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SKAM: drama adolescente na Noruega

Séries sobre adolescentes são, de longe minhas favoritas. Desde as mais populares e irreais como Gossip Girl e The O.C; cruzando o oceano para as europeias Skin e My Mad Fat Diary; e passando por aquelas que quase ninguém ouviu falar como Slide e Glue. A lista está sempre crescendo.

O fato é que, embora sempre tenha gostado de dramas adolescentes, nunca me senti como uma. E talvez seja esse o motivo da minha fascinação. É uma época de irresponsabilidade, de fazer escolhas erradas, novas amizades e paixões — ao menos, de acordo com tudo o que consumi nesses anos —, mas, na realidade, sempre fui mais espectadora do que personagem. A cantora Lorde escreveu em seu Facebook o quanto ela também era obcecada pela adolescência e foi algo que sempre pensei, mas nunca achei as palavras certas para descrever:

“All my life I’ve been obsessed with adolescence, drunk on it. Even when I was little, I knew that teenagers sparkled. I knew they knew something children didn’t know, and adults ended up forgetting.” 

“Por toda a minha vida eu tenho sido obcecada com a adolescência. Mesmo quando eu era pequena, eu sabia que os adolescentes brilhavam. Eu sabia que eles sabiam algo que as crianças não sabiam e os adultos acabaram se esquecendo.”

skam

Por isso, quando soube sobre SKAM, logo fui procurar do que se tratava, para além de ser uma série adolescente, o que eu já sabia. E o que descobri foi que era uma série norueguesa, na época, no meio da sua terceira temporada. Na mais simples das sinopses, a série narra o dia a dia de um grupo de estudantes que vive em Oslo, Noruega, que frequentam a mesma escola, e seus problemas, inseguranças e anseios. Cada temporada muda a perspectiva e conhecemos mais a fundo um dos personagens.

Na primeira temporada, quem tem o controle da história é Eva (Lisa Teige), estudante do primeiro ano, sem muitos amigos e filha de pais ausentes (na verdade, todos os pais são ausentes; eles não aparecem ou simplesmente não existem, mas isso é praticamente algo normal dentro do gênero) e é com ela que conhecemos o resto dos estudantes e as integrantes do seu recém formado grupo de Russ: Noora (Josefine Frida Pettersen), Vilde (Ulrikke Falch), Chris (Ina Svenningdal), e Sana (Iman Meskini). Já a segunda temporada é vista pela perspectiva de Noora.

Se na primeira temporada é mostrado como se formou o grupo de amigas e um pouco da história pessoal de Eva, na segunda a amizade entre elas é maior e muito mais concreta. Ao longo das duas temporadas é possível ver o amadurecimento das garotas como indivíduos, porque elas estão juntas e criaram uma rede de suporte e apoio entre si, não importa a situação

Sana: “You don’t judge you friends. And you stand up for them. No matter what! Because in my ‘muslin gangster world’ that’s how it works.”

Sana: “Você não julga os amigos. Você os apoia. Não importa o que aconteça. Em meu ‘mundo gângster muçulmano’ é assim que funciona.”

Além de tratar de amizades saudáveis e muito bonitas entre garotas — o que, por si só, é suficiente para amar a série —, SKAM é ótima em lidar com questões morais. Temas importas são discutidos em meio a conversas simples: é uma amiga que fala para a outra que não é legal chamar alguém de vadia só porque ela ficou com outra pessoa ou que não basta se intitular como feminista se suas ações divergem do que prega o movimento. É Noora percebendo que Vilde não está se alimentando direito e, por já ter passado por isso, conversa com ela sobre quão importante é ter uma alimentação balanceada e saudável, ter energia e uma boa pele.

Vilde: “I know you should think, that if a guy doesn’t like you its not you there’s something wrong with. Its him. But how does one think that? I keep thinking its me there’s something wrong with.”

Vilde: “Sei que deveria pensar, se aquele cara não gosta de você, não é que tenha algo de errado com você. É ele. Mas como alguém pensaria nisso? Continuo pensando que tem alguma coisa errada comigo.”

Ou ainda como não há problema nenhum em mudar de opinião por causa de alguém, independente do gênero, desde que os dois lados expressem seus pensamentos e não exista qualquer intimidação.

Sana: “Ok, I think is interesting that you are saying you are against war. War doesn’t start with violence. War starts with misunderstanding and prejudice.”

Sana: “Ok, acho interessante você dizer que é contra a guerra. Guerras não começam com violência. Guerras começam com desentendimentos e preconceitos.”

São conversas realistas e sutis, às vezes cheias de subentendidos, que eu poderia ter com uma amiga. Essa é uma das coisas que tornam SKAM tão fascinante, pois trata questões atuais de forma simples, esclarecedora e sem exageros, ainda que na vida dos adolescentes continuem a existir festas, dramas e relacionamentos.

SKAM também aborda temas como islamismo e religião, nem sempre presentes nesse tipo de produção. Quem dá abertura para esse tipo de discussão é Sana, uma das personagens mais interessantes e inteligentes que já passaram por uma série adolescente. Já na segunda temporada, temas como abuso e consentimento são abordados. Atualmente, Isak (Tarjei Sandvik Moe) é o personagem central e, apesar de as garotas estarem sumidas, a temporada vem abordando homossexualidade de um jeito bastante interessante.

É interessante também prestar atenção em como a série usa o silêncio: se as conversas são importantes, a ausência delas também é e dizem muito. Há cenas em que o silêncio intensifica uma mensagem ou as emoções que transitam em cena, e a tornam muito mais forte do que se um diálogo estivesse acontecendo.

Por ter estreado em 2015, a tecnologia está sempre presente e é fundamental no desenrolar da história, criando um ponto a mais de identificação com os personagens. Já perdi as contas de quantas cenas alguém aparece digitando uma mensagem e apaga, e digita de novo, e apaga — a incerteza que todos sentem ao enviar um recado. Em outros momentos, os personagens aparecem simplesmente olhando os feeds de suas redes sociais ou stalkeando crushes e afins.

Os produtores sabem que a internet é algo presente na vida de qualquer jovem e até criaram perfis para os personagens no Instagram. Durante os dias que precedem um novo episódio, também são publicados screenshots de mensagens que os personagens trocaram entre si naquela semana, como se aquilo estivesse acontecendo em tempo real, ou pequenos clipes de cenas que dão dicas do que está por vir e estarão inclusos no episódio de sexta-feira. É diferente e criativo, e uma ótima jogada de marketing, pois aumenta a curiosidade e o engajamento dos espectadores, que sentem como se os personagens fossem, de fato, pessoas reais. Eles poderiam ser um de nós.

2 comentários

  1. Essa série é incrível!! Acho legal ressaltar que a terceira temporada também está falando de forma bem realista sobre problemas psicológicos, algo que não vemos tanto na TV.

  2. Eu sou fascinado por filmes/séries que tem temática jovem. Porque mesmo com meus vinte e poucos anos, ai me deparo com emoções, sensações, situações que eu já vivi e enfrentei. Isso se chama vida real! E o buzz que vi no twitter em torno de SKAM foi de forma irônica por se assemelhar com a série britanica SKINS, porém, fiquei muito surpreso com a qualidade e roteiro brilhante. Pois eles não pecam no excesso, e isso é fundamental para mostrar aos jovens o resultado de certas escolhas (seja ela negativa ou positiva), mostrar que vivemos em um mundo com diversas diferenças, vários tipos de gente e relações. SKAM me encantou muito e espero me surpreender ainda mais com as próximas temporadas.

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