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De garota legal a candidata ao Oscar: a queda de Emma Stone?

Emma Stone. Depois de ser interesse romântico na versão geek de Homem-Aranha, fazer a internet cair de amores por suas reações em entrevistas que vivem sendo transformadas em GIFs, ser protagonista de algumas comédias românticas e coadjuvante em outras, e até depois de concorrer ao Oscar por Birdman, finalmente chegou a hora da atriz ter que lidar com outra coisa: os haters na internet.

Não que ela nunca tenha tido que lidar com isso antes, afinal, para ser vítima de haters na internet não é preciso estar nela, nem mesmo ser uma atriz famosa. Mas para alguém que transitou entre a garota cool engraçada que é admirada por seus pares e a garota desejo de filmes voltados ao público nerd masculino, demorou para Emma se tornar um enfado. Isto é: depois de ser admirada e de todo mundo curtir seu trabalho como atriz, ela começa a ganhar destaque demais. Há uma saturação da sua imagem, que acaba criando meio de difusão de ódio também — de repente, qualquer movimento é demais. Mas Emma não foi a única.

Jennifer Lawrence, outra atriz que engloba bastante a imagem de garota cool, engraçada e despreocupada, já passou por isso. Depois de estrelar a franquia Jogos Vorazes e estar em X-Men, ela também passou a ser amada. A mídia a idolatrava, todo mundo achava fofo quando ela tropeçava nos tapetes vermelhos e a atriz até ganhou o Oscar em 2013 por seu papel em O Lado Bom da Vida. Até que ninguém aguentava mais ver a cara dela. Mas o interessante é analisar porque isso acontece e porque surge nas horas mais estranhas.

Outro exemplo interessante é Anne Hathaway. Ela estava fazendo diversos papéis desde sempre, em especial os de mocinha de filmes fofos, até que, ao interpretar Fantine em Os Miseráveis, Anne teve uma experiência forte que, como ela mesma costuma dizer, fez com que se sentisse estranha ao aceitar um Oscar pelo trabalho, em 2013. Na época, isso foi a razão dela ter se tornado alguém de quem não gostar. As tentativas da atriz de disfarçar a situação geraram uma onda de artigos na internet a criticando por ser feliz demais, por tentar demais ser legal, por aparecer demais. Depois, Anne inclusive fez questão de desaparecer do olhar do público, com medo de forçar ainda mais sua imagem.

No caso de Emma, o ponto de virada parece ter sido La La Land. O musical em que estrelam Stone e Ryan Gosling e conta a história de jazz e dança em Los Angeles. A princípio, as reações foram positivas: afinal, a ideia é legal, o filme é bonito, as músicas são boas e o par romântico tem uma química adorável. O problema é que ele foi lançado há dois meses e isso foi tempo demais para a internet. De repente ele foi indicado ao Oscar contra filmes mais densos e tematicamente mais relevantes e começou a receber mais críticas. Não que necessariamente seja o melhor filme — a questão aqui é outra — mas parece que o musical ficou tempo demais em destaque para seu próprio bem.

O mesmo pode ser dito sobre Emma Stone, Jennifer Lawrence e Anne Hathaway. Não que Lawrence não tenha desrespeitado a cultura alheia ao fazer piadas sobre pedras sagradas no Havaí. Tampouco deixa de ser verdade que Emma Stone interpretou uma personagem de origem asiática em Sob o Mesmo Céu (ela, depois, pediu desculpas por ter contribuído para o embranquecimento de papéis em Hollywood) e estrelou filmes do Woody Allen. Ambas, portanto, já tiveram atitudes problemáticas — mas, até aí, é de Hollywood que estamos falando, uma indústria que continua dando trabalho a abusadores, que continuam dirigindo, atuando, produzindo filmes. Só este ano, por exemplo, Manchester à Beira-Mar escalou e gerou indicação para Casey Affleck, mesmo que este seja acusado há anos de assédio sexual por colegas de trabalho.

O estranho é que mulheres — sejam elas as que tentam demais como Anne Hathaway ou as “tipo um dos caras” como Jennifer Lawrence — sempre têm sua queda. Não importa o que elas façam, ao atingir o ápice em suas carreiras, elas sempre chegam às desgraças do público. Mas ninguém reclama que a internet fala demais de um ator. Ou que ele recebe papéis demais. Um ator que atinge o sucesso não tem que passar por isso. Pegue, por exemplo, Eddie Redmayne: depois de ganhar o BAFTA, o SAG, o Globo de Ouro e o Oscar por A Teoria de Tudo, ele foi indicado no ano seguinte por A Garota Dinamarquesa, ganhou o papel de protagonista de Animais Fantásticos e continua querido pela internet. Diferente de Anne Hathaway, ele não teve que dar um tempo para evitar que se cansassem dele.

Talvez Emma Stone ganhe o Oscar este ano. Talvez outras atrizes merecessem mais, mas o interessante será observar o desenrolar após a premiação. Fica a torcida para que ela não aprenda do jeito mais difícil que o sucesso, para as mulheres de Hollywood, costuma significar infâmia.

4 comentários

  1. Sabe quando as coisas acontecem e tu não sabe o por quê?
    Eu pensava na Anne e ficava tipo, não entendo, cadê essa mulher?
    Mais filmes, por favorrr e Jen Law tbm , porque é muito talento aí.
    Bom…
    Interessante a reflexão e me fez entender.

  2. Ué, a Maryl Streep tá no ápice há anos e não virou “garota chata”.
    A Viola Davis tb, que agora só dá Viola pra tudo que é lado.
    A Hermione lá, bombou, é feminista e o kct e até com esse “famigerado demérito” ng odeia ela.
    A Natalie Portman, que bombou em V de Vingança, bombou em SW mesmo tendo ficado na trilogia ruim.
    Até a Daisy Ridley – sim, rolou crítica machista à personagem, mas aparentemente a pessoa da Daisy Ridley não sofre dessa pecha de “garota pop e chata”.

    Será por quê?
    Talvez porque nenhuma delas fique em frente as câmeras se esforçando em fazer caras e caretas pra tentar ser “adorável”, coisa que é especialidade da J-Law, por exemplo.

    Então acho que não é “coincidentemente machismo” que muita gente ache essas 3 atrizes chatas pra kct.

    Xô falar uma parada: toda vez, repito, TODA VEZ que a gente faz isso que foi feito nesse texto – pegar um recorte miudinho de um universo inteiro pra tentar CRIAR um problema sem olhar pro que tá em volta – , de novo, TODA VEZ que rola isso a gente toma no cu. O feminismo toma no cu. Pq é assim que vira pauta vazia. É assim que vira tentar provar o que não existe.

    E o foda é que a gente não precisa disso! Tá cheio de machismo real pra se falar, pra expor! Coisa que tu não precisa fazer recorte pra tentar provar, coisa que é só estalar os dedos e vem trocentos exemplos, cai no colo!

    Desculpa os palavrão.

    1. Sou obrigada a concordar com a Patrícia, por mais que existam casos horríveis de machismo em Hollywood, não sei se esse texto demonstra bem isso. Ali no texto falava que ninguém reclama quando falam demais de um ator, mas isso não é bem verdade. Um belo exemplo é o Johnny Depp, que mesmo antes de haver suspeitas de violência doméstica muita gente já dizia que o cara é e sempre foi superestimado, que ele só interpreta um tipo de personagem e disfarça que atua mal, etc. Enfim, isso de imagem ser desgastada depende de muitos fatores, não só do sexo do ator. Depende da mídia, da forma como o público reage(se fazem ou não um estardalhaço como fizeram com La La Land) e até mesmo do próprio ator. É importante apontar o machismo, mas é imprescindível, na hora de criticar, ter argumentos baseados na realidade geral, e não só em casos específicos.

    2. ”Talvez porque nenhuma delas fique em frente as câmeras se esforçando em fazer caras e caretas pra tentar ser “adorável”, coisa que é especialidade da J-Law, por exemplo.”
      É interessante notar que a maioria dos haters das citadas atrizes são mulheres. Não só essas atrizes sofrem com isso, mas cantoras como Taylor Swift também. Talvez pq mulheres não suportam ver outras se esforçando para agradar Deus e o mundo, homens e mulheres. O que obviamente é em vão, pois homens não admiram mulheres, seja na arte, na ciência ou no esporte. Uma artista jovem se assumir feminista não vai fazer ela ser odiada, pq seu público são outras mulheres jovens que muitas vezes se identificam com isso. Mas as mulheres se irritam vendo outra tentando se encaixar no arquétipo de ”garota legal”, muitas vezes sob ótica feminista. E quando fazemos isso estamos culpabilizando mulheres pelo machismo que elas sofrem.

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