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Para todos vocês: Life is Strange

Antes de mais nada, abra seu coração. Se você é acostumado a jogos com objetivos bem delineados, seja salvar uma cidade, encontrar um tesouro, matar bandidos ou fazer 9×2 contra o time do seu amigo, abra seu coração. Se você não joga vídeo games, abra seu coração. Abra seu coração porque Life is Strange chegou para mudar a sua relação com o mundo dos games. E se você abriu seu coração, vem aqui com os pedacinhos dele. Vamos bater um papo.

Tecnicamente falando, Life is Strange é um jogo de adventure, ou seja, seu foco está no enredo — não na ação ou nos gráficos —, que é dividido em cinco episódios. Foi desenvolvido pela Dontnod Entertainment e publicado pela Square Enix (Final Fantasy, Kingdom Hearts, Chrono Cross). O primeiro episódio foi lançado em 30 de janeiro do ano passado e o último em 20 de outubro. Então, em questão de idade, LiS ainda é um bebê.

Deixando de lado os aspecto técnico, Life is Strange conta a história de Max Caulfield, uma estudante de fotografia que, ao ver a vida de uma amiga (há tempos sem contato) em perigo, descobre que tem a habilidade de voltar no tempo. Isso, mais tarde descobrimos, gera um efeito borboleta que é intimamente conectado à ideia de escolha e consequência proposta pelo jogo. Em seu primeiro contato com a habilidade, Max prevê a chegada de um grande tornado em sua pequena e litorânea cidade, Arcadia Bay, e assume para si a responsabilidade de impedir que isso aconteça. Além disso, Max restabelece contato com sua distante amiga, Chloe Price, e as duas partem em busca de Rachel Amber, uma estudante da mesma faculdade e amiga íntima de Chloe, que está desaparecida.

Falando assim não parece muito, e é nesse momento que preciso puxar a carta dos “sentimentos são os únicos fatos” para explicar, com o coração despedaçado, o porquê de Life is Strange ser o próximo jogo que você deveria jogar.

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A história de LiS, que nada tem a ver com todas as outras dos jogos que já joguei, permite algo que poucos outros conseguem: fazer com que você se conecte com os personagens. De verdade. Lá no íntimo da alma.

Aqui entre nós, tenho um problema enorme com enredos onde não simpatizo ou me importo com nenhum personagem. Não importa se é na TV, no cinema, na literatura ou nos games. É preciso me conectar para que a coisa flua. E se você é (ou não) assim também, eu aposto que você vai se conectar com alguma das duas meninas que protagonizam o jogo.

Max Caulfield, a personagem que você controla, é talentosa, um pouco ingênua, socially awkward, e faz piadas péssimas. Max se importa, e não mede esforços pra correr atrás da verdade e daquilo que pensa ser certo. Já Chloe Price, a amiga com quem Max perdeu contato e reencontra no jogo, parece amarga, mas nem sempre. Chloe chora, ri, e não pensa duas vezes antes de falar o que pensa. Chloe é impulsiva, mas seu coração é pintado a ouro.

Nenhuma das duas sabe muito bem o que está fazendo da vida, e toda vez que elas fazem uma escolha errada ou dão de cara com os infortúnios que o destino preparou para elas, a gente sente o baque. É um misto entre querer abraçá-las versus aquele pensamento enfadonho de “será que fui eu que a(s) enfiei nessa furada”?

A amizade das duas, que pode ser manipulada conforme as escolhas do jogador, é uma das mais genuínas relações que já assisti ser trabalhada em um game. O ombro amigo de uma está sempre ali para a outra. Esse fato, por si só, já aquece o coração — e dá chances, também, para mais tarde ele ser estraçalhado. Isso porque, com a graça da escolha e consequência, característica fundamental de Life is Strange, tudo o que escolhemos ou deixamos de escolher vai refletir em algum momento no futuro. Podemos salvar vidas, evitar brigas, ou até mesmo mudar por quem Max se apaixonará no jogo. Tudo isso mediante pequenas decisões que são dispostas no decorrer da trama.

Além do mais, desenvolvemos, no decorrer do game, relações com outros personagens igualmente adoráveis e desajustados — e nos surpreendemos na medida em que descobrimos, de verdade, quem é quem. As relações, por sua vez, podem ser frágeis ou sólidas, e promovem diálogos verossímeis, situações rotineiras, e até mesmo decepções. Tudo é construído e moldado nos conformes de uma relação real — às vezes dá certo, às vezes não; às vezes temos antipatia por alguém e às vezes queremos protegê-las sem nem mesmo conhecê-las. Como na vida real.

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Em momentos decisivos do jogo, é claro, nos deparamos com escolhas irreversíveis que estabelecem o tom que o game levará dali pra frente. E tudo, tudo depende de informações que coletamos ou atenção que damos ou deixamos de dar aos detalhes da história. São nessas horas que sentimos a tensão crescendo, misturando-se com o medo e a angústia de algo dar errado (o clímax do episódio dois e três me deixaram emocionalmente abalada, os olhos marejados, e vale totalmente a pena), ou o alívio quando damos um tiro certeiro e nossa opção não gerou graves danos.

Adicionado a tudo isso, Life is Strange trata de temáticas importantes e relevantes, como a importância (ou a falta de) da família, o uso de drogas, o bullying, o assédio e o abuso e, por que não?, a homossexualidade. No mais, contamos com uma trilha sonora impecável, que confirma a atmosfera indie que cobre Life is Strange. A trilha escolhida a dedo encaixa perfeitamente no jogo e carrega canções de nomes de peso como Syd Matters (responsável por duas das músicas que você jamais desassociará de LiS), Alt-J, Angus & Julia Stone, Foals, Amanda Palmer, entre outros.

Life is Strange é um jogo que faz uma costura sutil, delicada e preciosa entre aquilo que é irreal — eventos naturais bizarros e viagem no tempo — e aquilo que é muito real: a violência tão comum dos dias de hoje e em como a amizade (e o amor) salvam.


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8 comentários

  1. Esse jogo! Meu pai do céu, muitos feelings pra um jogo só. Se preparem pra segurar o choro (ou liberar tudo mesmo). Muito bom texto. <3

  2. Eu acabei desistindo dele no terceiro episódio, acredita? :/ A direção de arte, fotografia e trilha sonora são incríveis! Mas o arrastado na história-chave acabou me desanimando um pouco. Ainda quero terminar, vou arrumar coragem, hahaha. Ótimo post! 🙂

    1. Guria, como assim??? Chocada, hahaha. O final do ep 3 é tão maravilhoso. <3 O ep 5, por exemplo, é super rapidinho, acho que é o mais curto dos 5. Penso que vale a pena tentar mais uma vez pra concluir o game, sabe? Depois que terminei LiS fiquei numa vibe tão boa, apesar de meio tristonha. Embora reconheça que talvez ele seja um pouco truncado, gostei bastante da experiência e acho que no final o saldo é super positivo. Obrigada! :3

  3. Amo esse jogo! Um dos melhores que já joguei. Me envolvi tanto que até chorava de pensar na possibilidade do cachorro do cara do trailer sofrer um acidente. Muito, mas muito envolvente. Espero mais jogos como esse!

    1. Nossa, SIM! Protect doguinhos at all costs. Fiquei com medo real de acontecer algo com ele. 🙁 Pelo menos na minha história deu tudo certo, haha. Também espero muito mais jogos como esse, me tocou muito e foi uma baita de uma experiência. =)

  4. Já jogou Beyond Two Souls ? Também é um jogo de emoções fortíssimas, que tem um final surpreendente….de inicio não se da muito pro jogo…mas ao tempo você vendo a história complexa e tocante que ele tem….e cada escolha leva a um final diferente…..tudo depende de você.
    Super indico esse jogo. É puro amor tbm.

    1. Nunca joguei! Super vou colocar na listinha. Ainda tô meio viciada demais em Overwatch e não consigo largar ele, e tenho This War of Mine na lista dos (supostos) emocionantes pra jogar, mas com certeza vou dar uma procurada nesse aí. Obrigada pela sugestão!

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