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A forte e imponente leoa da Holanda, e o que aprendemos com ela

Cada vez mais podemos dizer que foi-se o tempo em que o futebol feminino usava o futebol masculino como muleta. Entretanto, também sabemos que o futebol feminino não anda sozinho. Quando o machismo e a dita superioridade do esporte masculino não estão presentes em grandes escândalos, como agressão verbal a jornalistas e total descaso pela grande mídia, ele está nas pequenas coisas, como a essência da instituição — e digo pequena porque, apesar de essência, ninguém pensa muito sobre ela.

Foi pensando nisso que a Nike, em um projeto em conjunto com a Weiden+Kennedy, mudou o já característico leão da Holanda para uma leoa nos uniformes femininos. E trabalhou em cima de toda a atenção que as “Leoas Laranjas” estavam recebendo da mídia cada vez mais. Você muito provavelmente está se perguntando: mas não é só um brasão? Bom, essa pergunta tem duas respostas possíveis.

Sim, é só um brasão

Para os efeitos: homens, parem de chorar. Toda vez que alguma estratégia de marketing é elaborada em prol de causas que promovem a igualdade de gênero, mesmo que pequenas, tem um inteligente que pode dizer que “desmascarou a marca capitalista que quer usar o feminismo e o mimimi como fortalecimento de branding.” Os homens se veem no direito de reclamar sobre algo mínimo, que vai causar um impacto muito pequeno num esporte que eles assumem que nem assistem.

E aí pergunta: porque a marca resolveu mudar de leão para leoa, né?

Não, não é só um brasão

Pensem comigo se faz sentido uma seleção feminina, já chamada de “leoas”, ostentar no peito um leão. Levando ainda mais para o lado metafórico, já estava na hora de perceber que o leão talvez desse às meninas uma sensação não de pertencimento, mas de que o poder delas vem do nome dos leões. Dos homens. E se a gente pode evitar essa conotação mudando o brasão, por que não?

Na cabeça de quem importa, a das jogadoras, essa é uma mudança importantíssima. Nós já falamos sobre o “modelo Emily Lima” de treinamento, que trabalha o psicológico das meninas para que elas saibam que são peças essenciais, que são valorizadas, e lembrá-las porque elas estão ali em primeiro lugar. A mudança do brasão não é só estética mas também ideológica: é o futebol feminino da Holanda caminhando fora da sombra do futebol masculino, finalmente. De acordo com o site da W+K na página de apresentação:

O novo brasão não apenas reflete os valores e o orgulho de ser parte do time, mas cria um símbolo para todas as jogadoras da Holanda e foca em inspirar uma nova geração de jogadoras a ‘Vestir O Que Você É (Wear What You Are, motto da campanha)’.

O uniforme fará sua primeira aparição na UEFA Women’s EURO (Eurocopa Feminina) desse ano, a ser sediada na própria Holanda, que começa agora no domingo, 16 de julho. Além dessa mudança, a Euro já atrai olhares maravilhados com a atenção ao futebol feminino depois do comercial maravilhoso lançado mais cedo essa semana pelo Channel 4:

A competição, que começou em 1984, era realizada de dois em dois anos até 1997 por uma questão de agenda, afinal as seleções femininas não eram muito expressivas e não costumavam disputar muitos amistosos ou competições oficiais. A partir daí, com a mudança desse cenário, a Euro começou a ser realizada no tempo de quatro em quatro anos com o qual estamos mais acostumados, e um ano antes da competição masculina.

A Seleção da Alemanha é a maior campeã da competição (com oito títulos), e, para esse ano, entra na competição como atual campeã. Ela é a favorita junto às Seleções da Itália, da França e da Islândia. A Seleção Brasileira enfrentou recentemente a Alemanha (perdendo de 3-1) e a Islândia (ganhando de 1-0).