Categorias: TV

Younger e a busca pela idade perfeita

Confesso que o assunto “envelhecer” é algo que me toca profundamente. Penso nisso com diferentes anseios e preocupações, mas algumas são bem básicas do ponto de vista da minha geração. Parece que quanto mais os anos se passam, mais eu deveria ter feito ou descoberto — me exercitado mais, viajado mais, conhecido mais pessoas, acumulado experiências. Mas, ao mesmo tempo, fico feliz em olhar para trás e ver que aproveitei como pude as pequenas etapas da minha vida. Minha percepção fica, então, no limbo de será que eu deveria me esforçar para ter mais sucesso ou ainda tenho tempo suficiente para tudo e deveria me cobrar menos?

Younger fez com que eu me apaixonasse pela ideia do “e se”. E se eu tivesse feito algo diferente? E se eu fizer uma coisa nova, diferente? Primeiro conheci a série e, no caminho contrário, li o livro só depois. Mas vamos por passos.

A série tem Hilary Duff no elenco e foi por aí que comecei a querer ver mais, já que ela fez parte da minha construção de caráter com sua personagem Lizzie Mcguire. A história de Younger, no entanto, não foca nela, uma jovem e bem sucedida editora que trabalha em uma agência literária. O foco está em sua colega de trabalho, Liza (Sutton Foster), que foi contratada como assistente de marketing por ter 26 anos e talvez não muita experiência no ramo. Mas a verdade é que Liza tem 40 anos, é divorciada, já foi escritora e tem uma filha de 16 anos que atualmente está viajando num intercâmbio. Por que Liza precisaria mentir sua idade? Justamente porque, quando foi pedir o emprego após o seu divórcio, e tendo passado uns 10 anos fora do mercado para se dedicar à criação da filha, não existia mais vagas para ela.

A série começa mostrando Liza fazendo algumas entrevistas em empresas em que havia estagiado durante a faculdade ou empresas em que sonhava trabalhar anos atrás. Em todos esses momentos, seu currículo era negado só por ela ser “mais velha”. Não é dada sequer a oportunidade para que Liza mostre que sabe muito bem o que faz. A solução que sua amiga da mesma faixa etária dá é: e se mudássemos o seu cabelo, suas roupas e criássemos uma nova vida para você? E, fácil assim, Liza se transforma, consegue o emprego dos sonhos e até um namorado anos mais novo (que só vai descobrir a verdade sobre ela depois).

Vi em Younger uma faísca do que poderia ser uma discussão muito interessante sobre envelhecimento. Se os 30 são os novos 20 e os 50 são os novos 40, por que continuamos a nos colocar em um posicionamento ultrapassado sobre nós mesmas? E por que a cultura prega que homens são como vinho, que quanto mais velhos, melhores são? E por que o mercado de trabalho encara a idade como uma condição na contratação antes até da capacidade do candidato à função?

A narrativa da série é inspirada pelo livro escrito por Pamela Redmond Satran e é uma forma de se aprofundar nesse universo. A história mostra de onde veio o roteiro e, embora alguns nomes sejam trocados e algumas situações na série sejam mais dramáticas, a essência continua a mesma: envelhecer. Satran deixa algumas situações cômicas mostradas pela série ainda mais reais e próximas. Como quando Liza fica com cãibras por ter dormido de conchinha com Josh (Nico Tortorella), seu namorado 20 anos mais jovem, e ele brinca dizendo que isso é coisa de velha. Ou quando Liza pensa em toda uma ação para uma campanha de marketing a partir de uma hashtag no Twitter e, uma vez que se familiariza com a plataforma, encontra o perfil de sua filha e descobre que a menina vem matando aulas no intercâmbio.

Liza, sendo mãe, profissional ou uma jovem aspirante a uma carreira de sucesso não elimina a bagagem cultural que tem acumulada todos esses anos. Os anos que passou longe do mercado até podem tê-la deixado um pouco enferrujada, mas nada que, com um pouco de aprendizado, ela não possa dominar. Mesmo não fazendo parte da geração millenial, ela pode entender muito do comportamento dessas pessoas ao lidar com a filha adolescente.

A questão é que mulheres passam por isso diariamente: são julgadas pela escolher de ter uma família ao invés de seguir uma carreira e vice-versa. Abdicar de uma coisa ou de outra faz com que a mulher passe a envelhecer num universo ou em outro (porque é impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo), e em nenhum deles consegue envelhecer em paz.

Dar à mães o espaço de voltarem a ter seu lugar no mercado de trabalho, dar espaço para que mulheres possam mostrar o seu trabalho e ser reconhecidas por isso, não importa a idade que ela tenha, é, por fim, um fator fundamental. E Younger está pronta para provar.

pesquisa-valkirica-2016