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Live more, laugh more, eat more, talk more: um ano de Gilmore Girls – A Year in the Life

Em “Those Are Strings, Pinocchio”, Rory (Alexis Bledel) abre seu discurso de oradora da turma dando as boas-vindas a todos os presentes e descrevendo como foi esperar o dia de sua formatura: “Jamais pensamos que esse dia chegaria. Rezamos pela sua rápida chegada, riscamos os dias dos nossos calendários, contamos horas, minutos e segundos.” Da mesma forma, podemos descrever como foi a nossa expectativa para o revival de Gilmore Girls; evento com o qual sonhamos brandamente desde o final da série clássica em 2007 e ardentemente desde que foi confirmado em meados de 2015.

Que todas nós amamos Gilmore Girls não é novidade alguma. O revival, que completa seu primeiro ano amanhã, nos fez (re)viver a experiência de acompanhar notícias inéditas, fazer especulações, interpretar trailers e fotografias, porque o que Gilmore Girls tinha a nos revelar do presente havia se tornado um assunto muito pessoal. Ainda que muitas de nós não tenham acompanhado a série desde os seus primórdios, a história de Lorelai (Lauren Graham) e Rory Gilmore nos marcou de modo muito particular. Não é uma surpresa que a série tenha escalado o topo de séries originais da Netflix, tornando-se a mais maratonada em menos de 24 horas segundo dados do serviço de streaming; fomos sedentas ao pote, em busca da velha sensação de conforto e encanto que tanto amamos e tanto havíamos esperado.

Mas o que ficou desse sentimento um ano depois? Quais foram os erros e acertos de Amy Sherman e Daniel Palladino que enxergamos depois do deslumbre? Nós realmente matamos a saudade com apenas um revival? Provavelmente não. Isso porque Gilmore Girls é uma série simples, que fala de pessoas normais, gente como a gente, que está tentando viver um dia de cada vez, se atrapalha, tenta de novo e no fim do dia só quer comer uma comidinha gostosa em boa companhia. Em meio a tantas séries com histórias mágicas, fantásticas, repletas de efeitos especiais que nos enchem os olhos, às vezes sentimos falta de um sentimento de lar. Isso Gilmore Girls certamente tem de sobra — e é por isso sempre voltamos a ela.

“Haven’t done that for a while”
“Felt good”

gilmore girls

Atenção: esse texto contém spoilers!

YUU: Então, que tal começarmos do fim? O que vocês acharam das quatro últimas palavras?

FERNANDA: Acho que o que eu mais gosto sobre as últimas palavras é que é impossível saber exatamente como eu me sinto sobre isso. Não é um final feliz, tampouco é um final triste, mas quanto mais penso nelas, mais tenho certeza de que ele combina muito com tudo o que a série fez até hoje — não no sentido de as histórias se repetirem, porque não acho que seja isso, mas no sentido de que a vida surpreende muito e a gente tem que aprender a seguir com ela a partir desses desvios.

ANA LUÍZA: Não sei se tenho uma opinião 100% formada sobre as palavras finais. Elas me pegaram de surpresa e não necessariamente de um jeito bom, mas passado o susto, acho que existe algum sentido ali. Não é algo que esperava que acontecesse com a Rory, mas o que é o revival senão uma desconstrução de todas as nossas certezas sobre a menina dos olhos de Stars Hollow? Também não acho que seja uma forma de repetir a história, até porque o momento que vive a Rory é completamente diferente do que vivia a Lorelai quando ficou grávida, mas uma forma, como a Fer bem falou, de mostrar que a vida nos surpreende e que precisamos aprender a seguir em frente apesar dos desvios.

YUU: Lembro de ter ficado de queixo caído quando o episódio — e o revival num todo — terminou. Eu havia pensado em várias possibilidades, muitas envolvendo Luke (Scott Patterson) e Lorelai e o relacionamento forever pendente deles, mas esse nó foi amarrado minutos antes, e o foco acabou se voltando pra Rory e a história dela daqui pra frente. Demorei um pouco, mas acabei aceitando bem aquele final. O texto da Fer sobre o paralelo entre Livre e o revival me ajudou a digerir tudo o que tinha ficado meio confuso.

FERNANDA: Obviamente pra mim também foi 100% inesperado, e na hora odiei, mas conforme fui pensando depois — até chegar naquele texto — percebi que era um final com o qual eu podia viver (e a gente nem mesmo tem como saber com certeza se a Rory não optaria por interromper a gravidez, né? Embora eu ache que tudo indique que esse não seria o caminho que ela escolheria).

ANA LUÍZA: Também não imagino a Rory seguindo por esse caminho e acho que seria interessante vê-la desempenhar esse outro papel, ter que pensar em outra pessoas além de si mesma. É bem verdade que ela cresceu, se tornou independente e dona da própria vida, mas ter uma criança que depende de você muda absolutamente tudo. Ao mesmo tempo, fico curiosa pra ver como seria a reação da Lorelai, porque o revival não dá espaço pra isso. No início dos episódios, ela deseja ser mãe novamente e sai em busca disso, sem sucesso. Como seria, então, a descoberta da gravidez da filha?

FERNANDA: Fico curiosa com a reação da Lorelai também, porque ela sempre teve uma postura de alguém que queria que a Rory não cometesse os mesmos “erros” que ela (quer dizer, embora a Rory seja obviamente a coisa mais importante na vida dela, não foi planejado e muito menos fácil, né?). É interessante que ela precisou passar por um momento próprio e solitário pra voltar a estar em paz, então é como se os Palladino estivessem levando ela até um estado de espírito em que ela estaria pronta pra ser o suporte da Rory.

YUU: “Talvez pela primeira vez na vida, ela vai ter que pensar em outra pessoas além de si mesma” concordo! Aquela cena da discussão com a Lorelai no cemitério deixou muito evidente como a Rory prioriza os próprios objetivos mais do que os sentimentos da própria mãe em relação a algo que envolve as duas. Também acho que a Lorelai estaria pronta para dar suporte à Rory. E a Emily (Kelly Bishop)! Acho que em tempos de Richard (Edward Herrmann), a Emily surtaria, porque o Richard provavelmente surtaria, e eles tentariam induzir a Rory a “fazer a coisa certa” daquele jeito aristocrático all over again. Dessa vez, não sinto que a gravidez vai se tornar um drama familiar.

FERNANDA: Também acho, Yuu. O que mostra que não seria o caso de uma história que se repete, mas de uma criança que nasceria num ambiente muito menos hostil e com amor vindo de muitos lados. Acho que a Emily estaria pronta pra ver uma criação mais livre, a Lorelai pra não precisar de uma Criança Perfeita pra Provar um Ponto e a Rory não estaria muito pronta pra nada, mas seria obrigada a amadurecer de formas muitos próprias e novas — não só porque é ela, mas porque acho que ter um filho faz isso com qualquer um. (E eu queria demais, ver essa criança crescendo, mesmo que a possibilidade de um revival-do-revival me assuste muito).

ANA LUÍZA: Não acho que a reação da Lorelai seria das melhores — talvez ela precisasse de algum tempo pra absorver a notícia, mas concordo que ela seria uma ótima avó. Não era isso que ela esperava ou queria pra vida da filha, mas, de novo, a vida acontece e ela sabe disso melhor do que ninguém. Agora a Emily certamente lidaria com isso muito melhor agora. O arco dela após a morte do Richard mudou muito toda a vida dela e essa nova versão parece muito mais leve e em paz consigo mesma, e também com os outros. Sem dúvida seria um momento muito novo pra todo mundo.

YUU: A Lorelai foi uma ótima mãe, mas vemos durante a série clássica que ela tinha muitos problemas em ser filha, e por ora, adulta também. Ela superprotegia a Rory e arranjava brigas infundadas, mas que na visão dela, ela tinha o direito de comprar. Vide as brigas com o Jess (Milo Ventimiglia) — e o Luke, por causa do Jess — e do diretor Charleston (Dakin Matthews). Demorou, mas ela evoluiu, porque eventualmente Rory foi para Yale, e ela precisou respeitar alguns limites. E embora eu tenha muitos receios em relação à família lidar com a gravidez da Rory, me preocupa a situação do relacionamento dela. Será que contaria para o Logan (Matt Czuchry) que está grávida dele? Se contasse, ele seria um Christopher (David Sutcliffe) 2.0? Sinto que teria várias ameaças no meio, principalmente pelo nome Huntzberger estar em jogo.

ANA LUÍZA: Gosto muito quando a Rory vai pra Yale justamente por isso. Acho que as duas têm a oportunidade de amadurecer um bocado, tanto porque estão mais distantes fisicamente, quanto porque a Lorelai começa a não ter mais as respostas que a Rory precisa e não pode ajudá-la em tudo. Ela aconselhava, era uma boa mãe, entendia questões que diziam respeito à escola, Stars Hollow, relacionamentos e família, mas ela não tinha a vivência de uma faculdade e nem do trabalho, já que as duas seguiram carreiras muito diferentes. Não tem muito o que ela possa fazer e a Rory, no fim das contas, é dona do próprio nariz. É meio o que acontece no revival também: elas conversam, mas a Lorelai já não se mete na vida da Rory como antes.

FERNANDA: Acho que uma das belezas de Gilmore Girls é que ela é essencialmente sobre os conflitos nas relações humanas de basicamente qualquer natureza (afinal, que trama tem GG para além dos personagens?), e que eles são praticamente inevitáveis, mas que é possível contorná-los quando as pessoas são importantes para nós e estamos dispostas a fazer um esforço. Então a gravidez e a maternidade da Rory com certeza trariam muitos conflitos. Mas eu acho de verdade que ia ficar tudo bem.

ANA LUÍZA: Não sei se ela contaria. Chega até a ser irônico que eles tenham se despedido e surge uma criança para uni-los novamente (ou quase), mas existem muitos problemas, é claro, a começar pelo casamento do Logan e, como a Yuu bem lembrou, o fato da criança ser um Huntzberger. Acho que, eventualmente, ela contaria sim, mas talvez não fique exatamente feliz por isso ou tente esconder por tempo demais antes, não sei. É realmente uma questão. Mesmo assim, também acho que as coisas ficariam bem no final. Não sei se o Logan seria um Christopher 2.0, acho que ele não seria tão ausente como o Christopher foi por muito tempo, mas também não seria o cenário ideal.

FERNANDA: Acho que a Rory não se sentiria no direito de não contar pro Logan, mas acho que ele seria presente no nível Christopher mesmo — não consigo ver nesse Logan do revival alguém que faz mais do que isso, embora talvez por ser mais velho ele talvez tivesse mais… noção.

ANA LUÍZA: Eu tenho fé que ele seria um pai mais presente, na medida do possível.

YUU: O que eu acho complicado no relacionamento dos dois é que o Logan sempre tenta resolver os problemas da Rory com coisas. Ela termina com ele por telefone? Ele arranja uma despedida teatral com a Brigada (que já deveria estar aposentada, btw). Ela precisa de um lugar pra escrever? Ele oferece uma casa da família dele como retiro. Não acho que ele ofereceria qualquer apoio emocional como pai, só tentaria dar conforto, enquanto Mitchum Huntzberger (Gregg Henry) surtaria por ter um neto bastardo na família quando o Logan está prestes a fazer um casamento “à altura”.

FERNANDA: Acho que consigo enxergar mais o Jess e o Luke como as figuras paternas dessa criança. Se a Rory quisesse o Jess na vida dela. Não tem nada que comprove, mas o final dá a impressão de que ele estaria disposto, talvez? Não consigo ver um Logan presente, mas consigo ver um Logan que tenta dar “tudo que a criança precisa” em termos materiais.

YUU: Nesse ponto, eu realmente concordo que o Jess seria um parceiro melhor pra ela. Foi ele, afinal, quem apontou o caminho do livro que ela deveria escrever. Mas odeio que a Rory fique limitada só aos ex-pretendentes (porque os novos ela trata como lixo).

ANA LUÍZA: Eu gosto bastante do Logan. Acho que foi o relacionamento mais estável e pé no chão que a Rory teve durante a série clássica. Odeio o fato deles terem mantido um relacionamento no revival e principalmente como foi mantido, porque existiam outras pessoas e eles não foram honestos em momento algum — nem ele, tampouco ela —, mas com um filho no meio acho que as coisas mudariam não só pra Rory, mas pro Logan também. É bem verdade que, socialmente, muito menos seria esperado dele e não acho que ele deixaria sua esposa “à altura” pela Rory e uma vida ao lado dela, mas consigo imaginá-lo mais presente que o Christian e dando mais apoio pra Rory e pra criança. Não consigo imaginar o Jess como uma solução tampouco, embora ele tenha amadurecido bastante.

FERNANDA: Só me pareceu tudo unilateral demais pra shippar, mas que ele cresceu demais não resta dúvida pra ninguém. Porém todavia contudo é REAL esse incômodo com a limitação dos arcos da Rory aos ex-namorados. “Parem de falar sobre os ex da Rory!!!”, diz Amy Sherman-Palladino. “Mas aqui vai ela interagindo com todos os seus ex e o atual é uma piada” kkkk difícil

YUU: Pior que o musical, só o plot do Paul — um slogan para o revival. Muito difícil. Parece que a Amy escreveu o revival querendo dar continuidade ao que a série era em 2007, mas, oi, nove anos se passaram e a gente esperava mais mudanças do que aquelas que ela foi obrigada a fazer.

FERNANDA: De fato. O que me leva à pergunta: um ano depois, que erros do revival vocês ainda não conseguem superar? Tenho alguns.

YUU: O descaso com a Lane (Keiko Agena) é um erro que eu JAMAIS vou superar. A gente não sabe exatamente o que ela faz agora, ou o Zach (Todd Lowe), e tampouco conhecemos os filhos dela. Eles só… existem. E de personagem secundária com uma história própria, Lane virou só o ombro pra Rory desabafar quando briga com a Lorelai ou está em crise com o Logan.

FERNANDA: Quanto a Rory e Logan nas condições que aconteceu (dupla traição sem nenhuma consequência porque Paul e a Odette nem personagens eram, etc), acho de uma desnecessidade sem tamanho. Rory já faz esse papel e já foi traída pelo Logan também, sabe. De novo? Sério? Quanto à Lane, totalmente. A gente pode até ficar chateada com algumas coisas no desenvolvimento da Paris (Liza Weil), por exemplo, mas ela TEM um desenvolvimento, ela tem destaque, ela existe para além da Rory.

E, Lane deserved better nem é questão do revival, é desde a série clássica. Os Palladino ficaram sem saber o que fazer com ela, mas ao mesmo tempo não queriam tirá-la da série (porque sinceramente? Ela podia ter batido as asas, seguido a vida e como consequência não faria mais sentido naquela narrativa a não ser como personagem convidada, e nesse caso acho que seria uma coisa… boa?)

YUU: Acho que o desenvolvimento da Paris no revival foi coerente. Ela sempre se esforçou pra ser bem sucedida academicamente e o casamento com o Doyle (Danny Strong) foi algo que ela conseguiu construir graças ao esforço que ela fazia pra se desenvolver emocionalmente também. E não me surpreende que, apesar de estar com a vida no lugar, ela ainda tenha seus problemas de insegurança. Faz parte dela. (Só achei um absurdo a insegurança com o TRISTIN. QUEM LIGA PRO TRISTIN?) Lane podia ter batido asas e ninguém teria sentido falta da narrativa dela, mas ironicamente, foi exatamente isso que aconteceu com a Sookie (Melissa McCarthy) e eu achei estranhíssimo. Vocês não?

FERNANDA: Acho que já comentei isso na outra mesa, mas Tristin foi tão desnecessário. Era um revival e talvez eles tenham sentido a necessidade de se autorreferenciar, mas acabou sendo demais em certos momentos.

ANA LUÍZA: Lane realmente merecia mais. Estou assistindo as temporadas clássicas de novo e fiquei muito chateada — e triste também — quando vejo a empolgação dela com o início da banda, a dificuldade pra fazer com que tudo dê certo, para driblar a mãe, ou quando a Lorelai diz que ela precisa ficar famosa para apresentá-la ao Bono. É decepcionante chegar no revival e perceber que tudo foi em vão, mas odeio principalmente que a maternidade seja tratada como impedimento. As coisas ficam mais difíceis, hell yeah, mas ao fim de Gilmore Girls o Zach estava tocando para outras bandas e eles pareciam ter algum futuro na música. Quando as coisas mudaram? O que aconteceu? Ninguém realmente pareceu preocupado em dar essas respostas, o que é ainda mais frustrante. E DE QUEM FOI A IDEIA DE DESENTERRAR O TRISTIN? PELO AMOR DE DEUS.

YUU: Nossa, o excesso de referências à série clássica me irritou. Foi muito forçado.

FERNANDA: Sabe que eu não estranhei tanto, Yuu? Gosto demais da Sookie e gostaria que ela de fato estivesse mais presente, mas ao mesmo tempo fez sentido pra mim.

ANA LUÍZA: Acho que faz sentido, em algum nível, que a Paris surte quando ele aparece, não porque ela ainda nutre sentimentos por ele ou não superou a paixão adolescente, mas porque ela está vivendo um momento difícil — a relação com os filhos é conturbada, o casamento vive um momento igualmente conturbado — então tudo isso acaba trazendo de volta questões que nem seriam consideradas em outros momento. Mas gosto de como ela continua sendo uma mulher com inseguranças e tão incrível e bem-sucedida ao mesmo tempo. Não é como se uma coisa invalidasse a outra.

FERNANDA: Outra coisa que me irritou muito foi (acho que até já falamos disso na outra mesa) o erro na hora de acertar o tom cômico da série, que às vezes parecia uma paródia. Stars Hollow sempre foi uma cidade absurda, mas o revival parecia estar tirando sarro desse absurdo, de fora, e não entrando nele, como sempre aconteceu.

YUU: Sim! O revival teve a sensação de uma receita de família que foi perdida e estava sendo improvisada com os ingredientes que lembravam de cabeça.

ANA LUÍZA: Senti muita falta da Sookie. Acho que quando assistimos a série clássica ficamos com a sensação de que a Sookie serve à narrativa da Lorelai e não o contrário, mas eu realmente senti falta da presença dela no revival. Me dava o tempo inteiro a sensação de que faltava alguém e eu queria saber como ela estava, como estavam as crianças, o casamento, o que ela estava fazendo, o que tinha acontecido nesse tempo todo. É realmente bem triste que ela não tenha aparecido mais.

FERNANDA: E de certa forma acho que esse momento da Paris e do pseudo-Tristin (nem era o Chad Michael Murray pra que isso, Deus) é um reflexo desse erro no tom, embora essa perspectiva que a Ana trouxe seja bem interessante.

YUU: O musical foi uma tentativa de upgrade da encenação da “batalha histórica” de Stars Hollow que deu muito errado. Se tivessem colocado os pobres homens tremendo na neve de novo teria dado mais certo. (Apesar de eu ter adorado ver a Sutton Foster no revival. Só podiam ter dado um papel melhor pra ela.)

FERNANDA: Acho que se a Sookie não tivesse aparecido tão pouco por causa do tempo de Melissa [McCarthy] que eles tiveram, e sim por escolha narrativa, teria funcionado melhor. Por exemplo: ela podia visitar uma vez, falar ao telefone com a Lorelai em outras, contar mais sobre a vida dela nessas conversas… Toda uma vida própria, mas de um jeito que fizesse mais sentido. Acho que tudo isso (tipo o musical e a famigerada cena da Brigada) também é reflexo de o revival ter sido tratado como um Evento, se não me engano até na divulgação. Só que não foi bem amarrado, eu acho, e tudo me pareceu fora do tom.

ANA LUÍZA: Nossa, completamente. A segunda vez que assisti ao revival foi logo depois de um rewatch da série clássica e a diferença é gritante. Definitivamente, parecia demais uma receita de família que ficou perdida no tempo e foi improvisada com aquilo que todo mundo meio que lembrava.

YUU: Acho que a Sookie é uma parte importante da vida da Lorelai, mas não serve só pra narrativa dela. Ela teve uns momentos marcantes na série clássica que não estavam ligados à Lorelai, mas Lorelai fazia parte como melhor amiga. Tipo o nascimento do Davey, que é um momento que eu adoro, porque é um parto feito em casa à moda antiga, justo no episódio do Festival de Arte Viva. E eu não suporto os amigos do Logan. Mas vamos fingir que sim, porque o ator que faz o Finn (Tanc Sade) segue a gente no Twitter.

ANA LUÍZA: É o que faz o Finn?

YUU: Não sei, qual é o australiano?

FERNANDA: Também não vejo a Sookie tão como apêndice da Lorelai, e inclusive acho que esse é um dos pontos positivos da série. Seria legal ver mais dela justamente por isso, mas não me incomodou porque ela estava vivendo sua verdade como sempre e isso é bom. Acho.

ANA LUÍZA: Amiga, não faço a menor ideia. Mas deve ser ele mesmo.

FERNANDA: Essa cena da Brigada é mais uma que faria mais sentido se todos eles tivessem 23 anos, não é mesmo? Mas tudo bem. (Obrigada por nos seguir, …Finn…)

YUU: Ah, sim. Ela fez falta para a série, mas ela ter tomado um caminho próprio foi ótimo pra personagem. O Michel (Yanic Truesdale), inclusive, estava prestes a fazer a mesma coisa e isso soou muito natural.

FERNANDA: Concordo, Yuu. São pequenas coisas, mas que são pontos positivos. Falamos muito de questões negativas, mas o que fica de positivo pra vocês, pensando hoje?

YUU: Acho que o desenvolvimento da Emily é uma unanimidade.

ANA LUÍZA: Com certeza!

YUU: E eu gostei bastante do casamento da Lorelai e do Luke também. Demorou, e muito, mas acho que quando eles trocaram as alianças, eles finalmente estavam na mesma página.

FERNANDA: Triste pela morte do Richard, mas que bom que os Palladino conseguiram transformar isso numa coisa bonita, tocante, sabe? Não tem homenagem melhor. Também gostei muito [do casamento]. Claro que é meio surreal que todas essas questões deles tenham ficado quietas por tantos anos, mas a gente faz um esforcinho pra ignorar essa parte e de resto foi muito bonito (e a trilha de fundo, que coisa mais linda!)

ANA LUÍZA: Me incomoda um pouco que Luke e Lorelai tenham chegado nesse ponto, principalmente a falta de diálogo entre os dois, o lance dos filhos, etc. etc., mas acho que a forma como desenvolveram esse conflito foi muito apropriada. Eles realmente pareciam estar na mesma página quando trocaram alianças e acho que isso é o que importa, no final das contas.

YUU: Foi desnecessário a barriga de aluguel tardia, e as mentiras sobre a Lorelai fazer terapia e o Luke sair com a Emily para procurar potenciais lugares de franquia, mas de resto, Luke evoluiu ao ponto de discutir a relação e saber o que quer pros dois, e a Lorelai conseguiu encontrar um equilíbrio em si mesma pra querer a mesma coisa.

ANA LUÍZA: Exatamente!

FERNANDA: Acho que o desenvolvimento da Lorelai até chegar lá foi uma das coisas que mais amei. No começo me incomodou, mas depois aceitei com bom humor as referências e piadinhas com o fenômeno que Livre inspirou, e aquela cena nas montanhas, no telefone com a Emily, foi de chorar mesmo. Lindíssima.

ANA LUÍZA: Aquela cena é maravilhosa! Acho que foi um dos meus momentos favoritos do revival.

YUU: Uma coisa aleatória totalmente cretina foi a cidade ter interferido e feito o Kirk (Sean Gunn) adotar uma porca pra não ter um filho com a Lulu (Rini Bell). Coitado. 2016 e o bullying continua. Chorei demais com aquela cena [na montanha]. Algumas coisas o revival conseguiu casar bem com a série clássica.

FERNANDA: Outro momento que eu achei maravilhoso foi a Rory caminhando pela casa dos avós. São momentos assim que provam que nossa Gilmore Girls está viva, sim. (Às vezes está viva pro mal, né, tipo fazer piadinhas gordofóbicas sem noção em pleno ano de 2016.)

ANA LUÍZA: Juro que com essa história da porca só fiquei pensando na Lulu, coitada. Pelo menos Petal (é Petal?) virou atriz nos filmes do Kirk (filmes by kirk, amo).

YUU: Reza a lenda que existe a possibilidade de continuarem o revival, então espero que esses momentos sustentem GG. Se não for pra ser assim, não precisa, obrigada. (Piadinhas gordofóbicas e descaso com a comunidade LGBT né. “Não tem gays o suficiente em Stars Hollow, quem sabe Woodbury pode emprestar alguns” AAAARGH.)

ANA LUÍZA: Às vezes acho que seria pior se tivesse uma continuação. Claro que seria divertido assistir e adoraria poder acompanhar um pouco mais da vida das garotas Gilmore, mas os Palladino escorregaram tão feio em alguns momentos que tenho até medo do que vem por aí.

FERNANDA: Outra coisa que curti foi que trouxeram muitas pessoas da série clássica de volta (já que era um Evento), mas a maioria apareceu na medida certa, tipo os amigos do Logan, ou o Christopher. Acho que encontraram um equilíbrio bacana nesse sentido. Hoje eu acho que [a série] poderia continuar sim, principalmente porque eles não voltariam com essa ideia de que é um Grande Momento e sendo mais pé no chão seria mais Gilmore Girls de raiz, sabe? Mas os Palladino de fato erraram bastante e seria um voto de confiança que eles talvez nem mereçam.

YUU: Curti muito a aparição do Chris também! Achei que foi straight to the point e na hora e no lugar certos. Só que até hoje não sei o que pensar dele. Gosto ou não gosto? Estou re-assistindo a quinta temporada agora, naquele período insuportável dele, mas não acho que ele seja um cara péssimo. Não sei.

FERNANDA: Acho que essa é a mágica, na verdade. De modo geral os personagens de destaque (alguns servem como complemento e tudo bem) são pessoas complexas e muito humanas, que erram muito e acertam também, e no fim é interessante acompanhar a cada um deles por isso (e por isso dá aquela tristeza quando destratam a Lane como personagem, por exemplo).

ANA LUÍZA: Concordo totalmente. Eu até gosto do Christian, acho que é uma pessoa bem intencionada até, mas é como diz o ditado: de boas intenções o inferno está cheio. Ele tem vários problemas, mas fora um ou dois momentos realmente detestáveis (como o episódio da renovação de votos do Richard e da Emily), acho que gosto dele sim. Ninguém é perfeito. Se for uma lição que Gilmore Girls deixa, talvez seja essa.

YUU: Amém!