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Marissa Cooper não era tão ruim assim

A primeira série que assisti na vida foi The O.C. Na época, estava na escola e finalmente me senti representada tendo um programa de televisão direcionado a mim e ao público da mesma faixa etária. A série conta a história de Ryan (Ben McKenzie), um menino pobre e “delinquente” adotado por uma família rica. O seu primeiro episódio foi um sucesso instantâneo, com sua trama repleta de dramas, assuntos polêmicos, casais lindos e invejáveis com uma vida escolar e social regada a eventos e escândalos. E tudo isso tinha um nome e um por quê: Marissa Cooper (Mischa Barton). À primeira vista, ela é a típica girl next door e a menina dos sonhos de Ryan, além de rainha da escola e garota aparentemente rica e perfeita que se parece com uma modelo. Em outros filmes ou séries, Marissa não passaria do interesse romântico do protagonista, mas em The O.C. ela se tornou uma das principais personagens da história e, logo nos primeiros capítulos, roubou a série para si.  

Ainda no início, é notável que Marissa não é uma garota tão perfeita assim: fica bêbada nas festas (de colegas da escola e eventos sociais), tem uma relação problemática com a mãe, não desabafa com nenhum amigo, incluindo Summer (Rachel Bilson), é solitária e infeliz — a pobre menina rica. Talvez por isso, seja fácil odiá-la. Independente da identidade que trouxe para a série, foi ela quem trouxe grande parte dos dramas e problemas para a série, complicando ainda mais a vida de quem era próxima.

Mimada, tóxica, egoísta, privilegiada e chata são algumas palavras usadas para descrevê-la e até mesmo quem gosta da personagem concorda que Marissa nunca foi perfeita ou uma pessoa fácil de lidar. Essas características ficam evidentes em grande parte dos episódios, fazendo com que seja uma pessoa difícil de gostar. “Por que ela só não vai embora?” e “A Marissa está insuportável” são pensamentos que passam pela nossa cabeça enquanto acompanhamos a série porque em diversos momentos ela entra em algum problema diferente que provavelmente seria evitado se tivesse parado dez segundos para pensar no que estava fazendo ou conversar com alguém.

Atenção: este texto contém spoilers!

É muito simples julgar Marissa pela superfície e esquecer que, apesar de todos os seus privilégios e defeitos, ela ainda é uma menina de dezesseis anos, tão insegura quanto qualquer adolescente e que sofreu mais traumas do que muitas pessoas sofrerão durante uma vida inteira. Nos três anos que acompanhamos sua trajetória, a vimos lidar com vários problemas: Oliver (Taylor Handley), o menino que ficou obcecado por ela e ameaçou sua vida; a mãe que engatou um relacionamento sexual com seu ex-namorado; a tentativa de estupro por parte do irmão do seu namorado; a falência da família e a descoberta de que o pai era um ladrão; uma overdose em Tijuana; a morte de um amigo — e possível interesse amoroso — bem na sua frente, além de problemas com depressão, álcool e drogas que a perseguiam desde mais nova. 

Independente das loucuras que cometeu nesse meio tempo e de todas as pessoas que prejudicou, Marissa, no entanto, conseguiu evoluir. Entrou em uma boa faculdade, percebeu que não queria nada disso para si e que o melhor seria se afastar de tudo e de todos, crescer e ter uma vida mais calma. Tudo estava encaminhado, e Marissa, apesar de um escorregão aqui e ali, tomava decisões maduras por conta própria, pensando não apenas em si mesma, mas também no bem dos outros — um grande avanço para a menina que conhecemos no piloto. Infelizmente, não podemos ver sua versão mais madura e, provavelmente, mais interessante, uma vez que ela foi morta rapidamente e de forma brutal no último episódio da terceira temporada.

Estava tudo encaminhado e Marissa, apesar de um escorregão aqui e ali estava tomando decisões maduras por conta própria pensando em si e no bem dos outros, um grande avanço da menina que conhecemos no episódio piloto. Uma pena que não podemos ver sua versão mais madura e, provavelmente, mais interessante, já que foi morta rapidamente e de forma brutal no último episódio da terceira temporada.

Pode parecer absurdo estar em luto por um personagem fictício, mas seus minutos finais ao som de “Hallelujah” é até hoje uma das cenas mais inesquecíveis do mundo das séries. Todo o tempo investido na história fazem com que seja impossível não sentir alguma coisa. Quando o episódio em que Marissa morre foi ao ar, lembro de ter comemorado porque pensava que The O.C. finalmente iria mostrar o que poderia ter sido desde o início e foi quando, para minha surpresa, descobri que sem Marissa Cooper a série perderia sua identidade. Coop, como Summer a chamava, é a menina que todos amamos odiar, mas sem ela tudo fica chato. Na quarta temporada, depois da sua morte, a história perdeu seu tom e foi por um caminho completamente diferente. Sem ela, The O.C. deixou de ser jovem — ou direcionada para tal publico — para virar um drama comum: sem festas, primeiros beijos, garotos, dilemas de escola/faculdade e nenhum acontecimento interessante ou um grande escândalo.

Assistindo The O.C pela segunda vez, comecei a compreender e ver a série com outros olhos e, para minha surpresa, comecei a gostar bastante de Marissa. Ela continua longe de ser perfeita, e é o que a faz tão interessante; e sim, ela ainda é egoísta e infantil em muitos momentos, ao ponto de beirar o insuportável, mas ela era uma vítima muito mais do que a causa. Marissa era uma menina infeliz que tratava seus problemas e frustrações com qualquer coisa que a pudesse distrair, mas ela cresceu, sofreu e perdeu tudo que podia perder. Coop mudou ao ponto de perceber que tudo que ela achava ser certo era errado e quis ser alguém melhor para os outros mas, principalmente, para si mesma.

Marissa Cooper se tornou uma personagem icônica: foi uma das primeiras adolescentes em uma série tão moderna, problemática, humana, mas, ao mesmo tempo, irresistível. Não é à toa que ela era a personagem mais bem escrita da série e com mais dimensão — mais até do que o próprio protagonista, como dito anteriormente, já que a maior parte dos acontecimentos importantes da série a envolviam, eram causados por ela ou por causa dela.  

Na época em que a série foi ao ar, Mischa Barton já era uma it girl e tinha ficado muito maior do que o programa, o que motivou sua decisão de sair. O problema é que a personagem deveria ter saído com um desfecho bem arquitetado, de forma bem pensada; em compensação, foi morta sem nenhuma chance de voltar em episódios futuros. Cortar a personagem fez um dos finais mais tristes e marcantes da época, mas a impossibilitou de evoluir inteiramente. Marissa Cooper, no fim das contas, nunca morreu realmente. A trama da quarta temporada foi focada no luto dos personagens remanescentes, no que representou e mudou na vida de cada um, na evolução de cada um com a aceitação da perda, mas ela continuou ali até o último minuto. A última cena da série é sua primeira aparição.

Hoje, imagino que ela poderia ser muito feliz longe de Orange County, ainda em contato com Summer, falando com Ryan ocasionalmente quando se encontrassem por acaso, indo na cidade somente para visitar Julie (Melinda Clarke) e Kaitlin (Willa Holland), mas feliz, longe de todos os dramas e emocionalmente mais estável. Imagino que ela se tornou uma pessoa melhor e mais madura com uma vida bem mais calma deixando os dramas e problemas para a Marissa da adolescência, mas a verdade é que nunca saberemos. Como muitas personagens femininas da década passada, ela não teve o final que merecia e muito menos recebeu a atenção que deveria quando sua história se tornou um problema. Até hoje Marissa Cooper está conosco, seja nas adolescentes/jovens adultas que assistiram a primeira temporada e tiveram nela uma inspiração, e ainda sentem uma nostalgia, ou na segunda geração que a conheceu agora, com a série disponibilizada on-line. Todos sabem quem é Coop. Onze anos se passaram desde sua morte, mas Marissa continua mais viva do que nunca.

8 comentários

  1. Texto poderoso. Marissa é de longe a minha personagem preferida, porque ela é o oposto do que se espera de uma mocinha romântica e ainda sim tem um grande coração. Ela está longe da perfeição e é neste ponto que conseguimos nos identificar, ela não é aquele ser passivo e que está envolto em uma aura de perfeição. Gostaria muito que a série tivesse uma oportunidade de mostrar um versão mais madura e equilibrada da jovem Cooper, mas a morte foi um destino dramático perfeito para uma personagem que foi drama do início ao fim. E vida longa à memória de Marissa Cooper.

  2. Gostei do seu texto por me fazer ver as atitudes da Marisa de outra forma, principalmente quando frisou a idade que a personagem tinha, pois por muitos momentos cheguei a ter um ranço grande por ela por sempre se meter em confusão e o ryan ter que a socorrer sempre. Eu acho que ela poderia ter evitado inúmeros problemas se tivesse ouvido mais os conselhos das pessoas que a amavam e sempre estavam com ela, mas na primeira oportunidade que ela via uma garoto problemático ela insistia em ajudar e se dar mal, mas como eu disse esse texto me entender melhor que na idade dela ainda existia inocência e por ela ter um coração bom ela acabava sempre acreditando nas pessoas.
    Meu personagem preferido foi o selth cohen, sem duvidas ele foi o melhor e roubou a cena do protagonista e logo depois a summer. Amo os dois. Série maravilhosa ❤️❤️

  3. Sempre vi Marissa Cooper como a chave para o diretor criar algo interessante para a série, a prova disso foi a 4°temp. onde nada de interessante acontecia, nem mesmo terremotos foram capaz de chegar perto dos acontecimentos com a Cooper.

    The OC é pura nostalgia, relembrar é viver =)

  4. Ótimo texto, cmg aconteceu o inverso assisti quando tinha por volta de 14 anos , não lembro exatamente rs , mas lembro do quanto torcia por Ryan e Marissa e de quanto eu mesmo era apaixonado por ela rs, estou no penúltimo EP no dia de hj, vendo pela Netflix, e pasmem foi difícil pra mim lidar com a morte dela mesmo sabendo que aconteceria, porem assistir com uma mentalidade adulta me fez ter uma outra visão sobre ela, e na minha opinião Ryan era o único que podia ter ajudado ela e creio que era a intenção pro decorrer da série , mas como a atriz saiu não saberemos. Mas queria muito ter visto os dois terminando juntos e bem estruturados e concordo sem ela a série acabou e hallelujah sempre ira mexer cmg …

  5. O Ryan transava e trocava a Marissa p qualquer uma, até pela irmã, ele no entanto implicitamente não queria que ela transasse c + absolutamente ninguém, foi escancaradamente a linha ´´Ryan pode ter um vida sexual ativa c QUALQUER UMA, e Marissa não, isso não é machismo? muita pedra na Marissa, e nada no Ryan, acho q ela ficou ruim depois q Jhony morreu na 3 temporada. mas nos ultimos episódios a arrumaram, a Mãe dela nas 2 primeiras temporadas, tinha um perfil de sociopata, poréeeeeeem suavizado, na 3 temporada a sociopatia da July evaporou, ´é q a série é uma obra de ficção, na vida real é impossível um adulto psicopata, sociopata ficar curado, seria um milagre, nenhum estelionatário c zero empatia, passa a ter empatia e sentimentos do dia p noite, muitas vezes tuuuuuuuuudooooo, todo qnto personagem culpa a Marissa, a Marissa era bem neutra, acho q ela seria o equivalente a uma Sandy, lindissssisssima, porém q bebe, comete furtos e tem um dedo podre p homen. a cagada q ela fez, foi voltar p Ryan, ela acabou sendo uma das protagonistas, em qualquer obra seja, filme, novela, série, é um tiro no pé matar o protagonista, eles não mostraram enterro, nem velório, total falta de consideração c a personagem, sequer mostrou o reaction dos outros personagens ao saber da morte dela, acho q assim, vc não gostava da Marissa, era um desgosto pessoal, de qualquer foi p ela ter morrido q a audiência foi p baixo até cancelarem tdo, não sei pq, mas depois q o Jhony morre na terceira temporada, parece q tentaram sabotar a série.

  6. Texto incrível. The OC foi a primeira série que assisti inteira. Quero assistir novamente, do início ao fim. A morte da Marissa foi um equívoco e não trouxe nada a não ser o desinteresse geral pela série, que foi encerrada uma temporada depois. The OC poderia ter muitas e muitas outras temporadas com a “nova Marissa” nos holofotes. Uma pena. Realmente uma pena.

  7. Eu não assisti na minha adolescência porque tava ocupado demais me divertindo pra ver séries ou televisão de modo geral, estou assistindo agora com 30 anos e tem um ar de nostalgia na série, ta me prendendo bem mas essa Marissa eu acho ela muito infantil e burra pelo menos agora na primeira temporada, e outra coisa não acredito que a série mostre sexo entre adolescentes de forma tão natural, isso na época em que eu era adolescente e as meninas da minha cidade pelo menos queriam casar virgens, sempre teve umas que engravidavam cedo e outras que a galera chamava de putas mas que estavam doidos pra ir pra cama com elas, mas não era uma série que meus pais também me deixatiam assistir com 15 anos…

  8. Sempre imagino que ela certamente teria amadurecido, voltado para cidade e reencontrado Ryan. Nos ultimos episódios ele claramente dava a entender que aguardaria ela passar por esse processo sozinha e esperaria seu retorno. E quando voltasse se encontrariam em berkeley. Se formariam, casariam. Ele seria arquiteto e ela seria uma mulher como a Kirsten. Trabalhando como decoradora e planejadora de eventos, que era no que ela se destacava na escola. Os dois seriam muito felizes, velejando cm seth e summer no barco nas férias com dois filhos loirinhos de olhos azuis iguais a eles. E ela teria dinheiro pra ajudar sua mãe e irmã para que ela pudesse parar de ficar dependendo de homens! Um final mt mais digno e possível. A forma como terminou foi ridícula!

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