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Felicia Day e como ser maravilhosa na internet

Talvez você já tenha ouvido falar dela como a rainha dos nerds ou a conheça por seus trabalhos como atriz. Felicia Day já realizou inúmeros trabalhos de atuação sendo, talvez, o mais popular, o de Charlie Bradbury, em Supernatural, uma personagem querida, inteligente e muito especial que auxilia os irmãos Winchester em sua luta contra o mal. Talvez você pode conhecê-la, ainda, da websérie The Guild, produzida e escrita por ela mesma, e exibida no YouTube.

Independente de onde você possa tê-la conhecido, sempre há mais para descobrir. Felicia também tem um livro publicado e, como tenho amado ler sobre minhas heroínas na vida real — e depois de ler sobre a Mindy Kaling, Tina Fey e Amy Pohler —, foi a vez de conhecer um pouco mais sobre ela. Batizado de You’re Never Weird On The Internet (Almost) (você (quase) nunca é estranho na internet, em tradução livre), o livro possui uma linguagem muito acessível e é nele que Felicia conta um pouco sobre sua vida, do momento em que entendeu quem era aos percalços do caminho, o sucesso com o The Guild e o mundo gamer.

Desde pequena, Felicia sempre foi diferente por ter sido educada em casa pela mãe. Depois de fazer aulas muito diversas, como piano e violino (em que era muito boa), ela conseguiu uma bolsa na faculdade de matemática e artes ao mesmo tempo. Levada todos os dias de carro pela mãe até o campus, Felicia não conhecia muita gente para socializar, o que a levou, depois de um tempo, a descobrir na internet uma forma de conhecer um mundo novo onde realmente conseguia se sentir à vontade. Ela fez amigos em jogos on-line, viveu anos praticamente hipnotizada por alguns desses jogos e, desde aquela época, soube o que era ser uma mulher num ambiente de personagens sexualizadas e pessoas mais introvertidas que ela.

Há um trecho em que Felicia conta que sua personagem em World of Warcraft, mesmo sendo mulher, não significava nada, já que haviam avatares de mulheres que eram interpretadas por jogadores homens. Quando foi montado um grupo de guerreiros no ambiente virtual e eles passaram a usar microfones para conversar on-line, e seus colegas descobriram que ela era mulher, eles ficaram surpresos por um momento, mas o fato não afetou a maneira como interagiam e jogavam. Era um grupo muito mais amigável do que ela poderia imaginar e não seria sempre assim no mundo on-line.

felicia day

Depois de formada na faculdade, Felicia Day decidiu seguir seu real sonho: tornar-se atriz. Assim como nos jogos, ela acreditava que, como atriz, poderia viver e pensar como outra pessoa, e era isso que gostaria de fazer da vida. Por isso, ela se mudou para Los Angeles e lá passou por vários perrengues para encontrar trabalho e também para conseguir vencer seu vício por RPGs on-line. Foi nesse momento que Felicia percebeu que se os trabalhos como atriz estavam difíceis, ela poderia criar suas próprias histórias e personagens.

Foi nessa época que ela decidiu criar The Guild, uma comédia exibida no YouTube que fala sobre um grupo de amigos que jogavam MMORPG (massively multiplayer online role-playing game), um jogo similar a World of Warcraft. A série foi exibida de 2007 a 2013, teve seis temporadas e, depois do sucesso, teve seus episódios vendidos no iTunes e inseridos no catálogo da Netflix. Com o sucesso da série, Felicia criou seu próprio canal no YouTube — o Geek & Sundry — para vídeos, resenhas e dicas sobre o universo geek. Por seu trabalho, Felicia Day já recebeu diferentes prêmios: de interpretação, roteiro e produção.

Mas a vida de Felicia nem sempre foi tão divertida quanto um jogo on-line.

Felicia sofre desde pequena de ansiedade e passou por um período de depressão profunda enquanto escrevia algumas temporadas de The Guild. No livro, ela conta, de maneira sincera e aberta, que se sentia uma farsa e achava que nada que fizesse depois da série mereceria atenção, e que, durante alguns bloqueios criativos, chegou a se perguntar como o mundo seria sem ela, nutrindo pensamentos suicidas. Foi nesse período que ela começou a ficar muito doente também fisicamente. Felicia fala sobre como a sociedade julga pessoas que sofrem com problemas psicológicos, então foi só quando notou que seu corpo também sofria que buscou ajuda médica. Doenças como depressão e ansiedade muitas vezes são subestimadas e relegadas somente a tensões e não problemas reais que precisam de ajuda profissional para serem combatidos. Com o acompanhamento de um psicólogo e mudança de hábitos, Felicia conseguiu voltar a ser ela mesma, com energia e criatividade.

Pessoalmente, vi em Felicia Day uma grande personalidade para admirar: ela é uma representação feminina dentro do mundo dos jogos e da comédia, uma mulher que, como tantas, está inserida profissionalmente em um mundo machista e que conseguiu se sobrepor a tudo isso para mostrar que é possível, sim, ter seu lugar nesse meio. Mesmo cultivando amigos virtuais, mesmo passando horas na internet desbravando planetas desconhecidos, foi ali que Felicia teve coragem para se mostrar, mais confiança para se provar.

Felicia conta que passou por muitos problemas quando se envolveu com o movimento #GamerGatecom o propósito de discutir casos de corrupção na indústria dos games, o #GamerGate tomou proporções gigantescas e fez de seu alvo, principalmente, mulheres —, onde anônimos se juntaram para difamá-la na internet e menosprezar seu trabalho. Felicia não foi a única e muitas mulheres envolvidas com jogos e feminismo sofreram grande repressão por parte dos criadores do movimento, incomodados com o número crescente de mulheres na indústria dos jogos. Felicia sabia que precisava criticar a comunidade machista e se expor, marcando presença on-line, mesmo com consequências assustadoras — como ter seu endereço de casa divulgado para quem quisesse ver. Mesmo com todas as ameaças e mensagens de ódio que recebeu ao dar o seu recado em uma publicação em seu Tumblr, Felicia disse que se sentiu fazendo a diferença ao tomar uma posição em um assunto tão delicado

A trajetória de Felicia Day nos mostra que a internet tem espaço para todos. Seja você estranho ou não, há lugar para que todo mundo possa fazer o que mais gosta e encontrar outras pessoas com inclinações similares. Pode parecer difícil desbravar um terreno inóspito e desconhecido em um primeiro momento, mas com uma guilda formada por amigos e pontos de experiência se vai longe.


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