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Abuso não é amor: por que a cultura pop deve parar de romantizar relacionamentos tóxicos

Reflita por um momento: nos últimos anos, quantos relacionamentos abusivos travestidos de romance você acompanhou na cultura pop? De músicas a filmes e livros, a maior parte das produções que consumimos contam histórias sobre belos relacionamentos românticos — até não serem mais.

Lembro-me como se fosse hoje do excitamento causado pela saga Crepúsculo. Eu mesma, ao ler o primeiro livro, fiquei empolgada por um momento até perceber que a história não era tão boa assim e que, o pior de tudo, Edward Cullen, o mocinho, o cavaleiro de armadura brilhante e com presas de vampiro, era um perseguidor. Acho difícil alguém não estar familiarizado com a trama dos livros de Stephenie Meyer mas, por via das dúvidas, vou te refrescar a memória: Bella, nos filmes interpretada por Kristen Stewart, é uma adolescente sem grande ambições ou características marcantes, mas que cai no radar do vampiro Edward, Robert Pattinson nos filmes, dando início ao relacionamento bizarro entre uma humana adolescente e um ser sobrenatural com mais de cem anos de idade.

Utilizando-se do amor como desculpa para seu comportamento inadequado, Edward passa a entrar no quarto de Bella enquanto ela dorme apenas para observá-la, a segue pela cidade e aparece sem ser convidado nos lugares que Bella frequenta para ter certeza de que está tudo bem com ela. Seu comportamento é obsessivo e possessivo, sem contar a quantidade de vezes em que Edward diz, sem meias palavras, que sente um desejo incontrolável pelo sangue da garota.

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Outro exemplo de relacionamento abusivo fantasiado de romance — e que não poderia ter surgido de outra inspiração senão Crepúsculo — é a trilogia 50 Tons de Cinza. Inspirando-se nos personagens de Stephenie Meyer, E.L. James criou a “história de amor” entre a jovem, virgem e inexperiente Anastasia Steele, Dakota Jonhson nos filmes, e o rico, maduro e experiente Christian Grey, vivido por Jamie Dornan nos cinemas. Assim como ocorre em Crepúsculo, Christian sente uma fascinação inexplicável por Anastasia e passa a persegui-la e assediá-la até que a moça ceda e inicie um relacionamento com ele. Também vendido como um romance, só que desta vez erótico e com toda a mitologia do bondage para atiçar a curiosidade do grande público, o que acompanhamos em 50 Tons de Cinza é, novamente, um relacionamento abusivo. Utilizando-se de sua experiência, Christian manipula psicologicamente, agride e, surpresa, estupra Anastasia enquanto os leitores ao redor do mundo acreditam estar acompanhando nada mais do que uma bela história de amor.

Os exemplos não param. A Incrível História de Adaline, que tem tudo para ser um romance fofo de esquentar corações? Pense de novo: o relacionamento entre Adaline (Blake Lively) e Ellis (Michiel Huisman) é abusivo e está tão bem maquiado que, por um momento, é difícil notar — e isso serve para mostrar o quanto o mito do amor romântico mascara abusos, não somente na cultura pop mas também nos relacionamentos da vida real. No caso de A Incrível História de Adaline, logo que conhece a protagonista, Ellis a segue para fora da festa em que estão, mesmo com Adaline não demonstrando interesse, e a força a ficar sozinha em sua companhia dentro de um elevador. Durante o filme ainda podemos ver Ellis a perseguindo no trabalho, a coagindo a se encontrar com ele e ainda aparecendo na casa de Adaline sem ser convidado. O filme vende todas as atitudes de Ellis como apaixonadas e românticas, mas sabemos que isso tem outro nome: a romantização de um relacionamento abusivo.

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Há, ainda, o caso de Esquadrão Suicida, que comprova que mesmo heróis não estão livres do abuso mascarado de amor. Por mais evidente que esteja durante o longa que Arlequina (Margot Robbie) foi torturada por Coringa (Jared Leto) e que toda a sua loucura teve origem nos abusos que sofreu nas mãos do vilão, o longa de David Ayer teima em retratar o relacionamento dos dois como algo romântico. Durante todo o filme, Coringa é mostrado como alguém que se preocupa com Arlequina e quer tê-la ao seu lado, passando o tempo todo tentando salvá-la da A.R.G.U.S. Mas o ápice da retratação romantizada desse relacionamento ocorre quando o Coringa pede uma prova do amor que Arlequina sente por ele, o que termina com a moça mergulhando em um tonel de ácido. Embora a cena seja esteticamente bonita, o conteúdo é terrivelmente problemático: Arlequina se joga no tonel por vontade própria, sim, mas somente por conta da grande influência que Coringa exerce sobre ela. Manipulação, a quem ainda possa duvidar, é uma característica intrínseca aos relacionamentos abusivos.

Os idealizadores de Esquadrão Suicida perderam uma grande oportunidade de lidar com o tema do relacionamento abusivo com as cores e dores reais que algo assim trás para a vida de uma pessoa — bastante diferente do que ocorreu em Jessica Jones, por exemplo. Arlequina, antes do relacionamento com Coringa, era uma respeitada psiquiatra que terminou jogando fora toda a sua vida e carreira em nome de um amor inexistente. Além de ser usada e dominada psicologicamente pelo Coringa, ela é incapaz de enxergar que está presa em um relacionamento nada saudável e muito perigoso, basicamente o que ocorre na vida real com mulheres vítimas de abuso. É comum que relacionamentos abusivos sejam retratados como “apaixonados” na mídia quando, na realidade, são perigosos.

Em Esquadrão Suicida, o relacionamento entre Coringa e Arlequina é escrito para que aceitemos que os dois formam uma dupla de iguais em busca de poder, mas o que David Ayer e sua equipe não parecem entender é que, dentro do relacionamento, Coringa e Arlequina estão longe de ocuparem a mesma posição, visto que o palhaço se utiliza de diversos métodos abusivos como meio de manter seu controle sobre Arlequina e seu relacionamento, tais como a já citada manipulação psicológica, abuso físico e a ideia de que Arlequina é uma posse sua, um objeto, e não uma mulher com vontade própria.

A lista de relacionamentos abusivos glorificados pela cultura pop é gigantesca: Chuck Bass (Ed Westwick) e Blair Waldorf (Leighton Meester), em Gossip Girl, foram um dos OTP mais amados por aqueles que acompanharam o seriado, porém, assim como os exemplos já citados nesse mesmo texto, o relacionamento que o casal desenvolve é abusivo e tóxico. Em Diário de Uma Paixão, originalmente um livro de Nicholas Sparks, Noah Calhoun (Ryan Gosling) coage Allie Hamilton (Rachel McAdams) a sair com ele, caso contrário ele se mataria. Danny Zuko (John Travolta) se preocupa mais com sua reputação do que com a garota que “ama”, o que termina com Sandy Olsson (Olivia Newton-John) mudando completamente sua maneira de ser em nome do relacionamento dos dois em Grease: Nos Tempos da Brilhantina.

Todos esses exemplos vieram de histórias fictícias, de livros e filmes, de personagens inventados, porém a mensagem que recebemos dessas mídias influencia a maneira como pensamos e sentimos em nossos próprios relacionamentos. Romantizar relações tóxicas onde o abuso é vendido como amor impacta diretamente na vida e entendimento de quem consome cultura pop. Pode soar exagerado dizer que aquilo que consumimos em nossos momentos de diversão pode repercutir diretamente em nossas escolhas pessoais, mas somos muito influenciados por aquilo que assistimos ou lemos, por aquilo que é popular nas mídias sociais.

Não é de hoje que a cultura pop trata relacionamentos abusivos como romance e isso apenas perpetua a ideia de que é normal e corriqueiro se ver em uma relação desse tipo. Embora seja impossível controlar a forma como a qual as pessoas interpretam aquilo que consomem, a indústria do entretenimento segue responsável por aquilo que vende. Não tomar o cuidado necessário ao repetir certos estereótipos em seus personagens ou se utilizar de plot devices rasos e sem sentido enquanto reproduzem a ideia de que relacionamento abusivo é romântico serve apenas para fixar a ideia errada na mente das pessoas. A cultura pop tem a habilidade não apenas de mudar sua preferência pessoal por música ou moda, mas nosso entendimento do que é normal ou aceitável em nossas vidas.

Abuso — de qualquer tipo — não é algo a ser romantizado ou fetichizado. De acordo com a ONG Livre de Abuso os números deixam claro que as mulheres, principalmente jovens entre 16 e 24, são as maiores vítimas dos relacionamentos abusivos. Ainda com dados da ONG, no Brasil, mais da metade dos homens de todas as classes sociais já cometeu algum tipo de agressão contra uma parceira — o que explica o fato de que 84% das jovens mulheres brasileiras já tenham sofrido agressão verbal de um homem. E os números não nos deixam mentir: 57% das jovens já tiveram um parceiro que quis controlar suas amizades ou os lugares em que elas iam; 55% delas já tiveram um parceiro que quis acessar ou que acessou seus celulares/e-mail/redes sociais; 47% já foram forçadas a ter relações sexuais com o parceiro; 41% já sofreram agressão física de um homem; 39% das jovens já tiveram um parceiro que quis que elas trocassem de roupa para sair.

Mas como podemos nos surpreender por tais estatísticas quando livros, filmes e seriados de sucesso continuam a glorificar relacionamentos abusivos? Sinais de relacionamentos abusivos — que incluem violência sexual, física, verbal e psicológica, entre outros — são difíceis de serem detectados em situações reais, principalmente quando seus personagens favoritos experienciam as mesmas coisas, que são encaradas como normais. A realidade é que, diferente do que muitos filmes e livros tentam nos vender, abusadores não se transformam em príncipes encantados por meio da força do amor. Está nas mãos dos produtores, diretores e roteiristas mudarem a maneira como tais relacionamentos são retratados, transformando-os em amostras do que é realidade.

Da mesma maneira que dizemos que representatividade importa, um retrato fiel de relacionamentos abusivos também pode ajudar pessoas que se encontram em tal situação, mas não se dão conta disso, a perceberem que estão presas em um convívio tóxico.

Para saber mais:

Relacionamentos Abusivos, na Capitolina – com sinais de abuso em relacionamentos e os motivos pelos quais tantas mulheres sentes dificuldade para saírem desse ciclo de abusos;

Mas… isso também é abuso? no Não Me Kahlo – um texto bem explicado a respeito dos tipos de abuso e a importância de se debater sobre o tema;

Relacionamentos Jovens, na ONG Livre de Abuso – as estatísticas alarmantes da violência contra jovens mulheres em relacionamentos abusivos.

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Sites envolvidos nessa campanha:

Durante os 16 dias de ativismo, sites envoltos pelo #feminismonerd, se propuseram a discutir as problemáticas em torno da representação de mulheres como uma matriz que reitera os discursos de violência e ódio, quanto veículos que visibilizam a discussão. Sabemos que, apenas a exposição e discussões possibilitam o combate direto, a resolução e identificação do problema. Como reitera a escritora e teórica feminista Audre Lorde: “é preciso transformar o silêncio em linguagem e ação.”

Momentum Saga | Nó de Oito | Collant Sem DecoteIdeias em Roxo | Preta, Nerd & Burning Hell | Delirium Nerd | Vanilla Tree | Prosa Livre | MinasNerds | Kaol Porfírio | Psicologia&CulturaPop | Iluminerds | Pac Mãe | Séries por Elas

35 comentários

  1. Uma das coisas que mais me dói é ver mulheres defendendo o Christian Grey, dizendo que ele é um romântico. E vc fica pensando COMASSIM ALGUÉM ACHA ISSO ROMÂNTICO??

    E aí a gente percebe o quanto essa visão foi disseminada por aí a ponto de alguém achar normal o comportamento de um notório abusador de mulheres como Grey. 🙁

    1. Também não consigo entender! Está bem evidente que Grey é um perseguidor e abusador que manipula Anastasia desde o princípio, o relacionamento que eles desenvolvem está muito distante de ser romântico. É uma pena que tanta gente não consiga enxergar o óbvio e só nos restar tentar propagar a informação, quem sabe assim algumas pessoas possam ser desconstruídas. =/

    2. Eu concordo que Christian Grey é extremamente abusivo, não consigo aceitar tudo que ela permite só pra satisfazer ele.
      Mas na minha visão, o livro é bom pra ser debatido, já que entra no assunto da família também. Ele viu muita coisa quando criança e, por mais que tenha crescido numa família boa, trouxe essas cicatrizes. É um livro bom pra mostrar que nem todo monstro se cria sozinho, muitos são espelhos no que viveram na infância.

      1. Nunca li os livros, mas já vi algumas críticas em relação a ele. E acho incrível que a retratação da aversão do Christian às mulheres seja por causa da mãe dele, assim realmente nenhuma criança deve passar pelo que ele passou. Entretanto, pq ele Nao criou aversão pelo pai(pq, novidade ele tmb tem um pai ausente)que pior do que a mãe, abandonou ele. Outra coisa, tem uma personagem nessa história que é um pedofilo, e pelo fato do Christian ser adolescente e ser um homem, não mostram a relação dele com a mulher lá(uma abusadora)como nojenta(ela foi presa? Não). Não adianta querer dá uma de pseudo intelectual que entende das psicológicas pq leu um livro que foi fanfic de crepúsculo, e que foi escrito por uma evangélica defensora da família tradicional. E se essas pessoas disserem que são feministas, querida ME POUPE.

  2. Uma das séries mais populares que tem é a Pretty Little Liars e eu não consigo ver nenhum pingo de romance no relacionamento de Ezra x Aria.
    [Spoiler]
    Ele a seduziu propositalmente, namorou uma menina menor de idade, sendo de maior antes dela e seduziu a Aria de proposito, mentiu pra ela e escreveu sobre ela e as amigas o tempo todo num livro apenas pra fazer sucesso, ele é professor dela… PROFESSOR, MAIOR DE IDADE. E todas as meninas que eu conheço que assistem a série shippam o casal, eu não consigo, eu tenho medo deste personagem. No final mostra ele se arrependendo do que fez e tudo mais pra se redimir e ele foi facilmente perdoado, nossa… isso não me entra :/

    1. Não assisto Pretty Little Liars, mas pelo o que você comentou, Aria está mesmo em um relacionamento abusivo com Ezra. Fica tudo ainda pior pelo fato da menina ser menor de idade e o cara, professor dela. Isso não é saudável – e lá vai a mídia glamorizar e normalizar abuso, é um absurdo.

  3. Acho que faltou o principal, A Bela e a Fera da Disney. Mesmo sendo evidente que a Bela está se sacrificando pela família, das pressões psicológicas ocorridas dentro do cárcere, a Disney e as pessoas romantizam a relação.

  4. Esse problema não é fenômeno apenas da cultura pop. Olha Morro dos Ventos Uivantes (não à toa um livro que o vampiro do Crepúsculo adora) . Um clássico da literatura em que o personagem principal destrói a vida de um monte de gente, a começar da própria ‘amada’ porque levou um pé na bunda e entra em uma espiral de vingança. Em muitos clássicos mulheres não são personagens, salvo enquanto objeto de obsessão masculina. De Helena de Troia às princesas da Disney, a coisa vai mal

    1. De fato não é, mas optei por esse recorte no texto por conta do foco do Valkirias, que é justamente debater sobre a cultura pop. Concordo, “O Morro dos Ventos Uivantes” é um baita clássico, porém Heathcliff e Catherine constroem uma relação super problemática e abusiva, jamais deveria ser vista como um exemplo de história de amor.

  5. Ótimo texto. Só faltou mencionarem Hook e Emma de Once Upon a Time. É grotesco a forma como o relacionamento deles é romantizado. O cara na 3 temporada já tinha dito que deixar mulher bêbada era a ”tática” dele. Entre milhões de outros momentos nojentos, dando em cima de várias mulheres na série fazendo inúmeras conotações sexuais, na 5 temporada ele ameaçou se jogar do telhado se a Emma não aparecesse, humilhou a Emma diversas vezes quando virou o “Dark One”, matou um personagem (Merlin) e a Emma encobriu tudo! A série faz parecer que simplesmente são gestos de amor… rs! Na segunda parte da 5 temporada vemos a personagem totalmente “sem vida” por que o Hook morreu, vai até o submundo para ir atrás dele, por que não pode viver sem ele! Enfim, isso são apenas POUCOS exemplos. Existem muitos outros momentos. Sugiro verem esse post >http://once-upon-a-time-psychblog.tumblr.com/post/142037755512/ive-got-99-problems-and-captain-hook-killian < (está em inglês, mas explica tudo brilhantemente.) É uma pena o que nossa sociedade faz.

    1. Obrigada pelo link, vou ler sim!
      E sim, citei apenas alguns poucos exemplos durante o texto mas dá pra destrinchar relacionamentos abusivos em várias produções, antigas e atuais – o que só prova meu argumento de que normalizar esse tipo de relacionamento nos faz enxergá-los como comuns, o que é completamente nocivo.

  6. Jackson e Lydia de Teen Wolf é um exemplo claro de relacionamento abusivo e tóxico. A Lydia, para não perder o namorado, se fingia de burra e arrogante. O Jackson era um babaca que a chutou na primeira oportunidade dizendo que dos pesos mortos de sua vida, ela era o mais morto de todos. Ele a maltratava, quando ela estava traumatizada por conta do Alfa, ele fez descaso, ele descaradamente dava em cima da Allison, melhor amiga da Lydia, mesmo antes de terminarem.

    E quando o casal não é Canon, são os shipps. Klaroline e Bonkai de The Vampire Diaries: o primeiro tem o Klaus e Caroline e é um dos mais shippados do fandom. Klaus matou a tia de uma das melhores amiga de Caroline, transformou em hibrido e controlou o namorado dela, matou a mãe do namorado dela, fez a vida das pessoas que ela ama um inferno. E as pessoas shippam pois ele é bom com ela e lhe dá presentes e vestidos (detalhe: ele também já a ameaçou e a machucou).
    O segundo, apareceu na sexta temporada e foi bem recebido pela maioria dos fãs. Kai é um psicopata que matou quase toda a família dele antes dessa mesma o colocar em um mundo-prisão e é apresentado ao publico depois de Damon e Bonnie irem parar lá. Ele já havia maltratado-a, mas Damon não deixava ele ir adiante. Porém, quando Damon sai desse mundo, Bonnie se vê presa com Kai que a maltrata, a esfaqueia e a deixa sozinha lá. Depois ele tenta se redimir, mas Bonnie consegue tranca-lo novamente no mundo-prisão e quando ele sai, ele termina de matar a família dele e tenta matar a Bonnie, além de liga-la a Elena, melhor amiga dela. Enquanto Bonnie viver, Elena ficará “morta”.

    Outro casal, não Canon, porém shippado, é Maleo de Teen Wolf. Theo é um sociopata que só liga para os próprios interesses e que quase matou os amigos de Malia, sem contar que já atirou nela e a entregou para a mãe dela que queria mata-la. E nas promos da season 6, já vimos ele atirar nela de novo, ou seja, continua o mesmo.

    É incrível como as pessoas tendem a romantizar relacionamentos abusivos (The Vampire Diaries está cheio deles). Não é legal, não é romântico e é assustador paras as reais vitimas que veem pela internet essa romantização horrível de algo bem cruel.

    Parabéns pelo ótimo texto!

    1. Obrigada pelo comentário, Andreia!
      Não assisto Teen Wolf, por isso não pude citar durante o texto, mas por tudo o que expôs só posso concordar com você. The Vampire Diaries acompanho e, de fato, a maior parte dos relacionamentos amorosos do show é tóxico e complicado. Eu, no lugar de Elena, jamais me apaixonaria por Damon, ele matou o irmão dela minha gente, COMO ASSIM. A CW não acerta mesmo.

  7. O filme da Amélie Poulain entra nesse rol de idealização do amor. Principalmente a parte que fala que a mina só podia ser feliz com um homem é que tinha que fazer tudo pra ficar com ele.
    Questiono demais esse filme.

    1. Vou dar uma olhada melhor nesse filme, assisti há tanto tempo que não me lembro mais com detalhes. Obrigada pelo comentário!

  8. A Resposta é simples : é o que vende , toda história necessita de um conflito , e nesse a vulnerável sempre é a mulher e será se não pararmos de consumir filmes como esses .

  9. Eu acho importante a gente perceber que há uma diferença entre relacionamento abusivo e evolução de personagem. Veja bem, não shippo Klaroline, mas se o Klaus é o vilão, você espera que ele jogue flores na cabeça de todo mundo ou que faça, de fato, maldades? Alguém começar assim não quer dizer que não possa mudar. Se assim fosse, as séries/os livros não teriam tanto material; é com base nesses desvios de conduta que eles evoluem as histórias até chegarem ao fim. Obviamente, muitos de casais citados nos comentários e no texto são mesmo abusivos, mas outros acho que não se encaixam. E devemos tomar cuidado com isso.

    1. Mas é justamente esse o ponto, isso não acontece na vida real e as pessoas continuam em relações abusivas pela romantização do abusador e de uma ilusão de que ele vai mudar, respaldada por visões abusivas.

  10. Tá, mas em relação a coringa e Arlequina, eles sempre deixaram claro tanto em HQs e etc que o coringa não tá nem aí pra Arlequina, e que realmente o relacioname to deles não é nada bonito.Tanto que uma das cenas deletadas do filme é do coringa batendo nela.
    Quem assiste esses filmes, geralmente ja está ciente do tipo de conteúdo , não tem nada de maquiado ali não.É a violência nua e cria mesmo.

    1. Com relação ao Coringa e Arlequina optei por focar apenas no filme – nem todo mundo tem acesso aos quadrinhos ou se importa com o que ocorre lá. Não dá pra negar que os filmes possuem um alcance muito maior do que os quadrinhos, sendo exibidos para gente que não liga muito para esse universo e, portanto, a mensagem deve ser passada de maneira coerente. Eu assisti a versão estendida do filme e tem inclusive a cena de tortura com choque e aí fica a questão: que tipo de mensagem eles estão passando com isso? Primeiro mostra a agressão e depois Coringa correndo para salvá-la, mostrando que se importa. Não é uma mensagem incoerente?

  11. Discordo fortemente que essa ampla variedade de mídia fictícia que destaca relacionamentos conjugais tóxicos sirva “apenas para fixar a ideia errada na cabeça das pessoas”. Podemos variar nossas lentes de apreciação e estimular conversas que experimentem várias perspectivas sobre essas ilustrações fictícias. São casos absurdos? São. São casos fantasiosos? São. A música é repleta disso também. A poesia. A pintura. As artes plásticas. Uma lente fértil pra olhar pra tudo isso é entender COMO NÃO se relacionar. Outra lente fértil é compreender COMO podemos aprender a verdadeiramente zelar pelo sujeito conjugalmente amado E como aprender a verdadeiramente SE zelar e amar. Se na vida real fazemos uma campanha cada vez mais forte de empoderamento à mulher, talvez seja urgente aderir a essa campanha uma proposta de transformação ética na consideração dos afetos. Amizades podem se tornar tóxicas sem ninguém dar conta, famílias muitas vezes são um tonel de ácido nas quais não pedimos pra nascer e (de)crescer. Não é só na escolha de um “amor”. Ética e afetividade andam mais juntos do que julgamos. Se os retratos fictícios servem “apenas para fixar ideia errada”, o que diríamos de biografias e documentários-denúncia?

    1. Claro que o relacionamento abusivo pode ser debatido em diversos âmbitos, não apenas na cultura pop. O recorte do texto foi especificamente esse, porém poderia ter sido escrito sobre diversos outros meios, diversos outros focos. Claro, também, que pode gerar um debate interessante sobre como NÃO proceder, mas não vemos isso acontecendo tanto quanto gostaríamos.

      1. Podemos estimular! O espectador é tão importante quanto o apresentador de um conteúdo cultural. Amy Sherman-Palladino propôs Gilmore Girls e Carole King, uma mulher tão dona de si, percebeu que podia transformar o que veio a se tornar um de seus maiores sucessos em algo que de fato condiz com suas posições feministas. E foi a partir dessa transformação em conjunto com a condução da série que Where You Lead se tornou tão impactante e positivamente significativa. Ouço falar mas não conheço Jessica Jones e me parece que veio pra dialogar com novas demandas culturais e feministas. Por que não?

        1. Jessica Jones é um exemplo muito bom, inclusive linkei um texto aqui do site mesmo sobre a série e tudo o que ela trouxe de positivo para esse debate. Estimular esse tipo de diálogo é essencial se queremos que as coisas mudem daqui pra frente. (:

  12. Li Crepúsculo quando tinha 15 anos e nem prestava muita atenção sobre essa questão de relacionamentos abusivos, mas pensava que Edward tinha uma relação de poder e até de autoridade sobre Bella.
    Li de novo esse ano, aos 22, com faculdade praticamente concluída e um crescimento pessoal imenso e percebi que não é assim. Ao contrário do que uma leitura superficial possa transparecer, Bella está no comando. Ela que decide por começar o relacionamento e continuar com ele apesar de tudo. Quando, em Lua Nova, Edward termina o relacionamento deles, a única decisão que ele toma, ele entende que ela não tem nenhum motivo para querer vê-lo de novo, mas uma vez que ela entende seus argumentos ela decide que vai ficar do lado dele, quer ele queira, quer não. O casamento é um pedido dele que ela decide acatar, a festa um pedido de Alice. Mais importante: a gravidez, de riscos terríveis e conta a vontade de todos, dele inclusive, é ela quem decide manter.
    Sei que não é uma leitura popular entre os críticos e nenhuma obra-prima. Mas numa análise profunda dos livros (dos livros porque o Edward dos filmes é completamente diferente, talvez uma tentativa da produtora de aumentar sua importância, tanto que, várias frases de Bella são ditas por ele) veremos que Bella não é submissa coisa nenhuma, e muito mais poderosa do que a gente dá crédito. .

  13. “Estupra, Anastácia” ??? Independente de tudo isso eu gosto muito dessas estórias, acho a escrita e os filmes muito bons. Cansada de filmes machistas onde só o homem é mais forte, onde só há super heróis masculinos! É ficção tudo isso e só vai no embalo quem quer!

    1. É ficção, sim, mas como disse no texto, muito do que consumimos enquanto entretenimento tem o poder, sim, de nos moldar. Em momento algum disse que é errado gostar ou consumir tais livros e filmes (eu mesma só posso comentar daquilo que li e assisti, não concorda?), o que estou debatendo no texto é como essas mídias são capazes de normatizar e glorificar comportamentos abusivos e como isso é perigoso.

  14. Maravilhoso o texto. Eu era uma das que pensava que 50 tons não tinha “problema”. Eu nunca gostei dessa temática bdsm, mas pensava que a Ana tinha feito uma escolha por ela mesma. Na época eu não conseguia enxergar toda a manipulação emocional porque eu imaginava que um relacionamento abusivo era só agressão física. Quando eu comecei a ver todas as faces do relacionamento abusivo foi como se tivesse caído uma venda dos meus olhos. Eu amo ler, mas na maioria dos romances se tem abuso, inclusive físico. Eu lembro quando eu era criança e assistia uma novela que a mocinha foi sequestrada pelo mocinho “por amor” e eu achava que aquilo era algo extremamente romântico. Hoje graças a tantas mulheres como você que se propõe a falar sobre isso eu sei o que é abuso e me recuso a consumir isso seja em livros, filmes ou novelas. Espero que muitas outras mulheres possam abrir seus olhos para essa realidade também!

    1. Josi, muito obrigada por esse comentário tão gentil! Aos poucos a gente vai abrindo os olhos e descobrindo as reais cores dos relacionamentos abusivos, né? Ninguém nasce sabendo de tudo e é sempre importante buscar evoluir e aprender cada dia mais. 🙂

  15. Eu passei por um relacionamento abusivo, abandonei amigos, abandonei planos, cheguei ao fim da picada de ter que emprestar grana para o traste, aguentei o ciúme dele (ele sabia que era ruim p caramba e q eu conseguiria alguem melhor em qualquer esquina, pena q eu nao percebia isso). foram 2 anos de relacionamento abusivo, brigas, ele me colocava p baixo. Mas busquei ajuda com terapia religão e me livrei desse traste. Ele correu atras de mim 1 ano até que eu arrumei um novo namorado (uma benção na minha vida, estabilizado emocionalmente e financeiramente, que faz tudo p sermos felizes).

    1. Sinto muito que você tenha passado por isso! Não é mesmo fácil se desvencilhar de um relacionamento abusivo, mas fico feliz em saber que você conseguiu. (:

  16. O texto é muito bom, acho que é segunda vez inclusive que li ele!

    Só uma sugestão, já que o assunto é sempre pontual, mas já que estamos tão rodeadas de péssimos exemplos de relacionamentos, seria interessante ver exemplos de bons relacionamentos na cultura pop.

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