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Hayley Williams: a ascensão ou a queda do Paramore?

Foi em Franklin, Tennessee, Estados Unidos, que o Paramore deu seus primeiros passos para se tornar um nome mundialmente reconhecido.  

Em 2004, alguns colegas e amigos decidiram se juntar em prol de uma vontade em comum: ter uma banda. Os primeiros esforços vieram de uma garota tímida (Hayley Williams) que tinha muita vontade de cantar e até então o fazia com um amigo baixista (Jeremy Davis) na forma de covers, e de dois irmãos que tinham muita vontade de tocar (Zac e Josh Farro), um na bateria e outro na guitarra. A equação, à sua época, parecia incompleta, e o pequeno ser também apelidado de Hayles adicionou na receita seu vizinho guitarrista, Jason Bynum.

O Paramore não levou muito tempo — em torno de um ano — para fechar um contrato com a gravadora Fueled By Ramen e produzir seu primeiro álbum, All We Know is Falling, de 2005, que seria responsável por tirá-los do anonimato. Nessa linha do tempo, Jason Bynum deixou seu posto em 2005 e o mesmo foi ocupado por Hunter Lamb até 2008. John Hembree fez uma ponta como baixista em 2005 e, em 2009, Taylor York assumiu como guitarrista. No período entre 2005 e 2009, a maioria das composições eram assinadas por Hayley e Josh que, por um tempo, mantiveram uma relação.

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No entanto, nem tudo são flores e a banda que, até então, parecia pisar em solo firme, começou a ruir.

Seu segundo álbum, Riot!, foi lançado em 2007, e levou o Paramore a um novo patamar: a banda concorreu ao Grammy em 2008, participou da trilha sonora de Crepúsculo e emplacou turnês mundiais. Em 2009, seu terceiro álbum, Brand New Eyes nasceu e, em 2010, dois meses antes da segunda turnê da banda no Brasil, os irmãos Farro anunciaram que deixariam a banda.

Uma mistura de fatores e, aparentemente, mágoas e diferenças fizeram com que Josh e Zac deixassem o grupo e, conscientemente ou não, apontasse o dedo para Williams. Dos motivos para as saída dos irmãos, de tudo foi dito: diferenças religiosas, dificuldade em conciliar relacionamento e banda, que o Paramore havia se tornado uma banda manufaturada de uma grande gravadora, e, é claro, que os integrantes ficavam na sombra da vocalista.

É impossível saber o que aconteceu, mas a questão é que aconteceu e o desconforto era palpável — apesar de que hoje, depois de mais de cinco anos, os irmãos e Hayley terem retomado algum tipo de contato (Zac, inclusive tem aparecido em fotos das gravações do novo álbum). A briga refletiu nas letras da banda, principalmente em Brand New Eyes, composto e produzido durante períodos turbulentos na dinâmica do grupo. Existe muita raiva e até amargor condensado em músicas como “Ignorance”, “Playing God”, “Turn it Off” ou “Feeling Sorry”, e alguns resquícios ainda são perceptíveis no álbum homônimo lançado em 2013.

A história da banda não deixa dúvidas de que, de fato, coisas aconteceram e nem todas foram boas. E como fã de longa data, embora já não a escute com a mesma fervorosidade de dez anos atrás, guardo com muito amor o Paramore e Hayley Williams no meu coração. Meu last.fm não deixa mentir que ainda hoje o Paramore é #1 de reproduções na minha biblioteca musical. Assistir a rachadura, então, me levou a ficar dividida entre dois pólos, mas bastou assistir o que restou da banda dois meses depois para confirmar que o Paramore estava muito bem, obrigada.

Mesmo acusada de estrelismo, Hayley fez um trabalho enorme levando o Paramore para onde ele se encontra. Alguns dirão que a saída de Zac e Josh mudaram o Paramore, ou que o Paramore deixou de ser Paramore em 2010, mas a verdade é que eles ganharam o mundo e a ascensão não deixou de acontecer porque dois membros, por mais importantes que fossem, decidiram deixar essa fase para trás — muito pelo contrário.

É indiscutível que o som do Paramore mudou: se antes era ávido, vívido e pontual — meu favorito —, agora é sonhador, colorido, menos contido, e tudo isso é refletido em suas letras. Mas a sonoridade do grupo não perdeu em qualidade com a saída dos irmãos, menos ainda em suas composições. Em 2013, quando o álbum chamado simplesmente de Paramore foi lançado, o grupo contava com apenas Hayley, Taylor e Jeremy de membros originais, e mesmo assim emplacou alguns hits, dentre eles as animadíssimas “Ain’t It Fun” e “Still Into You”.

Mas as bases do grupo tremeram novamente quando Jeremy Davis anunciou que estava deixando a banda — a princípio, em bons termos, para alguns meses depois discutir dinheiro na justiça em uma ação proposta pela vocalista. Se todas essas saídas foram causadas por Hayley, no entanto, vale discutir até que ponto o Paramore seria o Paramore sem ela. Se, em 2010, fosse ela quem tivesse saído da banda para seguir carreira solo — o que ela poderia ter feito —, o Paramore continuaria a ser o Paramore com outra moça no microfone?

É impossível negar que Hayley Williams construiu uma base de fãs para si mesma. Fez ponta solo em música de outros artistas. Entrou para o squad de Taylor Swift. Lançou produtos com sua assinatura. É tão real quanto o fato de que bandas brigam. E substituem membros. Trocam vocalistas. E a questão que fica no ar é até que ponto a mudança do vocalista muda a essência de uma banda. Queen é Queen sem Freddie Mercury e com Adam Lambert? O Nightwish é o mesmo que era quando Tarja Turunen era sua vocalista? O AC/DC, apesar da tragédia, conseguiu manter seu nível quando Brian Johnson tomou o lugar de Bon Scott, mas será que Axl Rose vai conseguir manter o nível de Brian Johnson?

No fim do dia, o Paramore não seria Paramore sem Hayley Williams. Existiria sem os outros integrantes? Provavelmente não. Deixaria de existir sem a presença dela? Acredito que sim e não consigo pensar diferente. O grupo desmantelou-se e, ainda assim, ela procura cimento para não deixar o prédio cair — e o faz com bastante fé, acreditando que o Paramore ainda tem muito o que trilhar. E tem. Não é a toa que os remanescentes já estão em estúdio gravando seu quinto álbum.

Até Hayley Williams anunciar que irá deixar o Paramore, o Paramore vai existir. Ele vai existir porque existem mais coisas entre o céu e a terra e uma garota que sempre lutou por seus sonhos. Afinal, vocês sabem, “if you give up, you’ll get what you deserve” [“se você desistir, terá o que merece”]. E Hayley Williams, ao que parece, não tem tempo para desistir.

16 comentários

  1. Hayley rainha.
    Mas de fato, qualquer banda que perde seu vocalista sofre um baque imenso e nunca mais é a mesma. AC/DC é um caso extraordinário, uma raridade no mundo da música. O resto a gente sabe como termina.
    Dar uma escutadinha em Last Hope e outras 30 músicas do Paramore agora. :v

  2. O fato é que o vocalista é a cara da banda. Todo mundo sabe disso. E acontece de o vocalista ser grande demais pra banda, e debandar, carregando uma penca de fãs e deixando a banda mendigando atenção. O fato de Hayley ainda carregar a banda na sua carreira diz muito sobre aquele sonho adolescente: que ele ainda existe, e que ela não vai desistir dele. Gosto do Paramore desde que ouvi aquela fadada música em Twilight, não fui fã de carteirinha a ponto de seguir cada passo dos integrantes, mas eu sabia a letra das músicas de cor. Quando ouvi os hits de 2013, admito meu eu adolescente se sentiu traída pelo novo som da banda. Mas paciência, adaptação existe e Paramore ainda faz presença na minha lista no Spotify com força.
    E se Hayley debandar, e os integrantes restantes ainda quiserem continuar, Paramore pode muito bem continuar com outro vocalista. Mas o sucesso – e a grande maioria dos seus fãs – vai seguir a Hayley.

    1. Realmente, mas acho que se acontecesse da Hayley cair fora do barco e eles quisessem continuar com a banda, ela perderia muito da sua essência. Acho que, se algo assim acontecer, é mais fácil eles darem um fim no Paramore e admitir que acabou, do que tentar continuar a banda sem ela.
      Espero que isso não aconteça tão cedo, e espero que a banda retome um pouco mais da sonoridade pré-(álbum)-Paramore no próximo trabalho.
      Beijo!

  3. Nunca fui muito fã de Paramore. Era uma banda boa, com músicas boas, escuto até hoje, mas que nunca tocou meu coração. Sei lá, sempre faltou alguma coisa ali que nunca consegui encontrar ali.

    Porém, contudo, todavia, eu idolatro muito a Hayley. Com menos de 16 anos ela tava tocando no evento que eu sempre sonhei em ir na minha adolescência, o Warped Tour. Era tratada (pelo menos eu via assim), como igual entre as bandas que eu era/sou fã, porque ela tinha o mesmo dom e potencial que eles. Fazendo um som tão bom quanto o deles. Ela foi o que eu sempre sonhei ser quando tinha meus 16 anos e pôsteres de bandas emo/punk na parede. Ela é a alma do Paramore, da mesma forma que o a Gwen Stefani é a alma do No Doubt, e a Shirley Manson do Garbage. Sem elas seriam só mais uma banda.

    1. Eu achava demais acompanhar todas as fotos do Warped Tour na época, ela tão pequeninha e tocando aquele sonho enorme pra frente. Ela me influenciou muito, e olha que eu também tinhas uns pôsteres na parede (mas eram todos de Evanescence e Paramore porque eu era muito monotemática). Concordo demais com ela ser a alma do Paramore, e os exemplos que você usou são bem pontuais. Inclusive, até mencionamos elas no texto que saiu hoje. Gotta love Gwen e Shirley. ♥ Beijo!

  4. Acho que bandas sempre dependem de um frontman/frontwoman. Sem essa pessoa, a banda não é a mesma. Nem sempre essa pessoa é o/a vocalista, mas é a pessoa que mais se destaca e, sem ela, a banda acaba, ou pelo menos muda bastante. No caso de Paramore, essa pessoa é a Hayley. Nothing new under the sun, não sei porquê os caras reclamam tanto. 🙁

    1. Porque o choro é livre, e nesse caso veio mais de dentro da própria banda do que qualquer coisa, né? Foi super triste. Acho que, no entanto, eles tão melhorando?! Não descarto nem a ideia de que talvez o Zac volte pra banda, mesmo que temporariamente. Esperar pra ver.

      Beijo!

  5. Depende da hierarquia que os músicos tem na banda. O Guns n Roses não é Guns sem o Slash, assim como o Oasis se desmantelou sem Noel. Os músicos precisam se destacar individualmente, mesmo que sejam um grupo, mesmo quando não estão atrás do microfone. Hayley tinha mais brilho é é por isso que o Paramore ainda é Paramore quando apenas ela permanece.

    1. De fato, os integrantes todos fazem (ou fizeram) um papel de peso no Paramore e na sonoridade da banda, mas quem realmente dita o tom do grupo é a Hayley. Sem ela, não há Paramore. Parece injusto pensar que ela é a culpada pela saída dos outros.

      Abraços! 🙂

  6. Gostei muito do texto!
    Acompanho Paramore de forma “tímida” ha algum tempo.
    Adoro a Heyley, mas se algo que chateia é que em muitos shows, focam tanto nela que esquecem que quem está no palco é Paramore e não apenas Hayley Williams. Isso incomoda a ponto de a própria vocal já ter reclamado disso, inclusive no Brasil.

    1. Essa era uma das reclamações do Farro (Josh) quando se afastou da banda. É uma pena, de fato, porque eles fazem junto um time e tanto. =( Mas creio que no fim do dia isso aconteça com muitas bandas, o vocalista acaba sempre tendo um destaque a mais.

  7. Ana, eu cresci ouvindo Paramore, curti todos os álbuns mas, como vc disse, foi muito tempo e com o tempo ouvi outras coisas e passei um tempo sem acompanhar de fato a banda mas sempre ouvindo o que havia em minha própria biblioteca, last.fm também não me deixaria mentir.
    Esse ano eu estava saindo aqui de uma vibe indie/folk e voltando aos rocks, aos punks, aos paramores da minha vida e ouvindo muitos shows incríveis que nem sabia que haviam acontecido. Essa semana estava ouvindo as músicas e conheci a música Hard Times. Me deparei com uma musicalidade diferente, uma identidade visual diferente, uma Hayley diferente.
    Não vou mentir, me chocou. Tive a impressão de que Paramore tinha se tornado mais um pop desses que não dá nem pra dizer qual é qual… fiquei muito triste pq a banda é uma das coisas que construiu minha persona enquanto eu me desenvolvia e tudo mais… você saberia dizer o que aconteceu com Paramore? Será que essa pegada pop e eletrônica é o que teremos daqui pra frente? Não mais My Heart? That’s What You Get?
    Obrigado pela atenção desde já.

    :'(

    1. Oi, Nick!
      Eu acredito que eles tão sim tentando novos caminhos e novas sonoridades, têm muitas entrevistas que confirmam isso. Eu não sei se você chegou a ver, mas eu até escrevi sobre o novo álbum deles aqui no site [https://valkirias.com.br/animado-e-cruel-after-laughter-paramore/] e confesso que curti bastante, mas, como eu disse no texto, a banda está BEM diferente, eles mudaram muito nesses últimos anos. Como você é fã de longa data, imagino que tenhas acompanhado muito do que aconteceu na história da banda, então acredito que se você ouvir o álbum novo vai fisgar muito dessa história.
      Não podemos com certeza afirmar que isso vai ser o que teremos daqui pra frente, até porque eles mudam muito né? Mas até agora é o que dá a entender.
      Obrigada pelo comentário!

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