” ou “o Backstreet Boys asiático”, são atribuições já direcionadas ao grupo principalmente pela mídia ocidental. Apesar disso, dada a sua crescente popularidade, é visível que eles vêm conquistando seu espaço.

Em 2017, quando questionada durante uma entrevista para a TV sul-coreana TvN sobre o por quê de desejar entrar no mercado norte-americano, CL deu a seguinte resposta: “Eu cresci ouvindo pop e não fazia sentido para mim não haver uma estrela do pop asiática promovendo seu trabalho nos EUA. Eu senti isso ainda mais quando visitei a América. Mesmo que eu não faça tanto sucesso como as pessoas esperam ou tanto quanto fiz na Coreia, eu acredito que pode ser útil para os artistas que vierem depois, se eu conseguir abrir caminhos”.

Sendo sul-coreana e asiática, CL parece desejar ser vista também no mainstream ocidental e contribuir para que mais artistas asiáticos tenham espaço. A cantora vive atualmente entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos, e apesar de ainda não haver uma previsão de quando voltará com novas canções, ela parece estar decidida a lutar por seu espaço. Dessa maneira fica a dica: é melhor ficar de olho em CL.

Isa de Oliveira é potiguar e formada em Jornalismo pela UFRN. Tem experiência com redação de web e assessoria de imprensa. Considera-se uma aspirante a pesquisadora. É apaixonada por cultura pop. Torcedora do Bayern de Munique e não, não tem problema em gostar de time estrangeiro, quem foi que disse?

1 comentário

  1. Como Blackjack só posso dizer que odeio a YG pelo que está fazendo com a CL. Ela trabalha pelo debut nos EUA desde 2014. E como vários colegas de empresa, está na geladeira. O YG não a promove nem na Coreia, nem nos EUA, o álbum nunca está pronto. É frustrante. Ela devia estar lançando músicas agora, aproveitando que kpop está em evidência por lá, mas as empresas, em ambos os países, ficam nessa amarração. Minzy saiu da YG, e do 2NE1, porque cansou de esperar por comeback. Bom passou por momentos terríveis e não foi defendida pelo dono da empresa. Podem me xingar, mas torço pra que todos saiam da YG assim que possível e entrem para agências mais preocupadas em promovê-los, tratando-os como seres humanos.

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