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Hex: uma bruxa ancestral na era da modernidade

Hex, escrito por Thomas Olde Heuvelt e publicado pela editora DarkSide é uma mistura de histórias clássicas de bruxas queimadas em fogueiras com nosso mundo atual. Afinal, se bruxas amaldiçoadas existissem ainda hoje, como usaríamos a tecnologia para combatê-las? Ou melhor: como usaríamos a tecnologia para nos proteger e evitar o pior? São essas as perguntas respondidas nesse incrível livro de mistério e terror, que deixa a leitora tensa a cada página.

O livro conta a história de Black Spring, uma cidade que foi amaldiçoada há mais de 300 anos por Katherine Van Wyler, uma bruxa, condenada e morta pelos antigos cidadãos do lugar, mas que até hoje, de alguma forma, se mantém andando pelas ruas, com seus olhos e bocas costurados, em estado de decomposição e acorrentada. Apesar de impotente, Katherine ainda tem grande influência sobre a cidade, sussurrando a morte nos ouvidos dos moradores e impedindo que aqueles que vivem por lá se afastem por muito tempo do lugar.

Todos na cidade sabem sobre a bruxa e sua maldição, e fazem de tudo para monitorar Katherine e, de certa forma, até mesmo protegê-la, assim como para impedir que o resto do mundo saiba sobre sua existência. Tudo isso porque, apesar de a bruxa parecer mais com um boneco sem vida e consciência que anda livremente pela cidade, ao longo da história de Black Spring, as poucas vezes em que o governo ou as pessoas tentaram libertá-la, estudá-la, entendê-la ou matá-la (novamente), grandes desastres ocorreram, levando à morte de dezenas de cidadãos inocentes pela cidade.

Como forma de proteção, a cidade cria um gigantesco sistema de vigilância, monitorando a bruxa a cada passo, por meio de câmeras e do aplicativo hexapp, em que as pessoas podem indicar a localização de Katherine, o que ela está fazendo, quem está com ela etc. Para ocultar a situação dos turistas, a cidade utiliza lendas e festivais sobre bruxaria. Apesar de as pessoas tentarem ter uma vida normal, a paranoia e terror causados pela bruxa estão sempre presentes e se tornam cada vez maiores quando um grupo de adolescentes da cidade, que não aguenta mais o controle e opressão do governo, resolve provocar a bruxa para testar seus limites.

A primeira coisa que me chamou a atenção em Hex, e que me fez comprá-lo correndo e devorar cada página, foi a sinopse incrível e as enormes possibilidades que ela trazia para a construção de uma história diferente, misturando um terror antigo com o mundo moderno. Fiquei extremamente curiosa em saber como a tecnologia seria usada contra um ser sobrenatural e mágico. E, apesar da enorme expectativa, o livro conseguiu ultrapassá-la.

Capa Hex

Muitas coisas fizeram com que o livro se tornasse tão memorável para mim. A história, apesar de em seu início nos levar a crer que Katherine Van Wyler é uma bruxa horrenda e maléfica, aos poucos vai nos deixando com dúvidas se isso realmente é verdade ou se a lenda dessa mulher não passa de invenção de mentes supersticiosas (e misóginas) de épocas passadas, em que qualquer motivo, por menor que fosse, era suficiente para condenar uma mulher à morte por bruxaria. Hoje em dia, todos nós temos pleno conhecimento de que muitas mulheres foram mortas na antiguidade, acusadas de serem bruxas, simplesmente por serem mães solteiras, terem recebido heranças por serem filhas únicas, terem conhecimento de plantas e ervas medicinais, por terem conhecimentos médicos, entre muitos outros motivos ridículos, focados principalmente na figura feminina. É aí que Hex se destaca, pois nos leva em vários momentos a questionarmos se Katherine realmente é uma bruxa, ou se foi só mais uma mulher inocente queimada viva.

Além disso, o livro também explora um outro caminho: afinal, e se ela realmente era uma bruxa, mas nunca fez nenhum mal à população da cidade, e ainda assim foi condenada? Ela merecia ter passado por tudo que fizeram com ela somente por ter poderes místicos? Mesmo nunca tendo usado esses poderes para fazer coisas maléficas? Se isso for verdade, talvez sua morte tenha sido tão violenta, que inconscientemente ela tenha liberado seus poderes para executar uma vingança sobre Black Spring. De qualquer forma, a cidade está aprisionada por ela.

Hex brinca em vários momentos conosco, nos fazendo tanto duvidar da natureza maléfica de Katherine, quanto ter plena certeza dela. Esse jogo nos faz entender melhor alguns dos personagens da história, desde aqueles que temem a bruxa e a veem como a encarnação do mal, como aqueles que têm certa pena de sua condição, mas não a ponto de terem coragem de interagir com ela ou fazer algo em relação a isso.

Apesar de Katherine ser uma personagem bastante dúbia e que gera muito medo, é a dualidade das pessoas da cidade que mais nos faz ficar horrorizados durante a leitura. A paranoia e o medo levam as pessoas a se tornarem cada vez mais fanáticas, e o governo a se tornar cada vez mais opressor, usando como justificativa a necessidade de salvar a cidade. O povo começa até mesmo a se voltar uns contra os outros, buscando encontrar “o culpado” das coisas ruins que acontecem na cidade. Não podendo lutar contra Katherine, acabam condenando de forma bárbara e ignorante aqueles que quebraram as regras, e até mesmo pessoas inocentes, mostrando que os cidadãos de Black Spring dos dias de hoje não aprenderam nada com os erros de 300 anos atrás. Mais do que isso: que em situações de medo extremo, as pessoas podem vir a perder sua humanidade muito facilmente.

Se você busca uma história envolvente, que irá deixá-la confusa, assutada, tensa, feliz, aliviada, irritada, aterrorizada, enojada e tudo mais que se possa sentir, esse livro é perfeito e vale cada centavo. Eu acredito que, no futuro, Hex possa vir a ser considerado um grande clássico para amantes de terror e suspense, se tornando um daqueles livros indispensáveis, como os de Stephen King (que, por sinal, amou o livro). Hex ganhará uma adaptação para a TV pela Warner Brothers, e terá como roteirista Gary Dauberman, responsável pelos roteiros de It: A Coisa e Annabelle. Ainda não há muitas informações sobre a série, mas com certeza ficaremos de olho.

Ficha tecnica Hex - 5 estrelas


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** A arte em destaque e o banner são de autoria da colaboradora Duds Saldanha.