Desde que comecei a ler mangás que me interesso por histórias com protagonistas femininas. Não foi caso pensado pois quando mais nova eu sequer sabia sobre (ou dava bola para) representatividade para fazer dessa escolha algo consciente, mas sempre gostei de histórias com as quais pudesse me identificar. Apesar de ter lido muito shonen (mangás direcionados ao público jovem masculino) e gostar de muitos desses títulos, invariavelmente retorno para histórias com um viés feminino, os shojos e os joseis. E é nessa última categoria em que se encaixa NANA.
O shojo, como explicado no texto sobre Sailor Moon, conta com histórias direcionadas para o público jovem feminino, enquanto o josei tem como base enredos voltados para garotas no final da adolescência e jovens adultas (quando li NANA ainda estava na faculdade e com a idade das protagonistas, o que foi ainda mais interessante). NANA é escrito e ilustrado por Ai Yazawa, também autora do igualmente ótimo Paradise Kiss, e conta a história de duas jovens mulheres que dividem o mesmo nome, mas que não poderiam ser mais diferentes uma da outra.
Nana Osaki e Nana Komatsu se esbarram em uma viagem de trem com direção à Tóquio. Nana Osaki é vocalista de uma banda de punk rock e decide ir para a capital japonesa tentar seguir carreira profissional na música, enquanto Nana Komatsu é uma estudante de artes que busca uma nova vida longe de sua pequena cidade natal além de ir atrás do namorado que acabou de ser aceito em uma universidade. Nana Osaki tem uma beleza exuberante, usa os cabelos curtos, se veste de acordo com o visual punk e tem um namorado de longa data, guitarrista de uma famosa banda de rock; Nana Komatsu é meiga, delicada e feminina, usa vestidos com babados e seu maior sonho é se casar e constituir família. Enquanto Osaki persegue com unhas e dentes seu sonho de ser uma cantora famosa, Komatsu por vezes se vê perdida entre empregos que não pagam muito bem e relacionamentos amorosos que não duram muito.
As diferenças entre as duas, a princípio, parecem ser aquilo que as afastará, mas o que acontece é exatamente o contrário. O encontro no trem foi apenas a primeira vez em que as duas se esbarrariam visto que, dias mais tarde, quando Nana Komatsu busca um apartamento para morar, acaba encontrando novamente Nana Osaki. Depois de alguma conversa com o corretor de imóveis, as duas concordam em dividir o apartamento 707 (“nana”, em japonês, significa “sete”) e é a partir daí que a trama do mangá começa a se desenrolar: de coincidências e encontros inesperados surge uma forte amizade entre duas jovens mulheres em busca de independência e da realização de seus sonhos.
NANA foi um dos primeiros mangás que li que não utiliza magia ou acontecimentos sobrenaturais como fio condutor de sua trama. Toda a história de Nana Osaki e Nana Komatsu está centrada no dia a dia das duas moças, cobrindo seus dramas, sonhos e anseios. Ai Yazawa consegue mesclar com maestria as personalidades das duas criando uma história bonita e coesa que poderia acontecer com qualquer moça: o término de um relacionamento amoroso que não deu certo, a busca pelo sucesso, um amor mais forte do que tudo, uma gravidez não planejada. NANA ilustra e trabalha com delicadeza o relacionamento entre duas mulheres completamente diferentes que encontram na amizade a força de que precisavam para seguir em frente. É interessante acompanhar o desenvolvimento das duas e como essa amizade bonita e sincera se transforma em um importante ponto de apoio. Apesar de produtos de dois mundos completamente diferentes, Nana Osaki e Nana Komatsu logo formam um laço forte que as guiará por todo o enredo.
É um pouco difícil escrever sobre NANA sem parecer totalmente fangirl, mas a verdade é que esse é um dos meus títulos de mangá favoritos. Parece que qualquer coisa que eu escreva aqui não fará a justiça necessária para essa história incrível. O mangá é muito mais do que uma história sobre duas garotas que se esbarram e começam uma amizade. Há tanta carga dramática em suas páginas quanto há em um romance convencional em formato de livro. Nana Osaki e Nana Komatsu representam belamente as dificuldades que jovens mulheres enfrentam tentando balancear tantos aspectos diferentes em suas vidas, seja no quesito amor ou carreira. Além disso a história desenvolvida por Ai Yazawa é bem realista e dificilmente o enredo descamba para plot twists exagerados ou fora de lugar.
A representação das protagonistas é um exemplo perfeito de como Yazawa trabalha maravilhosamente bem suas personagens. A princípio, me incomodava muito com a aparente ingenuidade de Nana Komatsu, mas depois de ter relido o mangá alguns anos depois acabei percebendo que ela é importante para mostrar a maneira como as mulheres são levadas a pensar sobre si mesmas e sobre seu futuro. O sonho de Nana Komatsu de se casar e constituir família parece pouco perto do sonho de Nana Osaki de se tornar uma estrela do rock, mas a verdade é que ambos os sonhos são válidos e nenhum deve ser diminuído. Isso é refletido na amizade das duas visto que não há brigas, intrigas ou ciúmes, algo tão fácil de ser encontrado em amizades femininas representadas na cultura pop: elas são amigas e, acima de tudo, se apoiam e torcem uma pela outra.
Além dessa amizade fantástica, outros pontos muito importantes do mangá que praticamente se transformam em personagens da história são a forte presença da moda e da música, principalmente com o viés punk. Utilizar-se da moda para destacar as características de seus personagens é basicamente uma marca registrada de Ai Yazawa, visto que em Paradise Kiss acontece a mesma coisa (e com mais evidência, visto que o enredo do mangá é desenvolvido em meio a uma escola de moda e ateliês de costura). Em NANA todo esse universo entra em evidência principalmente por conta de Nana Osaki que não só é adepta do estilo punk na hora de se vestir (ela usa muitas peças da Vivienne Westwood, por exemplo) como também é vocalista de uma banda de punk rock, a Black Stones.
Aí você pode estar se perguntando: como é que um mangá tem música? O mangá é a obra original, mas depois do enorme sucesso de vendas a história em quadrinhos foi transformada em um anime com 47 episódios em live action. É daí que vem uma das minhas trilhas sonoras favoritas de anime. Para interpretar as músicas como se fosse Nana Osaki, a cantora japonesa Ana Tsuchiya foi convidada e simplesmente incorporou a personagem de maneira magnífica. A experiência de ouvir as músicas e ler o mangá é simplesmente perfeita, é como se Nana e sua banda criassem vida, saindo das páginas direto para o estrelato.
Além das carismáticas protagonistas, os demais personagens são tão ricos e complexos quanto as duas Nanas. Temos os integrantes da Black Stones — Nobu, Shin e Yazu — tão diversos e únicos; a banda Trapnest, de Ren, namorado de Nana Osaki, que conta com a enigmática vocalista Reira, além de Takumi e Naoki. Nenhum desses personagens existe por existir e somam ao enredo com muita propriedade. A narrativa toda de Ai Yazawa, na verdade, sempre resgata os personagens de tempos em tempos fazendo-os parte intrínseca da vida das protagonistas.
NANA tem uma história excelente que fica com você mesmo anos depois da leitura e passa a mensagem de que uma amizade verdadeira entre mulheres é possível e muito importante. Nana Osaki e Nana Komatsu se esbarram e o que era para ser apenas um encontro qualquer se transforma em uma amizade forte e duradoura. Elas se apoiam uma na outra e fazem o possível para que a amizade permaneça. Acho importantíssimo destacar histórias que mostram relacionamentos saudáveis entre mulheres já que a grande mídia já nos faz um enorme desfavor ao, invariavelmente, colocar personagens femininas competindo entre si.
O mangá foi publicado no Brasil pela Editora JBC até o volume 21, que também é o último volume publicado no Japão. Devido a problemas de saúde de Ai Yazawa, a história encontra-se atualmente em hiatus. Aos fãs, fica a torcida de que a autora melhore o suficiente para retomar essa história linda e que possamos ver um desfecho a altura de personagens tão queridas.
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Pensando que a escrita me lembrava um pouco da Thay, oras, o texto é teu mesmo menina. hahaha!
Particularmente nunca me interessei muito por NANA, e como ele aparentemente ficou parado, me desinteressei mais ainda (eu e meu problema com coisas que não tem final).
Mas o que eu queria comentar mesmo é que, na verdade, NANA é um mangá shoujo. Muita gente confunde ele com Josei em vista dos temas que aparecem na história, mas ele foi publicado em uma revista Shoujo, a Cookie (Shueisha). Josei é o Paradise Kiss, que se não me engano foi publicado na feel Young. Só um detalhe bobo mas eu gosto de falar pras pessoas porque eu acho isso hilário (fomos todos enganados, gente!)
Beijos! :*
HAHAHA, SOU EU! <3
Então, eu pesquisei antes de colocar que é josei no texto e encontrei que, mesmo publicado na Cookie, o mangá se enquadra no josei e não no shoujo! Mas sei lá? HAHA, isso não muda muito o fato de que a trama é maravilhosa e que você tem que ler sim, senhora! Realmente não tem final, mas até lá é uma jornada tão bonita que acho que vale arriscar mesmo assim.