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Girl in Red e o Bedroom Pop adolescente

Meses depois de ir a um show com a melhor amiga — pela qual também estava apaixonada na época — que usava um suéter vermelho, Marie Ulven, de coração partido, comprou um suéter de gola alta vermelho e lembrou da brincadeira que fez com a amiga ao chamá-la de “girl in red”. Com um clique em sua mente, assim nasceu girl in red.

Em setembro de 2017, girl in red lançou sua primeira música chamada “i wanna be your girlfriend”, que conta sobre um amor não correspondido inspirado na mesma menina com quem foi ao já citado show. Na música, o nome da paixão da artista se chama Hannah e já na sua canção de estreia conseguimos ver o principal tema de girl in red, que trata de amor e fascinação, que alguns dizem ser quase obsessão, ao cantar “Oh Hannah/ I will follow you home/ Although my lips are blue and I’m cold” [“Oh Hannah/ Eu te seguirei até em casa/ Mesmo que meus lábios estejam azuis e eu esteja com frio”] e “I don’t wanna be your friend, I wanna be your bitch/ And I wanna touch you but not like this” [“Eu não quero ser sua amiga, eu quero ser sua vadia/ E eu quero tocá-la, mas não assim”].

A carreira de Marie Ulven, de 20 anos, começou com composições em norueguês, sua língua materna, mas logo a cantora percebeu que se sentia mais confortável cantando em inglês. O mesmo aconteceu ao perceber como a indústria tradicional funciona: ao ver que todo o processo de estúdios profissionais era muito lento, ela organizou em seu próprio quarto um pequeno estúdio onde, atualmente, saem tanto suas composições quanto as produções completas de suas músicas. O resultado disso é um som caseiro de bedroom pop que só deixa o trabalho de girl in red mais autêntico.

A música de maior sucesso de girl in red se chama “girls” e tem mais de 307 mil visualizações no YouTube e mais de 7.9 milhões de reproduções no Spotify. Essa é uma ótima canção para conhecer o trabalho de Marie, e é onde ela começa descrevendo um sentimento que não vai embora e que a faz se sentir estranha, cantando no refrão “They’re so pretty it hurts/ I’m not talking ‘bout boys, I’m talking ‘bout girls” [“Elas são tão bonitas que dói/ Não estou falando sobre garotos, estou falando sobre garotas”]. É como se a música tivesse sido escrita para acabar com qualquer dúvida ou opiniões que outras pessoas têm quando se está questionando a própria sexualidade: “I should be into this guy/ But it’s just a waste of time/ He’s really not my type/ I know what I like/ No, this is not a phase/ Or a coming of age/ This will never change” [“Eu deveria estar interessada nesse garoto/ Mas é apenas uma perda de tempo/ Ele realmente não é meu tipo/ Eu sei do que gosto/ Não, essa não é uma fase/ Ou algo da idade/ Isso nunca vai mudar”], canta ela no segundo verso da música.

Assim como muitos jovens da sua geração, Marie não gosta do termo “sair do armário” visto que ninguém deveria precisar sair do armário, mas admite que sofreu muito com a própria aceitação. “Se eu conseguir ajudar alguém a não ter esses sentimentos que eu tive, então esse é o melhor sentimento e talvez a parte mais legal até agora [da minha carreira]”, disse em uma entrevista quando perguntada sobre o que quer com sua música. Apesar de suas canções falarem de sentimentos sobre outra garota, o foco do trabalho de girl in red é o amor e o que vem junto desse sentimento quando se é jovem: “Se eu fosse uma menina hétero e estivesse escrevendo abertamente sobre um encontro com um menino, não teria diferença. Eu acho que é isso o que estou fazendo agora. É completamente normal para mim. Eu estou totalmente ok com a minha sexualidade. Eu amo garotas. Eu amo que eu amo garotas”, disse ela em outra entrevista.

O som singular de girl in red é comparado as trabalhos iniciais de Mitski, no entanto é uma mistura de indie-rock caseiro e bedroom pop que é composto por letras que podem ser comparadas com o diário de uma garota adolescente que está apaixonada por outra garota e que procura por sinais de que seu amor é correspondido em todas as pequenas coisas de seu cotidiano. A angústia adolescente e sem filtro misturado com sentimento cru também pode ser visto na música “summer depression”, em que ela fala sobre depressão: “My worst habit/ Is my own sadness/ So I stay up all night/ Wondering why I’m só tired all the time” [“Meu pior hábito/ É minha própria tristeza/ Então eu fico acordada a noite toda/ Imaginando o motivo de estar cansada o tempo todo”].

Em setembro de 2018, um ano depois do primeiro lançamento, girl in red lançou chapter 1, uma compilação de seus lançamentos durante esses doze meses. Com músicas curtas que totalizam treze minutos do EP, chapter 1 é uma boa introdução do seu trabalho, mostrando que o ouvinte nunca escutou algo tão autêntico quanto o som de girl in red. Apesar de nas entrevistas Marie não conseguir citar inspirações claras para o seu som, podemos perceber que ela se volta muito para a cultura pop como, por exemplo, na música “say anything”, inspirado no filme Digam o que Quiserem, e na música “eleanor & park”, inspirado no livro de mesmo nome da autora Rainbow Rowell, em colaboração com a cantora Beabadoobee. Marie também credita o filme “As Vantagens de Ser Invisível”, seu filme favorito, que a introduziu para músicas mais antigas de artistas como David Bowie, Galaxie 500 e New Order.

Nos últimos meses, girl in red abriu shows de Clairo e de Conan Gray, ambos artistas que compõe para a nova geração de jovens queer. O som de girl in red foi feito para pessoas que sentem demais e que gostam de tratar tais sentimentos sem reviravoltas ou enfeites; são músicas que te levam para o epicentro do sentimento e que não tem o propósito de curá-los ou esquecê-los, mas senti-los e aproveitar todos os seus gostos e sensações.

3 comentários

  1. Recentemente vi falarem sobre ela em um post do Facebook mas não dei muita bola na hora, o que vejo que foi um erro kkkk Eleanor e Park é uma ótima música sobre um ótimo livro, indo buscar o nome dessa cantora no Spotify agora!

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