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Uma Bolota Molenga e Feliz: Sarah Andersen, mulher e millenial

O nome Sarah Andersen não é desconhecido. Para bom vivente da webesfera, a chance de ter cruzado com algum trabalho da jovem adulta nascida em 1992 é grande. Responsável pela página Sarah Scribble’s, que possui mais de dois milhões de curtidas no Facebook, a artista reúne em cômicas tirinhas e pequenas histórias, realidades fictícias e autobiográficas. De forma divertida, suas tirinhas e quadrinhos representam muito bem o cotidiano de muita gente, em especial se você for uma mulher e mais ainda se for millenial.

Formada pelo Maryland Institute College of Art desde 2014, a cartunista e ilustradora fisgou alguns milhares de fãs com o seu trabalho aos longos dos anos — são dois milhões de curtidas no Facebook, mais de 400 mil seguidores no Twitter e quase dois milhões no Instagram. Em 2016 publicou a sua primeira coletânea de tirinhas, Ninguém Vira Adulto de Verdade (Adulthood is a Myth, no original), que ganhou o prêmio de Melhor HQ pelo Goodreads Choice Awards 2016. O primeiro livro, que já foi objeto de resenha aqui no site, é “um relato da vida como ela é, com suas pequenas vitórias e grandes crises existenciais, com a pressão de ser bem sucedida e a vontade enorme de procrastinar, é tentar engatar um relacionamento amoroso sendo extremamente introvertida, é ficar feliz por ter conseguido arrumar o apartamento e ter lavado toda a louça.

Nesse ano, Sarah publicou a sua segunda coletânea, Big Happy Mushy Lump, traduzida para o português como Uma Bolota Molenga e Feliz, e a linha que se segue é a mesma presente no seu trabalho de estreia. Na contracapa de seu segundo trabalho, a sinopse dita que “…[a] segunda coletânea continua exatamente onde a primeira parou: debaixo de uma pilha de cobertas, evitando as responsabilidades do mundo real. Este volume traz tiras que acompanham os altos e baixos da montanha-russa implacável que é o começo da vida adulta, além de ensaios ilustrados sobre experiências pessoais da autora ligadas a ansiedade, carreira, relacionamentos e amor por gatinhos“. Ambas as coletâneas foram publicadas pela Editora Seguinte, do grupo Companhia das Letras, e traduzidas por André Czarnobai.

Uma Bolota Molenga e Feliz, Sarah Andersen, Editora Seguinte, páginas 9, 44 e 8.

No segundo trabalho de Sarah Andersen, temos nada menos do que o melhor da modernidade em forma de tirinhas. Uma Bolota Molenga e Feliz é despretensioso e engraçado, como tudo o que a ilustradora produz. É uma leitura contemporânea e divertida, extremamente sincera e muito bem humorada que traz todos os melhores aspectos da artista: a inteligência, a diversão e a inegável e constante identificação que o leitor consegue ter com o que ali está ilustrado. No livro são trabalhados tópicos como ansiedade, relacionamentos interpessoais, dificuldade em crescer e em se comunicar, pensamentos repetitivos e expansivos (o famigerado overthinking), autoestima e a dificuldade em ser mulher em uma sociedade permeada pelo machismo. Aqui, as tirinhas engraçadas são reunidas em um compilado de 136 páginas, que podem ser lidas em uma tarde ensolarada de sábado ou em um domingo chuvoso (dá certo em qualquer momento!) que representam muito bem uma geração — que não sabe ser adulto de verdade —, sempre conduzido de maneira leve. Não apenas com o intuito de reproduzir o cotidiano tragicômico de uma millenial em sua melhor espécie, Sarah consegue, também, representar muito bem a realidade de uma mulher inserida em uma sociedade machista e patriarcal e flerta, também e muito bem, com as nuances do que significa ser neuroatípico.

O livro traz nas primeiras páginas alguns quadrinhos já bem conhecidos da autora como é o caso do eterno dilema cabelo curto x cabelo comprido, o pavor de comprar blusinhas e perceber que o valor dá pra pagar o rancho do mês, ou o clássico básico da procrastinação, mas segue por outros não tão conhecidos e algumas séries de quadrinhos que, interligados, formam uma única história. Contudo, há dois grandes fatores que fazem de Uma Bolota Molenga e Feliz tão interessante. O primeiro é a forma como Sarah escolhe retratar cenários e acontecimentos básicos do dia a dia de uma mulher, desde uma simples saída a um bar, uma caminhada na rua, ou a pressão estética imposta sobre nós para que estejamos sempre lindas e perfeitas — e como isso é um objetivo inalcançável da mesma maneira; além de também demonstrar e enaltecer a importância de se ter amigas. Em um segundo momento, a coletânea acerta quando trata, de maneira implícita, do que a ansiedade e a depressão podem fazer, e como esses distúrbios afetam a vida de uma pessoa, em especial no que tange a sua vida social.

Uma Bolota Molenga e Feliz, Sarah Andersen, Editora Seguinte, páginas 12, 26 e 75.

Uma Bolota Molenga e Feliz é um desses tipos de livros que a identificação vem muito antes de apreciar o trabalho completo, e já vem estampado na capa. Sarah consegue transmitir a sensação de que estamos todos no mesmo barco, ao mesmo tempo em que aprecia assuntos importantes e delicados. É uma leitura leve, engraçada, de aquecer o coração. E vale muito, muito a pena.

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Editora Companhia das Letras.


** A arte em destaque é de autoria da nossa colaboradora Carol Nazatto. Para conhecer melhor seu trabalho, clique aqui!

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