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A face feminina da nova música popular brasileira

Tenho a tendência de ter ideias lindas na teoria das quais me arrependo muito no momento de concretizar. Na hora de escolher sobre o que escrevi este mês, corri cheia de sede ao pote para falar sobre as mulheres incríveis que temos na música brasileira atual, em especial na MPB — algo que eu tenho ouvido cada vez mais. E então sentei para escrever, recorri ao bom e velho Google e ao Spotify, e fiquei paralisada.

A ideia original era fazer uma lista, de forma maravilhosamente fácil de digerir — porque se o que quero (e quero muito) que vocês vençam as barreiras quase inconscientes e socialmente consagradas que muitas de nós temos contra a música nacional, não dá para dificultar. Mas peguei minha lista enorme de vozes incríveis e não consegui escolher; seria tudo ou nada. Achei melhor mudar o formato.

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Minha primeira grande ídola musical, quando eu literalmente mal tinha saído das fraldas, foi Daniela Mercury. Faz anos que não a ouço, mas sempre vai ter um espaço querido no meu coração. A seguinte foi Pitty, que não se encaixa muito bem no texto de hoje, mas vai ter seu momento de aparecer por aqui. Pitty entrou na minha vida em um momento crucial de formação da minha personalidade — pré-adolescente com resquício de rebeldia sem causa — e foi uma influencia essencial em quem sou hoje. Inclusive no fato de ser louca por tatuagens (embora só tenha duas, por enquanto).

Ainda assim, em algum lugar no meio do caminho, me perdi em um mar de homens brancos gringos que não poderiam estar mais longe de me representar. Representação é muito importante. Claro que se homens brancos gringos não dialogassem em nível nenhum com nossos sentimentos, seria mais fácil ouvir o som do liquidificador na cozinha, mas existe algo de muito especial (e, de certa forma, transgressor) em ouvir uma voz feminina, cantando na sua língua. Alguém que poderia ser você, especialmente em um meio que não foi feito para você.

Não é que as mulheres não estejam lá, porque elas estão; em geral elas só não recebem tanta atenção quanto os homens. Na música popular brasileira mais especificamente, existe uma barreira dupla, não só a do sexo como a da falta de visibilidade da música nacional atual nesse segmento. Muitos acham que paramos na Tropicália. Até na Rádio MPB FM, a grande maioria das músicas são resquícios dos grandes nomes mais antigos ou sucessos do passado. Mas existem muitas coisas interessantes sendo produzidas todos os dias vindo de mulheres.

É o caso de Anna Ratto. A conheci por acaso em um evento ao ar livre contra a redução da maioridade penal e foi amor à primeira vista. Embora não seja tão conhecida, na época que a conheci, ela estava nas rádios com “Nem Sequer Dormi”, e agora está com a minha favorita, “Desalento”, e tem bem mais de dez anos de carreira. Ainda assim nunca tinha ouvido falar no seu trabalho e até hoje não encontrei alguém do meu círculo social que conhecesse.

Por causa de uma versão de “Nem Sequer Dormi”, também conheci Roberta Sá, que não é totalmente underground, e puxa para uma linha deliciosa mais próxima do samba. Depois uma amiga me apresentou Blubell, que não canta só em português, mas tem uma voz deliciosa e uma veia meio blues, e a Júlia Vargas.

Em uma pesquisa no Google, descobri que a variedade de vozes e estilos são maravilhosos e infinitos. Tiê, Ana Cañas, Tulipa Ruiz, Maria Gadú, Clarice Falcão, Mariana Aydar, Céu e Mallu, de que em um momento ou outro, em maior ou menos grau, eu já tinha ouvido falar; mas também Alice Caymmi, Ava Rocha, Carol Naine, Anelis Assumpção, Karina Buhr, Bárbara Eugênia, Bruna Caram, Megh Sotck e outras de quem eu nunca tinha ouvido falar. E tenho certeza que de onde saíram essas tem muito mais.

É por isso que achei mais justo e produtivo transformar esse texto em algo mais orgânico, aberto e colaborativo. Como? Criei uma playlist com uma pequeníssima amostra do trabalho de todas essas mulheres que citei acima, e deixo os comentários e nosso contato abertos para acrescentarmos juntos nomes que vocês acham que deveriam estar aí também. Não me deixem sozinha nesse mundo novo e maravilhoso que todas nós deveríamos pelo menos tentar explorar.


** Em tempo: essa lista (e possivelmente esse estilo musical como um todo) está péssima no quesito representatividade racial. Se você tem local de fala e interesse em tratar do assunto, seja bem-vinda para enviar seus textos pra gente. Deem uma olhadinha na nossa página de colaboração para saber como.

9 comentários

  1. Umas quatro, eu já ouvi.
    Pena que o spotify não quer pegar no pc aff … bommm adoro Clara Falcão ♥ Aquele videozin dela e o Tiago Iorc me deixa sonhando, adoro.
    Vou pesquisar as outras, são muitas né… Que bom! #graçasaDeus

    1. Pesquisa, sim, yasnaya. Mesmo que não goste de todas, tenho certeza que aí no meio vai ter algo legal que te agrade! É sempre bom conhecer as coisas bacanas daqui, e que sejam sempre mais.

  2. Menina, você tem que conhecer Ventre! A baterista é uma mulher foda que faz discursos feministas em todas as apresentações. Muito boa a banda 🙂

    1. Muito obrigada pela dica, Júlia. Estou sempre atrás de coisa nova pra ouvir e já estou super animada para conhecer sua indicação!

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