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Crítica: Elle e a desmistificação do estupro

Desde a primeira vez que ouvi falar sobre Elle, filme mais recente do diretor holandês Paul Verhoeven, eu soube que assisti-lo não seria uma tarefa fácil. Ao trazer consigo o peso de uma temática tão delicada e polêmica quanto o estupro, o filme deixa claro que não está disposto a contar uma história agradável e usa a trajetória de sua personagem principal para trazer à tona questões que nem sempre encontram resposta com facilidade – uma experiência que se torna ainda mais traumática quando se transforma em um lembrete cruel da nossa própria realidade como mulher.

Atenção: o texto contém spoilers!

Em sua primeira cena, Elle nos apresenta o estupro sofrido por Michèle (Isabelle Huppert), uma bem-sucedida empresária da indústria de games que é violentada por um homem mascarado e até então desconhecido dentro de sua própria casa. A cena – revivida algumas vezes ao longo do filme, enquanto Michèle tenta entender o trauma que sofreu e fantasia um novo desfecho para o ocorrido – surge inicialmente através de sons, para só então se tornar a imagem do gato da personagem, que observa tudo impassível. Vidros são quebrados e gritos são ouvidos enquanto Michèle tenta, a todo custo, proteger a si mesma de tamanha violação, totalmente em vão. Sozinha e machucada – física e psicologicamente –, a personagem junta, literalmente, os seus próprios cacos e tenta seguir em frente com a própria vida, não como se nada tivesse acontecido, mas com uma naturalidade no mínimo inesperada, que reflete muito da sua tentativa de manter o controle da própria vida em meio a tanta vulnerabilidade.

A naturalidade com a qual a personagem tenta lidar com o trauma é o primeiro passo para desvendarmos a jornada dessa mulher que, desde muito jovem, viu seu nome ganhar as páginas dos jornais e seu rosto ilustrar os noticiários. Seu pai, responsável por um crime hediondo quando Michèle tinha apenas 10 anos, foi condenado à prisão perpétua e não manteve nenhuma relação com a filha desde então. Contudo, Michèle passou a vida inteira tentando reconstruir a própria vida enquanto era duramente acusada por um crime que não cometeu. Ao ser encontrada pela polícia, seminua e coberta de cinzas enquanto ajudava o próprio pai a queimar os vestígios do crime que havia cometido, Michèle foi pintada pela mídia como uma criança psicopata, um rótulo tão cruel que a perseguiu por toda a vida, e foi decisivo em sua decisão de não comunicar a polícia sobre o estupro que sofreu dentro de casa. Após se reconstruir, Michèle não quer ter a sua vida novamente escancarada pela imprensa sensacionalista que busca em tragédias alheias o seu ganha pão. Assim, ela informa ao seu ex-marido, Richard (Charles Berling) e a um casal de amigos (compostos por Anna, interpretada por Anne Consigny, sua sócia e melhor amiga; e Robert, interpretado por Christian Berkel, com quem Michèle mantém um affair) sobre o ocorrido e mantém sua decisão mesmo diante da revolta inevitável de todos aqueles que a cercam.

Além do trauma vivido no passado, outro ponto bastante relevante para a trajetória de Michèle é o fato de ter feito seu nome em uma indústria predominantemente masculina e famosa pela misoginia que, infelizmente, ainda prega: a dos games. Michèle é odiada por seus funcionários ao ponto de, em determinado momento do filme, precisar lembrar a um deles quem transformou a empresa no que é, e que é ela, afinal de contas, quem manda ali. Não por acaso, sua primeira suspeita é a de que o estuprador que invadiu a sua casa seja um de seus funcionários ou um ex-funcionário, algo que parece muito possível, ainda mais em um contexto tão machista. Se o masculino é tido como o gênero superior, é com uma óbvia crueldade que constatamos que Elle não se distancia da realidade e que a possibilidade da vingança e a necessidade de demonstrar poder como ponto de partida para um crime tão brutal é dolorosamente fidedigna.

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Embora tente mascarar a dor e o medo que sente após o crime, Michèle se mantém desconfiada e passa a tentar se proteger de inúmeras formas ao mesmo tempo que tenta manter sua própria individualidade e independência em uma sociedade doentia que tenta de todas as formas provar o contrário. Em uma tentativa de se adiantar a um novo ataque, Michèle agride o ex-marido, assim como, numa outra noite, ela dorme com um martelo ao seu lado – uma cena bastante significativa em mostrar que, por mais que sua forma de lidar com o trauma não seja, a princípio, aquela que julgamos a mais “correta”, as marcas deixadas continuam ali e não vão embora facilmente, se é que algum dia vão de fato. Se a imagem de Michèle não remete inicialmente ao que se tem como uma mulher traumatizada, são suas atitudes que mostram que ele permanece consigo, da mesma forma que acontece com todas as vítimas de crimes tão brutais – um lembrete doloroso do que é ser mulher em uma sociedade machista e patriarcal. Tal qual inúmeras mulheres mundo afora, Michèle passa a conviver com o medo e a insegurança constantes enquanto tenta não sucumbir ao próprio trauma, abrindo mão da mulher determinada e independente que sempre foi em função do horror causado por um homem que, de repente, se achou no direito de entrar em casa, abusá-la sexualmente e depois seguir com a própria vida – aí sim, como se nada tivesse acontecido.

Nesse aspecto, o filme acerta ao apresentar um estuprador que passa longe do estereótipo do bandido em um beco escuro frequentemente associado ao tipo de violência sofrida por Michèle. Patrick (Laurent Lafitte) é um homem branco, casado e bem-sucedido profissionalmente, e que mantém uma relação amigável com a personagem principal – eles são vizinhos e vez ou outra são convidados para jantar na casa um do outro. Em meio à tantos suspeitos, Patrick não parece nada além de um possível novo affair para Michèle. A revelação, no entanto, não chega a ser exatamente surpreendente. Se homens não precisam de nenhum outro motivo além da própria masculinidade para se sentirem no direito de possuírem uma mulher, mesmo – e nesse caso, principalmente – contra a vontade dela, não é um casamento aparentemente feliz e a cara de bom moço que vão determinar quem é capaz de tamanha atrocidade ou não. Além disso, se a maior parte dos estupradores são pessoas próximas às vítimas, Patrick se torna uma representação essencial na quebra do mito existente em torno do estuprador, que é tratado, senão como o bandido no beco, como um homem visivelmente desequilibrado e de postura duvidosa que difere – e muito – da própria realidade.

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Não é uma surpresa então que, após o desfecho do caso, a polícia, introduzida inevitavelmente aqui, assuma uma postura completamente machista. Em sua conversa com o responsável pela investigação que tenta, mesmo de forma velada, voltar a culpa para Michèle, ela é questionada se não sabia em momento algum de quem se tratava. “Quem imaginaria algo assim?”, ela responde, tirando as palavras da minha boca, tamanho o absurdo da pergunta. Será que o fato de conhecer o agressor faz alguma diferença? Tudo bem você se defender de um homem mascarado se você não o conhece, mas se vocês se conhecem então não faça nada? Se ele te conhecia, então tem o direito de fazer o que quiser com você? Embora o filme deixa claro que Michèle foi a vítima e tratada como tal, não deixa de ser revoltante pensar que mesmo diante de uma jornada tão traumática, a personagem ainda tem que provar a veracidade da violência que sofreu.

De uma forma diferente, mas ainda bastante sintomática, a conversa de Michèle com Rebecca (Virginie Efira), a viúva de Patrick, após o ocorrido, é uma prova de que mesmo mulheres muitas vezes encontram resistência em encarar a verdade dos fatos. Enquanto, do outro lado da tela, não restam dúvidas quanto às inúmeras violências sofridas por Michèle, para Rebecca, o marido era uma alma atormentada que finalmente encontrou descanso e não um criminoso. Segundo um relatório a ONU (Organizações das Nações Unidas), a cada dez mulheres, sete já foram ou serão violentadas em algum momento de suas vidas. Ainda assim o estupro e tantas outras violências de gênero continuam a ser tratadas de forma equivocada, além de serem constantemente atribuídas à vítima, alguém que passará o resto da vida lutando contra os fantasmas do trauma que viveu.

Mesmo que o estupro apareça como uma parte fundamental da história, Elle não é um filme sobre estupro, mas sobre a jornada de uma sobrevivente, uma mulher que sofreu uma violência irreparável, mas que encontrou forças para lutar e construir uma nova verdade para si mesma a partir dos cacos que restaram. Embora o uso do estupro como gatilho para a trajetória de Michèle seja uma escolha equivocada, não deixa de ser um alívio ver na tela uma representação que não banaliza o abuso, muito menos relativiza o trauma vivido pela personagem. Seus erros do passado não justificam as violências que ela sofreu e o fato de não ser uma protagonista boazinha e cheia de sorrisos não a tornam merecedora de tamanha violência.

Michèle é uma mulher que merece viver a vida que quiser, ainda que esse pareça um conceito tão utópico numa sociedade que tenta de todas as formas limitar suas mulheres, e seus erros não a tornam uma pecadora, mas apenas uma humana, tão completa e complexa quanto todas nós. Sua jornada termina de forma poética, ao lado da melhor amiga, que de braços dados com Michèle caminha rumo a um novo futuro na vida de ambas. O trauma não está superado, mas juntas, ambas conseguirão encontrar as respostas que estão buscando e encontrar uma saída para superar os próprios fantasmas. Feliz, no entanto, será o dia em que a ficção se assemelhar tanto à realidade que mais mulheres sejam capazes de encontrar a luz em meio as trevas e superar a crueldade da nossa própria realidade.

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14 comentários

  1. porque diabos eu ainda não tinha ouvido falar sobre esse filme?
    Apesar de ainda não ter visto, adorei a analise <3 já vou assistir pensando nas coisas que tu disse.

  2. Olá. Li sua crítica e queria perguntar uma coisa: vc não acha que ele explora demais um prazer da parte da personagem com o estupro? Eu saí muito enojada do filme pq tive a sensação, durante todo o tempo, de q após descobrir quem é seu agressor, se passa aquela noção de uma relação prazerosa com a coisa. Assim como ela mantinha a relação com o marido dá amiga, mesmo o cara sendo um escroto. Enfim, achei uma absurdo chamarem o filme de feminista quando a maior parte do enredo envolve relações altamente abusivas e insinua um prazer dá parte da mulher violentada. Mesmo conduzindo em uma perspectiva de autopunicao (o que tb acho deplorável), achei altamente misógino tratar a relação dá mulher estuprada por uma perspectiva de prazer.

    1. Oi Heloisa, tudo bom? Acho a forma como a personagem lida com o estupro bastante complexa e enquanto assistia, esse foi um ponto que me incomodou demais, mas ao mesmo tempo não sei se a intenção era passar essa ideia de prazer? Honestamente, eu não tenho uma opinião 100% formada sobre esse filme, ele realmente me desestabilizou um bocado e me encheu de questões, especialmente nesse caso porque acho que cabem diferentes interpretações. Mas, no momento, acho que a forma como ela agiu diz muito sobre tentar assumir o controle da situação e a perspectiva de uma vingança, e não pelo sexo em si. Em muitos momentos ela volta na cena do estupro e imagina desfechos diferentes onde quase sempre ela tem uma reação. Então eu acho que esse jogo que ela começa a fazer com o estuprador, por mais doentio que seja, é de certa forma uma resposta sobre tomar as rédeas de uma situação de completa vulnerabilidade. Fora isso, existe todo o histórico com o pai, o que por si só já é um trauma imenso e que diz muito sobre as relações que ela estabelece com outros homens. Não é só a relação dela com o marido da amiga que é problemática: com o marido também é, com o filho também é. Então acho que essas questões respingam em vários setores da vida dela.

      1. Oi Ana: pois é, não percebo uma “perspectiva de vingança” pq ela fetichiza o estuprador. Não existe uma tentativa de se voltar contra ele quando ela descobre quem é o agressor. Acho que a única vingança que podemos encontrar aí é contra o pai e, nesse sentido, o filme ganha em complexidade. Aliás, nisso podemos encontrar uma riqueza no filme, a complexidade da personagem. Contudo, essa construção do personagem, na minha perspectiva, acaba sendo solapada pelo machismo da história. Enfim, filme machista pra mim não desce. Assisto pq sou viciada em cinema, mas não desce…

        1. Não acho que ela tenha perspectiva de vingança, mas também não concordo que o filme trnha mostrado um prazer com o estupro. Concordo com a Ana quando ela diz que a protagonista tenta assumir o controle. Provavelmente pela violência e massacre (da polícia, da imprensa, da sociedade) que ela sofreu desde criança, ela criou uma obsessão por controle, em todos os aspectos da vida. Assim, ela tenta assumir o domínio da situação e inverter o jogo, não como vingança, mas assumindo o controle. O prazer vem dessa perspectiva de controle, quando ela observa ele da janela (porque nesse momento ela já desconfiava fortemente dele), eu acho que ela se dá prazer porque está imaginando dominar ele. E isso fica bem claro quando na cena do porão ela diz a ele: allez-y (algo como: pode ir em frente). Nesse momento ela “tirou o poder dele”, ela está dizendo: você vem porque eu quero. E aí sim, ela tem um momento de puro êxtase, depois que ele já saiu de cima dela, porque ela inverteu a relação de domínio.
          Nem por um momento estou louvando essa atitude ou dizendo que qualquer mulher estuprada agiria assim. Estou tentando interpretar a atitude dessa mulher específica, que viveu esses traumas e escolheu assumir as rédeas em qualquer situação e não se deixar atingir. Ela sabe que sobreviverá, porque já passou por outro inferno e sobreviveu.
          Escrevi quase um tratado sobre o filme, hehehehe.

          1. Eu não consigo ver controle quando ela permanece dentro do contexto do estupro: mesmo nos “encontros” seguintes, se mantém sempre a relação de estupro. Inclusive ele diz isso pra ela, que não consegue se não tiver a violência na relação. Ele precisa invadir, perseguir, agredir e estuprar, senão ele não sente prazer. E ela entra no jogo e permite. Ou seja, inserem um discurso de controle (como se ela controlasse) numa “relação” em que ela participa do desejo dele pelo estupro. Que controle é esse? O controle está em ela topar participar do estupro? Ou seja, só existe prazer pra ele no contexto de violência? E ok ela participar (e gostar) disso só pq supostamente ela controla a situação?

      2. Nem sei se um homem esta “autorizado” a tecer comentários na pagina de voces, mas, preciso registrar que esta resposta da Ana Luiza ao questionamento da Heloisa Helena, mais até do que a própria crítica, resume o que vi no filme. Um trauma na infância que determinou o modo da protagonista ver e reagir ao mundo e às pessoas.

      3. isso foi proposital , tendo em vista que ao analisarmos a personagem , ela apresenta comportamentos de histeria e isso vem acompanhado de prazeres sexuais . é só analisa-la segundo a psicanalise e irá entender bastante coisa .

    2. mas que visão mais superficial das relações humanas! e se ela sentir prazer, qual o problema? ela já tinha uma atração pelo cara, soube que ele a havia estuprado e mesmo assim não teve medo ou nojo dele. Isso não pode existir no mundo real, independente dos valores morais? isso não é digno de ser contado? te dá nojinho? ela é uma personagem extremamente dominadora, faz um de seus funcionários baixar as calças para ela, transa com o marido da amiga sem nenhum remorso, destrata a mãe, subestima o filho… isso existe no mundo, é humano, vamos parar de achar que tudo é uma relação de vitimismo. Isso tudo é verdade assim como o é o fato de ela ter tido uma infância traumática, uma relação familiar conturbada, de sofrer… A grande sacada do filme é justamente tirar esse conforto que sentimos sobre as pessoas e seus estereótipos, achar que uma pessoa que sofre tem que ser empoderada, dar a volta por cima, ter um final feliz. A vida não é assim, a arte não tem finalidade política, aliás, ela não tem finalidade nenhuma… tem seu valor por si própria, sem se preocupar em se adequar aos discursos ideológicos. Os bons filmes são justamente esses que nos perturbam e não necessariamente os que nos “representam”.

      1. Sim, me dá “nojinho” pensar que alguém pode romantizar o estupro: estupro é violência e a romantização de qualquer violência, especialmente da violência sexual, é muito problemática na minha percepção. Estupro é violência, como já afirmei, e não há prazer na violência, a não ser em uma sociedade perversa, falocêntrica e machista. Inclusive, a romantização do estupro é uma da principais razões de a maior parte das mulheres se sentirem profundamente violentadas com filmes pornográficos. E quando eu penso que o estupro é romantizado por um diretor homem, me dá mais “nojinho” ainda… E, me desculpe, “a arte não tem finalidade política” é a frase mais ingênua que existe. Tudo é político, Baby. Esse tipo de afirmação, inclusive, é totalmente política. A romantização da arte, a “arte pela arte” é um discurso construído ao longo do século XIX que retira a política da arte e, na minha percepção, aliena a mesma. A arte é política a todo o momento porque, sendo expressão, envolve perspectivas históricas, visões de mundo e construtos sociais, o que inclui construções sociais machistas e misóginas, como as que identifico em um filme em que uma personagem violentada desde a infância é tratada como uma heroína por não denunciar um estupro e, mais, ter prazer com ele e ser “salva” desta violência, ao final, por um homem (seu filho).

      2. Oi Ana: pois é, não percebo uma “perspectiva de vingança” pq ela fetichiza o estuprador. Não existe uma tentativa de se voltar contra ele quando ela descobre quem é o agressor. Acho que a única vingança que podemos encontrar aí é contra o pai e, nesse sentido, o filme ganha em complexidade. Aliás, nisso podemos encontrar uma riqueza no filme, a complexidade da personagem. Contudo, essa construção do personagem, na minha perspectiva, acaba sendo solapada pelo machismo da história. Enfim, filme machista pra mim não desce. Assisto pq sou viciada em cinema, mas não desce…

  3. Menos viajem pessoal… A personagem simplesmente tem um fetiche uma tara… Verhoeven é foda.. ele vai na contra mão da coisa… Não vão nessa idéinha feminista, etc e tal… o diretor não quer nada disso… Ele quer ver o circo pegar fogo mesmo… Revejam o filme com menos pré-conceito e com um pouco mais de maldade… Q vcs chegam lá! Au revoir

  4. Li os comentários anteriores com a intenção de procurar por algo que chegasse o mais próximo do que realmente senti com o filme…algo que descrevesse o que vi nas entre linhas, de que quando assistimos um filme qualquer, nós buscamos nos personagens uma sustentação do nosso próprio “eu”, nós buscamos uma certa identificação ou ligação inconsciente com o mesmo, e isso parece funcionar nos filmes clichês, mas neste filme você literalmente “flutua” de um pensamento para outro e não chega sequer ancorar em um personagem. O que vi são pessoas, cada qual com uma pequena historia e sua carga emocional amarradas há um passado, o foco recaiu apenas na protagonista e se estendeu de leve ao seus próximos. Sobre então, a vitima e dominadora, (pois é assim que nos é apresentada, duas vertentes opostas) a mesma sofreu um trauma que a seguiu por anos, já em idade adulta, com a prisão do pai ainda, continuou fugindo do que ficou marcado na sua linha de tempo, na medida que anos passaram ela encontrou formas de controlar seus “demônios” opressores, e só sente que venceu verdadeiramente quando o pai morre, e mesmo depois disso a pseudo liberdade a faz entrar numa esfera um pouco distorcida acreditando que é forte a ponto de superar qualquer coisa, acreditar que sempre estará a frente das emoções humanas e muito mais daquelas que ela julga “ingênuas”, de seguir a frente a hora que quiser. E o que vier …virá, não faz diferença. Pois de qualquer forma, as pessoas são decepcionantes, até ela mesma se vê como uma. A hipocrisia parece não existir neste filme (ledo engano, pois a hipocrisia anda de mão dada com a falha humana, moral/ética) e isso é bem fácil de perceber… Então, por capricho da sua vaidade, ela tenta corrigir algumas das falhas mais relevantes na sua vida, suturar as mentiras, revelar as traições, fazer o certo diante da exposição de um crime; aqui acredito que a intenção não era que o estuprador morresse, foi só o acaso, pois o sentimento era de que ele pagasse pelo que fez sendo preso, e a morte dele acabou apenas representando um alivio de uma alma no filme; depois busca curar sua relação com o filho e na engrenagem desta tem a oportunidade de reconciliar uma grande amizade que sempre terá seus valores intrínsecos. O diretor deixa claro que, da mesma forma que existem dias gloriosos para a personagem existem os dias não tão gloriosos assim… e isso se aplica a qualquer pessoa. Cada dificuldade, dor, sofrimento, angústia, medo ou dúvida é uma oportunidade de sermos melhores e enxergar além de tudo isso… de não apenas buscar ser forte o tempo todo, e sim ver certa beleza na escuridão e até mesmo nas nossas fraquezas mais ásperas e dolorosas. E é isso…segue-se para o próximo filme qualquer…

    1. Psicanálise explica! Este filme é baseado em um livro que tem como autor um cara fascinado pela teoria psicanalítica. A semelhança desse enredo com a historia da minha família é bizarra.. eu seria o Filho bobão da protagonista… Ela e minha mãe tem similaridades assustadoras, incluindo o pai que ficou doido e violento, só que no caso do meu avó ele pirou de vez e vive acamado hoje em dia… E pasmem… eu também fui amamentado por uma outra mulher e sempre me identifiquei mais com ela… sério… eu acabei de assistir e to incrédulo das similaridades… filme sensacional!!!

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