Categorias: MÚSICA

Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Música – Lado B

Aqui a música não para e continuando com nossas reminiscência musicais de 2019, trazemos para nosso Troféu Valkirias de Melhores do Ano na Música cantoras que nunca estiveram melhores e tão verdadeiras aquilo que se propõem a fazer enquanto artistas: entreter enquanto nos faz questionar nossos sentimentos, nossas vidas, nossos momentos. De vozes que clamam por mudanças à vozes que só querem dançar um pouco mais, 2019 foi o ano delas.

Madame X, Madonna

Por Jéssica Bandeira

Portugal abriu os portais para o nascimento do 14º álbum de estúdio de Madonna, Madame X. Após ir morar no país do fado, a rainha do pop reconectou-se com a música de um jeito muito especial e poderoso, o que deu origem a um dos melhores álbuns do ano. Madame X é dar um passeio pela diversidade de ritmos que existem neste planeta. O conceito da agente secreta com um tapa-olho que viaja o mundo simboliza os universos pelos quais o álbum percorre. No entanto, todos esses universos têm um ponto em comum: são cheios de significados políticos.

O que faz de Madame X um álbum tão especial é que ele carrega uma mensagem que faz muito sentido para o momento em que vivemos: precisamos olhar para o passado, não repetir os erros do passado, para seguirmos em direção ao futuro. É como diz a faixa Future: “Nem todos estão olhando para o futuro, nem todos estão aprendendo com o passado”. Madonna nos mostra o passado por meio das batukadeiras de Cabo Verde, mulheres que ressignificam a resistência contra a colonização em Cabo Verde. Madonna conta a história de Joana D’Arc em Dark Ballet para nos perguntar: quem são as bruxas do século XXI? Quem está morrendo agora? Madame X é a celebração da personalidade multifacetada de Madonna. Ela carrega em si tantas nuances, e elas foram exploradas muito bem em seu 14º álbum de estúdio.

Para saber mais: Madame X: a celebração do lado camaleônico de Madonna

Magdalene, FKA Twigs

Por Tany

O que mais gosto na FKA é que ela não se satisfaz até alcançar a perfeição. Seja aprendendo pole dance porque isso vai ajudá-la a se expressar mais na hora da performance ou estar no controle de toda produção do seu álbum até soar exatamente como estava imaginando. Não existe alguém parecido com ela no cenário musical atualmente e acredito que vá demorar muito para alguém se aproximar da identidade da sua obra.

Depois de cinco anos do primeiro álbum, o LP1, e com alguns EPs no caminho, o Magdalene saiu no final desse ano e para mim desbancou grande parte dos álbuns que tinham sido meus preferidos durante todos os últimos meses. Magdalene pra mim é um trabalho mais maduro, enxuto e musicalmente impressionante. Eu amo as letras da FKA que não precisam ser complexas para ser absurdamente profundas. Magdalene pra mim é como se ela um dia tivesse sido um rio e agora se transformou em um oceano. As camadas da Tahliah Debrett Barnett como artista, e ouso a falar que como pessoa também, são infinitas e a vejo como um ser humano tão interessante e complexo que é impossível não ser levado para sua arte. Assim como FKA, esse álbum é magnífico.

Músicas Favoritas: mary magdalene, fallen alien e cellophane

Manga, Mayra Andrade 

Por Juliana Bittencourt

Mayra Andrade saiu de Cabo Verde para encantar a todos com sua voz, sotaque e um charme sem igual. Em seu novo álbum, lançado em fevereiro deste ano, a cantora resolveu abraçar a si mesma como inspiração e falar de suas experiências pessoais. O título Manga vem da transformação da fruta, que muda de cor e de textura com o tempo, mas também remete a essa energia tropical que as músicas carregam. Ao todo, são 13 faixas que misturam o português, o crioulo cabo-verdiano e as influências do afro-beat sem nunca perder o ponto.

Este é um álbum para se ouvir em movimento, cada batida e melodia evoca a vontade de balançar as mãos, pés e quadris para inventar novos passos enquanto se cantarola junto. Apesar das canções geralmente animadas, nem sempre o que ouvimos em Manga lembra à doçura da fruta, por vezes as músicas carregam o amargor de algo que ainda não está maduro. “Afeto”, a faixa que abre o álbum, fala justamente de sua falta em versos tão bonitos, que ficam gravados na memória. Já em “Vapor di Imigrason” o tema é a saudade de quem parte em busca de uma vida melhor e de quem fica para trás.

Matriz, Pitty

Por Thay

Pitty é uma força da natureza. Com seu quinto álbum de estúdio (sexto, se formos contabilizar o projeto em parceria com Martin Mendonça, o Agridoce de 2011), a baiana mostra que continua implacável no momento de fazer música. Lançado no início do ano, Matriz cresce a cada vez que você coloca as músicas pra tocar, mostrando como a qualidade do trabalho de Pitty é inegável.

Com participações especiais de peso – a cantora convidou Lazzo Matumbi para “Noite Inteira” além de Larissa Luz e Lazzo para “Sol Quadrado” —  Matriz é um álbum que resgata as origens musicais de Pitty, um retorno ao que ela chama de “baianidade visceral”.

Para saber mais: Pitty: not a delicate flower; Como a Pitty contribuiu para minha formação como mulher

Metal Galaxy, Baby Metal

Por Natália

Inusitadas, fofas, estranhas e diferentes são provavelmente alguns dos termos que se passam na cabeça de quem se dispõe a ouvir Babymetal. Embora o grupo esteja longe daquilo que estamos acostumados a encontrar no Metal, as garotas já acumulam elogios de grandes nomes do meio como Metallica, Judas Priest, Slayer e Dragonforce. Metal Galaxy, o terceiro álbum da banda, é provavelmente o mais consistente e melhor trabalho das garotas. O grupo que mistura um pop melódico fofo com metal é responsável por tornar esse ano um pouco mais suportável através de canções como “PA PA YA!” e “Shanti Shanti Shanti“.

É um trabalho que amando ou odiando, não se pode negar sua originalidade e energia. Babymetal não é um grupo fácil de se vender: pesado demais para os fãs de pop e fofo demais para os fãs de metal. Porém, há algo de especial nessa mistura estranha que me fez querer ouvir incansavelmente essas músicas. Se você nunca ouviu… bom, eu não posso garantir que você vá gostar, mas tenho certeza que você não vai encontrar nada como o Metal Galaxy dentre os lançamentos desse ano!

Norman F*cking Rockwell!, Lana Del Rey

Por Mia

Hipnose é um bom termo para definir as estranhas músicas de Lana Del Rey. Desde seu primeiro álbum, Born to Die, a cantora deixou claro que sabia bem o que estava fazendo, ao andar na contramão do pop, e que era isso o que queria. O que ninguém imaginava aconteceu: ela se tornou uma sensação na música, resgatando uma estética retrô e mostrando seus sentimentos de forma melancólica e poética. Em Norman F*cking Rockwell!, Lana soa como uma Joan Didion musical, cantando sobre a perda, do outro e de si mesma. Não devemos, entretanto, levar essa perda ao pé da letra: Lana é uma artista, criadora de situações em suas músicas, não percorre, necessariamente, o mesmo caminho de Taylor Swift, que canta o que sente. O que se passa na vida emocional de Lana não nos é exposto nos versos, mas nos silêncios, nos suspiros, nas longas demoras entre uma frase musical e outra. O coração de Lana está nas ausências, e o nosso está em “Mariners Apartment Complex”.

Para saber mais: De Born to Die a Lust for Life: a estética nostálgica de Lana Del Rey

Past Life, Maggie Rogers

Por Mariana

Em 2016, a recém-colegiada Maggie Rogers viralizou na internet. Num vídeo de menos de 10 minutos, Maggie apresenta sua música “Alaska” para Pharell Williams, lendário compositor, músico e produtor, durante um seminário ministrado por ele em sua faculdade. A emoção de Williams ao ouvir versos como “ao me afastar de você/ eu me afastei de um velho eu” é evidente, e, após esse encontro, a norte-americana assinou um contrato com uma gravadora famosa, lançou um EP e saiu como headliner em uma turnê esgotada. Só foi em 2019, contudo, que Maggie lançou seu álbum de estreia, o excelente Heard It In a Past Life, disco que, com apenas 26 anos, rendeu-a uma indicação ao Grammy como Artista Revelação.

Past Life é um álbum de folk-pop sólido. Em meio a batidas de sintetizadores que se misturam com ritmos orgânicos que dão a sensação de correr descalço na terra molhada, Maggie leva os ouvintes numa aventura sobre se apaixonar e superar, sobre perder o controle e encontrar a si mesma outra vez. Com letras como “se você quiser ir embora de vez, por mim tudo bem”, Maggie bebe de influências tanto do novo pop norte-americano quanto de tendências europeias pré anos 2000: há tanta Lorde, Taylor Swift e Haim em Past Life quando há Stevie Nicks e Robyn. Maggie canta e performa com uma naturalidade que chega a beirar o desinteresse, mas é seu talento em dramatizar sutilmente situações que parecem corriqueiras ou clichês que atrai o público. Acima de tudo, seu disco de estreia é a trilha sonora perfeita de uma jovem-adulta finalmente descobrindo seu lugar no mundo, se dando conta de que consegue acompanhar as mudanças do mundo mesmo quando elas a deixam tonta: “Eu estou emergindo lentamente/ Estou bêbada nas minhas emoções.”

reality in BLACK, Mamamoo

Por Natália

O segundo full álbum de Mamamoo figura entre os melhores lançamentos que o K-Pop nos entregou neste ano. Com o single cativante e provocativo HIP, Mamamoo rebateu críticas sobre seu visual e aparência, algo nem sempre bem visto quando feito por mulheres na música pop sul-coreana. O álbum surpreendeu até o mais otimista dos fãs, tanto musicalmente, como também pela recepção positiva que alcançou.

É claro, nem todo trabalho precisa se reverter em vendas para merecer destaque, mas é maravilhoso ver Mamamoo estabelecendo novos recordes comerciais com um trabalho que responde com confiança muitas das críticas que as meninas já receberam por não atenderem os padrões exigidos de uma idol feminina. Destaque para “High Tension“, um R&B ao estilo já bem característico de Mamamoo, 4x4ever e Destiny.

Ritto de Passá, Mc Tha

Por Tany

Pode ser que quando você leia o nome da Mc Tha automaticamente associe com funk. Faz sentido e você não está enganada. A paulista de 25 anos começou no funk, mas atualmente navega entre o gênero e a música pop. Neste ano lançou o Ritto de Passá, seu primeiro trabalho que para mim é um dos álbuns mais gostosos e marcantes que ouvi na música nacional. A primeira vez que a ouvi cantando foi em uma  música com o Jaloo e me apaixonei não só pela canção, mas pela voz suave que combinava tanto com a dele, que é um dos meus artistas preferidos.

Quando o álbum foi lançado, não teve jeito, me entreguei completamente. É atual, com letras fortes, e fala muito de amor. O amor próprio, o que sentimos pelos outros e como isso influencia na nossa vida em todos os sentidos. Em partes, sinto muita semelhança com o Ctrl da SZA e apesar de serem artistas diferentes acredito que a mensagem que transmitem em suas letras seja muito parecida. Uma mensagem que tem a ver com se colocar em primeiro lugar e ter a sua rede de apoio, apesar de saber que quem vai nos salvar sempre será nós mesmas. Para mim, a Mc Tha uma das melhores representações da música pop brasileira atual que é cheia de camadas e personalidade e é exatamente isso que ela representa como artista. Músicas Favoritas: Avisa Lá, Comigo Ninguém Pode e Onda

Sunshine Kitty, Tove Lo

Por Thay

Nascida Ebba Tove Elsa Nilsson, na Suécia, Tove Lo retorna com seu álbum quarto álbum de estúdio mais dançante do que nunca. Particularmente não sou uma pessoa de curtir balada ou afins, mas Sunshine Kitty me faria até tentar a experiência só para poder me divertir com as músicas de Tove no volume mais alto possível. Contando histórias de sua vida e de suas amigas, Sunshine Kitty fala muito sobre relacionamentos amorosos, como lidar com eles e tudo o que vem no pacote. A exemplo de “Glad He’s Gone”, onde Tove Lo dá conselhos para sua melhor amiga após o namorado desta decidir ir embora, e “Bad as the Boys”, quando a cantora conta como foi sua primeira paixão por uma menina e como a menina em questão voltou a se relacionar com homens após o final do verão, deixando Tove de coração partido.

Uma das melhores músicas do álbum, “Sweettalk My Heart”, foi a primeira escrita por Tove Lo para Sunshine Kitty e o segundo single, fala sobre como, às vezes, tentamos relevar o lado ruim de uma pessoa para tentar manter o relacionamento vivo, mas como isso nem sempre funciona. Outra canção incrível de Sunshine Kitty é a surpreendente “Are U Gonna Tell Her”, parceria de Tove Lo com o brasileiro MC Zaac — eu não sabia que haveria essa parceria quando dei play no álbum e foi realmente divertido ouvir um funk misturado com pop na voz da sueca. O refrão de “Are U Gonna Tell Her” simplesmente gruda na sua cabeça (“Boom, boom, boom, boom, boom danada/ Boom, boom, boom, boom, boom malandra”) e te faz ficar com vontade de dançar aonde quer que esteja, transporte coletivo ou supermercado. Recomendo.

thank u, next, Ariana Grande

Por Yuu

Ariana Grande é uma máquina de fazer hits, e disso ninguém duvida. Apenas cinco meses após lançar Sweetner, seu quarto álbum de estúdio, a cantora lançou thank u, next no início do ano. Vivendo um momento conturbado após a morte de seu ex-namorado Mac Miller e a separação de seu ex-noivo, Pete Davidson, Ariana buscou na música e no trabalho as forças de que precisava para se reeguer — e thank u, next é o espelho de todo esse processo de cura e amadurecimento pelo qual a cantora passou.

Puxando a fila com o single que também dá nome ao disco, Ariana faz um balanço de sua vida amorosa enquanto agradece por cada um que passou por sua vida. O vídeo, inspirado em comédias queridinhas do público como Meninas Malvadas e Legalmente Loira, foi um sucesso imediato e rendeu milhares de visualizações para Ariana no YouTube. Ainda que “thank u, next” seja, de fato, uma música tão divertida quanto reflexiva, minhas favoritas do álbum são “bad ideia”, “7 rings” e “break up with your girlfriend, i’m bored” — todas canções que te fazem crer que nem o céu é o limite.

Para saber mais: Sweetener e Thank U, Next: os divisores de águas de Ariana Grande; Meiga, porém perigosa: a evolução de Ariana Grande

WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?, Billie Eilish

Por Ana Vieira

Billie Eilish está para Elton John assim como Lorde estava para David Bowie: carregando nas costas o peso de ser considerada O (Próximo) Grande Talento de toda uma geração. E não à toa: entre sussurros e sintetizadores, a cantora, nascida e criada após os eventos de 11 de setembro, se consagrou como a maior sensação de 2019, goste quem gostar e doa a quem doer. Considerada excêntrica e uma das representantes do pop diferentão e temperamental, foi em um estúdio improvisado dentro de um quarto e em conjunto com seu irmão mais velho, Finneas O’Connell, que WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? ganhou vida.

O álbum número um da Billboard 2019 passeia entre o creepy e o apaixonado, o creepy apaixonado e o adolescente insuportável, o egocentrismo e a autoestima detonada, e o melhor? Faz tudo isso de uma maneira tão coesa e bem costurada que fica difícil, em primeiro momento, pensar que é resultado do trabalho de jovens tão… jovens. Erro meu, e erro nosso. Da mesma fonte que bebeu Lorde (sim, ela de novo) para, no auge dos seus anos de debutante, compor “Ribs“, canção de seu álbum de estreia, Pure Heroine, é estranho processar “Ocean Eyes“, a canção de estreia de uma Billie de quatorze anos — e que nem está em WWAFA, WDWG?, mas que oferece um parâmetro do que a artista é capaz. Entre ser o bad guy e a rainha de coroa indo rápido em direção ao inferno, é usando roupas largas e com o cabelo pintado de verde que Billie Eilish conquistou não só seu lugar ao sol e sob os holofotes, mas o topo das paradas e o carinho e admiração de muita gente. Ser normie já eras — ainda bem.