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Chronos: Limites do Tempo

Chronos: Limites do Tempo é a continuação da história de Kate Pierce-Keller, uma adolescente até então comum que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando descobre ser capaz de viajar no tempo ao se tornar portadora de uma Chave Chronos. Publicado no Brasil pela DarkSide Books, Limites do Tempo é o segundo livro da série escrita por Rysa Walker e retoma os melhores elementos de seu volume anterior: além da viagem no tempo em si, há pitadas de ficção científica, relatos históricos e muito amor adolescente.

“(…) Querer uma coisa não faz com que ela se torne realidade.”

Em Chronos: Viajantes do Tempo, o primeiro livro da série, conhecemos Kate, uma adolescente como qualquer outra que divide seu tempo entre os estudos, sua melhor amiga e aulas de karatê. A vida que Kate conhecia começa a mudar quando sua avó, Katherine, reaparece após anos distante da neta e da filha, Deborah. Com pouco tempo de vida, Katherine pede que Deborah a deixe compartilhar um pouco da rotina da neta, mas os planos dela vão além do que aparece na superfície: Katherine, na realidade, é uma viajante do tempo e precisa que Kate assuma a missão que ela não pôde concluir e tente salvar o mundo dos planos megalomaníacos de Saul, que é nada menos do que avô de Kate e ex-marido de Katherine.

Dessa forma, munida de uma Chave Chronos e as instruções passadas por Katherine, Kate dá início a uma missão complicada que a colocará entre passado, presente e futuro enquanto tenta descobrir quais são os passos de Saul para que possa impedi-lo de modificar a linha do tempo ao seu bel prazer. Como parte da CHRONOS — sigla para Centro Histórico de Registro da Observação Natural e Organizacional da Sociedade, uma fundação do futuro pensada para o estudo da História por meio de viagens no tempo —, tanto Saul quanto Katherine podem transitar entre anos diferentes contanto que estejam com suas respectivas chaves. Como Katherine está fragilizada devido ao câncer que a acometeu, cabe a Kate continuar a tarefa da avó de maneira a impedir que Saul crie um novo futuro em que ele reine como senhor absoluto de tudo e todos.

Se em Viajantes do Tempo descobrimos junto de Kate todo esse novo universo de viagens temporais, linhas do tempo que se apagam e sobrepõem e o que isso tudo significa para a vida da jovem, em Limites do Tempo não há tempo para sequer pegar fôlego visto que Rysa Walker começa a desenvolver a trama de sua série exatamente de onde parou no volume anterior. Kate já consegue lidar melhor com sua Chave Chronos, e após deixar a linha do tempo em ordem novamente, mesmo que com alguns efeitos colaterais, tem uma nova tarefa pela frente: coletar todas as Chaves Chronos que estão com outros viajantes do tempo antes que Saul e sua tia Prudence tomem posse delas. A ideia é impedir que Saul e os ciristas, como são chamados seus fiéis seguidores, possam ter as Chaves e, assim, realizar mais viagens no tempo e alterações na linha temporal. A tarefa de Kate não é das mais fáceis, então ela conta com a ajuda de Kiernan além do apoio de Trey — vértices do triângulo amoroso que permeia todo o livro.

“(…) uma coisa é saber que existem pessoas por aí que acreditam tão fortemente em alguma coisa a ponto de morrer por ela. Outra coisa totalmente diferente é saber que você está lidando com pessoas que vão cortar a própria garganta de orelha a orelha e continuar ostentando o sorriso enquanto suas vidas se esvaem, confiantes de que o sacrifício valeu a pena.”

A escrita de Rysa Walker permanece perspicaz como em seu primeiro livro e a autora consegue amarrar bem todas as pontas envolvendo viagens no tempo. Trabalhar com linhas de narrativa que avançam, retrocedem e se sobrepõem não é tarefa fácil, mas Rysa Walker consegue conduzir o enredo com maestria, contando sua história de maneira clara e instigante. Para enriquecer ainda mais seu livro, assim como acontece em Viajantes do Tempo e a aparição do serial killer H.H. Holmes, em Limites do Tempo outras figuras reais e momentos verídicos aparecem como pano de fundo da trama central: acompanhamos Kate até a Boston de 1905, ficamos sabendo do sucesso de Harry Houdini e seus desaparecimentos mágicos, e acompanhamos momentos de tensão na segregada Geórgia de 1935. Outro momento abordado no livro é o do assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy, e mesmo que a autora não fique muito tempo falando a respeito de fatos históricos propriamente ditos, a forma como Rysa Walker insere elementos reais em sua trama ficcional é interessante por trazer mais veracidade a tudo o que Kate passa enquanto está em busca das Chaves Chronos. Situar sua protagonista em momentos históricos importantes tem a dupla função de entreter e, por que não, informar.

Com relação ao protagonismo de Kate, se em Viajantes do Tempo encontramos uma relutante protagonista e uma adolescente temerosa a respeito do que significa viajar no tempo, em Limites do Tempo vemos uma Kate mais madura e confiante em sua missão. Ainda que aja como uma adolescente e passe muito tempo pensando em garotos, Kate parece ter muito mais consciência da importância de seu papel como uma das portadoras da Chave Chronos e como as vidas de inúmeras pessoas dependem do sucesso de sua missão. Mesmo que se sinta fragilizada e assustada em alguns momentos, Kate consegue ter foco o suficiente para se acalmar e tentar fazer o que é certo mesmo que esteja morrendo de medo — e isso mostra, apenas, o quanto de humano e real há na personagem. A exaustão de Kate é quase palpável durante a narrativa de Limites do Tempo, mostrando como a protagonista tem se esforçado para atingir as expectativas de Katherine, realizando saltos temporais com minúcia e dedicação. Kate sabe que o que está em jogo é muito maior do que ela mesma.

Outro ponto positivo de Limites do Tempo está na crítica que Rysa Walker faz aos extremistas religiosos e como os fiéis podem se deixar influenciar pelas palavras de pessoas carismáticas e com certa lábia. É de se pensar, inclusive, como essa parte da história de Limites do Tempo é capaz até mesmo se alinhar com nosso momento político quando mostra o que algumas pessoas estão dispostas a fazer por aquilo que acreditam, mesmo que isso fira ou coloque um alvo nas costas de quem não faz parte do “grupo” dominante. Limites do Tempo pode ser um youg adult, mas isso não quer dizer que deixe de falar sério quando preciso.

“Mas a maioria das pessoas é tola. (…) Elas enxergam exatamente o que querem enxergam e nada mais. É como Niemoller disse: se você ignorar quando estiverem retirando direitos alheios, logo eles virão retirar os seus, e não vai haver mais ninguém para protestar.”

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Editora DarkSide Books.


** A arte em destaque é de autoria da editora Ana Luíza. Para ver mais, clique aqui!

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