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O Diário da Princesa e o empoderamento de Mia Thermopolis

A série O Diário da Princesa teve seu primeiro livro lançado há mais de 15 anos e essa foi minha introdução ao gênero YA, young adult ou jovem adulto. Assim como a história de Mia Thermopolis, esse tipo de livro costuma se ambientar no período de transição entre adolescência e idade adulta, e para quem começou a acompanhar as aventuras da princesa desde o lançamento de seu primeiro livro, acabou crescendo junto com a carismática protagonista.

Atenção: este texto contém spoilers

Mia Thermopolis é uma garota comum até o dia que descobre que, na verdade, é Amelia Mignonette Grimaldi Thermopolis Renaldo, princesa de Genovia, um fictício país europeu. A partir desse momento, toda a sua vida muda e sua nova posição é anunciada — tudo isso enquanto passa pelo ensino médio.

No decorrer dos livros (11, no total), acompanhamos o desabrochar da personagem em vários sentidos. Quando ela começa a namorar Michael, o irmão da melhor amiga. Quando ganha maiores responsabilidades como parte da realeza, quando escreve um romance como trabalho final, quando planeja o próprio casamento e até quando descobre que tem uma irmã. A história de Mia Thermopolis também virou filme logo após o lançamento do primeiro livro e sofreu várias mudanças em relação à história original, mas ver Anne Hathaway no papel só faz quem já era fã da história gostar ainda mais.

Mia Thermopolis

Sem entrar em maiores detalhes sobre o último livro da série, lançado seis anos após seu antecessor, a vida de Mia dá um galope, com a passagem de bastante tempo entre uma história e outra. E isso acontece com a vida de suas leitoras também. Mesmo para quem segue lendo um livro atrás do outro, o que vale é entender toda a construção de caráter e personalidade que a princesa desenvolve junto com quem acompanha sua vida. Da adolescente que não dava grande atenção à própria imagem e tinha ansiedade na hora de falar com meninos para uma mulher que ainda tem alguns medos, mas que sabe o que quer para si e para seu país. E isso só acontece graças às influências que ela tem.

Mia é criada pela mãe, Helen, já que seu pai, Philipe, está em Genovia (sem que ela saiba). Artista, ativista social, feminista e independente, Helen a cria para que seja uma garota igualmente independente e cheia de confiança. Como qualquer adolescente, não importa como somos criadas, acabamos nos sentindo deslocados de uma forma ou outra por não caber nos padrões impostos a nós desde tão cedo. Mas Helen tem um papel fundamental de apoio e incentivo para Mia quando ela precisa ver o quão importante é poder ser princesa e influenciar seu povo da melhor maneira.

A figura de Grandmere, sua avó paterna, aparece no momento em que ela se descobre parte da realeza e imediatamente sentimentos que essa será uma presença forte na vida de Mia. Mulher viúva que governa sozinha um país (ela é rainha regente desde que o marido faleceu), Clarisse, seu primeiro nome, é um exemplo de mulher de grande força com o qual Mia começa a conviver exatamente na fase de desenvolvimento da sua personalidade. Ela é o exemplo perfeito de uma mulher poderosa que a Mia precisava ter em seu crescimento.

Mia Thermopolis

Lily Moscovitz, sua melhor amiga, tão cabeça dura e resmungona, também tem um papel importante na vida da protagonista. Ela tem um programa de TV produzido e dirigido por ela mesma nos anos escolares, foi presidente de classe, esteve ao lado de Mia em todas as situações pela qual viveu na adolescência e, mesmo quando se afastam após o término de Mia e Michael, volta a ser sua melhor amiga ao revelar o real motivo do afastamento — protegê-la de um impostor em sua vida.

Impossível não mencionar também a criadora de todo esse universo, Meg Cabot. A escritora estadunidense já tem mais de 70 livros publicados, voltados tanto para o público jovem adulto quanto para adulto sob o pseudônimo Patricia Cabot. Além de sempre desenvolver personagens que crescem ao longo de suas trajetórias ao lado de grandes figuras femininas, todas elas possuem graus de complexidade dentro do seu contexto. Quem acompanha os trabalhos da autora consegue notar exatamente essa sequência de passos que cada uma das narrativas, da ingenuidade, passando pela descoberta da realidade e seguindo para a maturidade. Níveis que todo ser humano conhece, que trabalha dentro de si e que resolve ao se tornar adulto. Esse ritual de passagem que a escritora leva às leitoras também as ajuda na construção de sua individualidade e a identificar como ganhar mais força e dinamicidade ou que tipo de pessoas querem ter ao seu lado.

Pensar que li o primeiro O Diário da Princesa aos 11 anos e que terminei a série agora, aos 25, vendo a princesa crescer e se tornar adulta, comprova o quanto a literatura influencia na promoção do poder feminino todo os dias.